Fachin terá desafio de neutralizar atuação de trio de ministros para comandar STF
Edson Fachin chega à presidência do Supremo Tribunal Federal em setembro com o desafio de despersonalizar a Corte. Hoje, três ministros detêm o protagonismo no tribunal: Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Flávio Dino.
Com declarações públicas, decisões judiciais impactantes e profícua interlocução com a política, o trio hoje se sobressai não apenas no noticiário, mas também nos bastidores do STF.

Moraes, que será o vice de Fachin, tem posição de liderança no tribunal especialmente por dois fatores: as decisões sobre ataques antidemocráticos e a trama golpista, que receberam apoio da maioria dos colegas; e o fato de conversar bem com todos – inclusive com André Mendonça, de quem diverge ideologicamente.
Mendes sempre teve bom diálogo no Congresso Nacional. Nas crises, toma a dianteira para desatar nós institucionais. Esse tipo de atitude eventualmente ofusca o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso. Em maio, jantou com líderes da Câmara dos Deputados para distensionar a relação entre os Poderes em torno das emendas parlamentares. Barroso não estava presente.
O decano é também o anfitrião do Fórum de Lisboa, que reúne autoridades do governo, do Congresso e do Judiciário. A edição deste ano foi palco da tentativa de negociação política em torno da novela do IOF. O ministro costuma convidar colegas para palestrar no evento e, assim, conquistar ainda mais influência interna. Este ano, cinco foram a Portugal: Barroso, Mendonça e o “triunvirato” do tribunal.
Dino chegou ao STF há pouco mais de um ano com bagagem política sólida. Está entre os ministros da Corte mais próximos de Lula, junto com Mendes e Moraes. Ganhou os holofotes com as decisões que condicionaram o pagamento de emendas à transparência e rastreabilidade dos gastos. Emparedou o Congresso quando cortou as transferências de dinheiro, diante de abusos dos parlamentares.
Discreto e avesso a declarações públicas, Fachin quer intensificar a relação com os colegas para assumir o comando real, e não apenas a presidência oficial do Supremo. Uma das táticas é elaborar com os ministros a pauta de julgamentos. Hoje, Barroso faz isso sozinho.
Fachin tem planos de conferir protagonismo ao tribunal, não aos ministros que o compõem. Logo que assumir o cargo, terá a missão de defender o STF dos esperados ataques pós-julgamento de Jair Bolsonaro pela trama golpista. A decisão final, provavelmente pela condenação, é aguardada para setembro.
Já no primeiro desafio, o novo presidente vai precisar do apoio dos colegas para evitar que declarações e iniciativas individuais ofusquem sua tentativa de liderança.