10 de julho de 2025
Politica

Inteligência artificial na advocacia: limites e responsabilidade

A Inteligência Artificial (IA) vem ocupando um espaço crescente – e significativo – no cotidiano dos escritórios de advocacia. Com suas diversas aplicações, como a automatização de tarefas repetitivas, otimização do tempo e apoio na definição de estratégias, a tecnologia tem se mostrado uma ferramenta promissora e facilitadora do dia a dia. No entanto, é fundamental lembrar que ela não é uma solução mágica ou autônoma, pois sua eficácia depende, diretamente, da base sobre a qual é aplicada.

A adoção da IA só gera resultados consistentes quando há estrutura para sustentá-la. Escritórios sem fluxos bem definidos, dados organizados ou cultura de gestão baseada em indicadores podem enfrentar dificuldades ao tentar acelerar processos que ainda não foram adequadamente estruturados. Por conta disso, antes de buscar eficiência tecnológica, é necessário investir em organização e clareza operacional, pois só assim a IA pode cumprir um papel estratégico.

Não é de hoje que a tecnologia tem sido pauta constante e cada vez mais presente em congressos, debates, seminários e eventos voltados ao setor jurídico. Em painéis e mesas-redondas, especialistas discutem a aplicação de prompts e modelos de inteligência artificial generativa, apresentam estudos de caso e promovem reflexões sobre o impacto dessas inovações nas rotinas dos profissionais do Direito. Ferramentas tecnológicas são demonstradas ao vivo, proporcionando aos participantes uma visão prática e acessível das possibilidades de automação, análise de dados e tomada de decisão assistida por algoritmos. Além disso, novas soluções desenvolvidas por lawtechs e legaltechs são compartilhadas como exemplos concretos de transformação digital em escritórios e órgãos do Judiciário.

Esse movimento não apenas revela o crescente interesse pela interseção entre o Direito e a tecnologia, mas também evidencia uma mudança de mentalidade no setor. O Direito, historicamente mais conservador e tradicional, está agora buscando se reinventar, acompanhar as transformações sociais e econômicas, e adaptar os seus modelos de trabalho às exigências de um mundo cada vez mais digital e dinâmico. Essa evolução é fundamental para garantir maior eficiência, transparência e acesso à justiça, bem como para preparar os profissionais jurídicos para os desafios e oportunidades do futuro.

Mas, diante desse avanço, é importante refletir: estamos tratando a IA como um recurso que potencializa a atuação jurídica ou como um substituto de competências humanas que continuam sendo essenciais?

A pergunta que me surge é: até onde nós, advogados e advogadas, queremos o auxílio da IA para atingir o fim social da advocacia e manter o compromisso com a justiça?

Para mim, a advocacia permanece uma atividade essencialmente humana. Exige escuta ativa, análise cuidadosa, empatia e construção argumentativa. Por mais avançada que seja uma ferramenta tecnológica, ela não substitui o repertório, o julgamento crítico e a sensibilidade do profissional. A força da IA está em complementar essas qualidades, e não em suplantá-las.

Outro aspecto relevante é o impacto da IA na formação de novos profissionais. Em muitos escritórios, tarefas como a elaboração de petições e defesas já estão sendo automatizadas, restando aos profissionais apenas a etapa de revisão. Contudo, embora essa prática possa aumentar a produtividade, ela pode comprometer a qualidade da aprendizagem.

O desenvolvimento do raciocínio jurídico exige mais do que revisar textos prontos. É preciso compreender os casos, pensar estratégias, construir argumentos. Esse aprendizado é construído por meio da prática, do erro, do debate e da revisão constante. Portanto, mesmo em contextos altamente tecnológicos, é essencial preservar espaços que favoreçam a formação jurídica desde o início da carreira.

A inteligência artificial já é parte do presente da advocacia, mas o modo como ela será integrada ao exercício profissional é o que determinará seu impacto. Com responsabilidade, intencionalidade e equilíbrio, é possível promover uma prática jurídica mais eficiente, estratégica e, sobretudo, comprometida com a Justiça.

 

 

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