9 de julho de 2025
Politica

PT que Edinho assume tem bancada federal mais velha e feminina e desafio de levar Lula à reeleição

BRASÍLIA — Mesmo tamanho, menos jovem e mais feminino. O Partido dos Trabalhadores (PT) passou por transformações entre o começo e o fim da era Gleisi Hoffmann à frente da sigla. Eleito novo presidente, Edinho Silva terá como desafio ajudar Luiz Inácio Lula da Silva a se reeleger na Presidência da República, aos 80 anos de idade, enquanto a sigla tenta renovar suas lideranças.

Ex-prefeito de Araraquara e ex-ministro da Comunicação Social no governo Dilma Rousseff, Edinho venceu as eleições internas no PT, realizadas no último domingo, 6. Apoiado por Lula, ele inicialmente sofreu resistência dentro de sua corrente, mas acabou no fim arrebatando 73,48% dos votos.

De Gleisi Hoffmann a Edinho Silva na presidência, PT passou por transformações
De Gleisi Hoffmann a Edinho Silva na presidência, PT passou por transformações

Quando a então senadora Gleisi foi escolhida a primeira mulher para presidir o PT, em 2017, a bancada petista de 68 deputados federais havia sido empossada com uma idade média de 53,3 anos. Quase dez anos depois, o partido não conseguiu rejuvenescer: a idade média da atual bancada na data da posse, em 2023, era de 55,6 anos.

A diferença de 2,3 anos na idade média da bancada petista foi suficiente para torná-la a mais sênior de toda a Câmara dos Deputados. Há somente quatro outros partidos com índice superior a 50 anos de idade: PDT (54,5), PSDB (53,3), PSB (51,1) e PSD (50,9). Arquirrival do PT, a bancada do Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro tem uma idade média de 49,5 anos.

O perfil destoa do “PT raiz”. Quando chegou pela primeira vez à Câmara, em 1983, o PT era conhecido pelas jovens lideranças ligadas a movimentos sociais, como Luiz Dulci (27), José Genoino (36), Eduardo Suplicy (41) e Lula (37), então candidato derrotado ao governo de São Paulo no ano anterior, e que viria a se eleger deputado constituinte.

Os seis parlamentares da primeira bancada eleita tinham uma idade média de 39,7 anos. O mais velho era Plínio de Arruda Sampaio, então com 52. Metade da bancada era de “vintões” e “trintões”. Em 2023, a ala com menos de 40 encolheu para 13% da bancada. Os quinquagenários são aproximadamente um terço, 32%; os sexagenários, 30,8%; e os septagenários, 7%.

A eleição de candidatos mais velhos reflete o próprio perfil das candidaturas lançadas pelo partido nas eleições de 2022. Enquanto em 2014 a faixa etária com a maior quantidade de candidatos petistas era de 50 a 54 anos, oito anos depois o maior grupo foi de 55 a 59 anos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ao longo do mandato de Gleisi, por outro lado, o PT se tornou mais feminino. Se a bancada petista na 55ª legislatura (2015 a 2018) tinha oito mulheres (11,7%) entre os 68 parlamentares, hoje há 18 (26,8%). Trata-se de uma taxa superior à encontrada na Casa, que está abaixo de 20%.

A composição feminina no PT é quase imbatível. Apenas o PSOL tem mais presença de mulheres: são oito entre os 14 parlamentares (57,1%), a única legenda com maioria feminina. A sigla que nasceu de uma dissidência petista em 2004 tem se notabilizado pelo espaço dado à juventude, às populações negra e indígena e à comunidade LGBT — e vem abraçando a renovação cuja ausência é criticada no PT.

Na eleição de 2014, havia 427 entre as 1.366 candidaturas do PT (31%). Em 2022, a participação feminina aumentou para 37%: foram 413 candidatas entre os 1.119 lançados pela legenda.

O PT também deu mais espaço aos negros. Lançou 298 pretos (26,63%) e 261 pardos (23,32%) nas eleições de 2022, enquanto 536 eram brancos (47,9%) e 22, indígenas (1,97%). As proporções ficaram mais próximas da população brasileira do que aquelas de 2014, quando 773 candidatos eram brancos (56,59%). O Censo 2022 mostra que brancos representam hoje 43,5% da população brasileira.

Por fim, o PT recuperou a bancada que tinha conquistado no período de 2015 a 2018: 68 deputados federais. Na 56ª legislatura (2019 a 2022), ainda que tenha se mantido a maior da Câmara dos Deputados, a parcela petista foi reduzida a 56 parlamentares, distante das 88 cadeiras conquistadas em 2010.

Avaliação

O senador Humberto Costa (PE), que exerce a presidência interina após Gleisi ter sido nomeada ministra da Secretaria-Geral da Presidência da República em março, diz que o partido estava “no fundo do poço” em 2017, e que hoje o cenário é mais favorável. Ele nega, no entanto, que o PT tenha dificuldade em se renovar, e afirma que a maior diversidade nas bancadas hoje é fruto de uma política interna de valorização das diferenças.

“O PT é o único partido com direção paritária entre homens e mulheres. Toda a distribuição do recursos do fundo eleitoral leva em consideração essa diferenciação, temos (cotas) para LGBTs, movimento sindical, movimento rural, militantes ambientais”, afirma ele. “Se for analisar os outros partidos, talvez a extrema direita tenha mais renovação, mas no comparativo com os demais, o PT não é envelhecido e sem renovação”.

Para Costa, as mudanças no mercado de trabalho, com maior influência da cultura do trabalho autônomo e do empreendedorismo, marcam as maiores diferenças para o PT em relação a quase uma década atrás.

“Demoramos para entender e nos preparar para falar para todos os setores da sociedade. A composição das classes sociais, o papel da comunicação — principalmente das redes sociais —, e o peso da polarização com a extrema direita mudaram”, diz o senador.

Tempos sombrios

Gleisi costuma ser enaltecida por seus pares por ter liderado o PT no período considerado o mais sombrio da história do partido. Em 2016, Dilma havia sido deposta da Presidência da República num processo de impeachment, Fernando Haddad sofrera uma derrota acachapante em sua tentativa de se reeleger à Prefeitura de São Paulo e o partido tinha perdido mais da metade das prefeituras conquistadas em 2012: de 630 para 256.

A era Gleisi, em seguida, viu Lula ser condenado e preso na Operação Lava Jato e Jair Bolsonaro chegar ao Palácio do Planalto depois de uma campanha eleitoral marcada pela hostilidade exacerbada contra os petistas.

Edinho assume numa condição melhor, ainda que desafiadora. Lula governa o País, mas sua impopularidade hoje é maior do que a avaliação positiva. O porcentual de quem considera o governo petista como “ruim ou péssimo” era de 40% em junho, segundo o Datafolha. Já a quantidade de brasileiros que avaliam o governo como “ótimo ou bom” era de 28%.

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