Desconstrução de estereótipos masculinos: cuidar dos homens também é promover a igualdade
As mulheres foram historicamente alijadas dos espaços de poder, decisão e fala, sendo sistematicamente silenciadas e sub-representadas em diversas esferas sociais. Estereótipos de gênero — ideias preconcebidas e generalizadas que funcionam como rótulos sociais impostos aos indivíduos, determinando o que é considerado apropriado para cada gênero, mesmo que essas imposições sejam irreais e desrespeitem a individualidade — são justamente um dos pilares da exclusão estrutural que contribuiu para a perpetuação de profundas desigualdades e para o desdobramento de múltiplas formas de opressão contra as mulheres. Além disso, mulheres são as principais vítimas da violência — seja ela doméstica, pública ou institucional —, o que reforça a urgente necessidade de implantação de medidas afirmativas que garantam sua proteção e participação plena na sociedade.
Por outro lado, se os estereótipos de gênero sustentam os padrões de desigualdade em relação às mulheres, também impõem, histórica e culturalmente, aos homens um modelo rígido de masculinidade — fortes, invulneráveis, provedores, dominadores e emocionalmente contidos. Esses rótulos limitam a liberdade individual dos homens e promovem seu adoecimento físico e mental, restringindo a busca por cuidado e dificultando a expressão emocional.
Cuidar da saúde física e mental dos homens, independentemente da existência ou não de recortes de vulnerabilidade, é uma questão de direitos humanos. Ademais, a desconstrução dos estereótipos masculinos é uma ferramenta poderosa no combate à violência de gênero. Homens que lidam com suas emoções, que são empáticos e que se libertam da necessidade de exercer poder sobre os outros tornam-se grandes aliados na luta contra o machismo e a opressão das mulheres. Em suma, promover o cuidado com os homens é também uma forma de proteger as mulheres.
O recente veto irracional a um evento direcionado ao público masculino, que seria promovido por uma respeitada entidade pública com o objetivo de fomentar o lazer, o bem-estar e a saúde dos homens, acende um alerta. Parece faltar, a uma grande parcela da sociedade, a compreensão de que a igualdade de gênero também passa por libertar os homens das amarras de uma masculinidade que os adoece e, muitas vezes, os torna agentes de dor.
É fundamental compreender que a atenção às pautas masculinas não deve ser entendida como uma negação das lutas femininas. O avanço na implementação dos direitos das mulheres, além de urgente, é inegociável. Garantir o direito ao cuidado dos homens não invalida essas conquistas; pelo contrário, amplia os mecanismos de promoção da igualdade social.