9 de julho de 2025
Politica

Rubens Teixeira Scavone

Em 8 de julho de 1925, em Itatiba, nasceu Rubens Teixeira Scavone, filho da primeira mulher eleita para a Academia Paulista de Letras, Maria de Lourdes Teixeira. Seu pai, Hermelino Scavone, conhecido na família e na intimidade por “Bilico”, era um homem de vasta cultura. Perdera a vista na infância e fora educado na Suíça. Em virtude disso, durante toda a vida, houve quem lhe fizesse leitura e conhecia profundamente a literatura universal.

Pertencia a um tronco tradicional: os Scavone, amigos dos Matarazzo (daí o nome Hermelino). Luis Scavone, pai de Bilico e avô de Rubens, foi um industrial pioneiro em Itatiba. Fósforos, indústria textil e até casa bancária – “Banco Scavone” – eram as credenciais de uma das famílias mais ilustres da região, dignos representantes da Colônia italiana.

Rubens cresceu, portanto, em meio aos livros. Aluno das Arcadas, bacharelou-se em 1948 e sempre escreveu para jornais acadêmicos – Folha Paulista, no Limiar das Arcadas, Calíope – e depois para o Correio Paulistano, Folha Acadêmica, editada pela Folha de São Paulo, publicando também artigos em vários jornais do interior.

Ingressou no Ministério Público em 1949 e foi Promotor em Taubaté, Rancharia, Jaboticabal, São José do Rio Preto e São Paulo. Em 1961, já era Procurador de Justiça. Lecionou Direito Internacional Privado, Processo Penal, Sociologia Jurídica e Criminologia, no Mackenzie, em Sorocaba e São Bernardo do Campo. Chegou a ser Corregedor Geral do Ministério Público, onde se destacou por sua vocação de polímata.

Destacou-se na produção intelectual, elaborando ensaios, peças jurídicas, inúmeros artigos e livros. Mais de uma dezena de livros editados, além de prefácios e textos para o Clube do Livro. Conhecia artes plásticas e era chamado a colaborar com periódicos tais como Planeta, Américas, Manchete. Autor frequente no Suplemento Cultural de O Estado de São Paulo.

Tornou-se pioneiro na ficção científica brasileira e publicou “O homem que viu o disco voador”, “Degrau para as estrelas”, “O diálogo dos mundos”, “As planícies cinzentas da lua”, “A bolha e a cratera”, “Além do tempo e do espaço”. Continuou com “O Livro e a Antípoda”, “Clube de Campo”, que conquistou o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro em 1980, considerado o livro do ano. “Morte no Palco”, “A noite dos três degraus” e vasta e intensa contribuição como crítico literário de personalidades mundiais como Hemigway, Faulkner, Fitzgerald e Caldwell.

Era conhecedor da boa mesa, dominava a gastronomia e a ecologia. Conhecia os melhores vinhos. Cinéfilo, gostava das boas produções da Nouvelle Vague e do cinema italiano em sua melhor safra. Jogava tênis como profissional. Um homem elegante, refinado, a transitar desenvolto na sofisticada sociedade internacional.

Sua importância nas letras paulistas o conduziu à Academia Paulista de Letras, sendo eleito para a Cadeira 18, cujo patrono é Antonio de Toledo Piza e Almeida. Tomou posse em 15 de setembro de 1988. Entre 1995 e 1998, foi Presidente da Academia.

Aproximei-me dele por obra de sua tia, Rosa Scavone, que foi minha madrinha de casamento. Ele já era uma celebridade na cultura brasileira e um nome respeitado no Ministério Público Bandeirante. Rosa quis nos aproximar. Fiquei amigo de Rubens, depois de ter sido seu discípulo. Introduziu-me na literatura e me fazia ler muitos livros, depois cobrando comentários. Educou-me na leitura de autores que eu não descobriria não fora por seu intermédio, como Leonardo Sciascia. Passei a frequentar sua casa, tornando-me amigo de sua esposa, Maria Eugênia e de sua filha Maria Sílvia.

Na primeira vez que fui a Londres, entre 1975/1976, encarregou-me de levar uma encomenda a seu filho Márcio, que ali residia. Aqueles presentes de pais saudosos: pó de café, goiabada, cocada, paçoquinha e guaraná. Acompanhei a fase em que foi se debilitando fisicamente e o visitei algumas vezes, com Lygia Fagundes Telles, que o estimava e admirava bastante.

Fui um dos entusiastas da candidatura de Márcio Scavone para a Academia Paulista de Letras, preservando a dinastia que teve início com a autora de “Rua Augusta” e que, além de Rubens, teve José Geraldo Vieira, segundo marido de Maria de Lourdes e que Márcio considera um querido avô.

Rubens Teixeira Scavone faleceu em São Paulo, em 17 de agosto de 2007. Hoje estaria completando cem anos. Mas sua memória e seu legado continuam vivos.

 

 

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