Boulos tenta reeditar atos de 2013 com pauta para classe média, mas nem esquerda embarca
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) tentou aproveitar o embalo da campanha do governo Lula por justiça tributária para fazer uma mobilização nessa quinta-feira, 10, em São Paulo. Contudo, a tentativa do parlamentar de reeditar as manifestações de 2013 fracassou.
Boulos reuniu 15 mil pessoas na Avenida Paulista, mais do que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no último dia 29, segundo a Universidade de São Paulo (USP), mas não conseguiu envolver nem a própria esquerda. Outros partidos do campo, a exemplo do PT e do PSB, não se envolveram diretamente nas convocações e deixaram o PSOL isolado no ato.
Inicialmente planejada para defender a taxação dos super-ricos, a manifestação se transformou num protesto contra o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com críticas a Bolsonaro e ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Especialistas não veem chance de atos tomarem corpo como na década passada e apontam diversos motivos para isso.
Rogério Baptistini, professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, lembrou que, diferente do momento atual, os atos de 2013 expressavam uma insatisfação generalizada, sem um partido político à frente.
“É improvável uma reedição de 2013. Havia uma insatisfação generalizada, que um ato contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo canalizou para um movimento difuso e, aparentemente, apartidário, contra o governo e a corrupção”, afirmou Baptistini, completando:
“Hoje, o cenário está profundamente ideologizado, sobretudo em razão da manipulação da verdade promovida por grupos reacionários. Isso distorce a percepção da classe média e a faz temer a esquerda, muitas vezes vista como inimiga de sua condição econômica e social”.
O cientista político Marco Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas, apontou que os atos daquela época partiram de fora da política tradicional, que já enfrentava desconfiança pública.
“Para ganhar proporções, o movimento teria que surgir da população novamente. A descrença no sistema político parece ter aumentado. Em 2013, havia a Lava Jato, a questão da Copa do Mundo no Brasil, as obras superfaturadas, o anseio pelo padrão Fifa de políticas públicas. Não foi algo que nasceu de dentro da estrutura política”.
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, o estopim para os protestos em 2013, o aumento das passagens de ônibus, afetava especialmente a população mais pobre.
“Se em 2013 a mobilização começa com o movimento de jovens que pegam transporte, que reclamam do aumento dos 25 centavos, agora não são os 25 centavos, mas sim as elites que deixam de pagar bilhões de reais”.