13 de julho de 2025
Politica

Direita alinha discurso para culpar Lula, e aliados blindam Bolsonaros por taxação de Trump

BRASÍLIA — Após os Estados Unidos anunciarem uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros, o Partido Liberal busca unificar o discurso para culpar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo estrago e aliados tentam blindar a imagem do clã Bolsonaro.

Na quarta-feira, 9, o presidente americano Donald Trump anunciou que vai sobretaxar os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto e citou como justificativa o que ele chama de “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro. O ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado e condenado à inelegibilidade pela Justiça Eleitoral por ataques à democracia.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gravando um vídeo em apoio ao ex-presidente e candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gravando um vídeo em apoio ao ex-presidente e candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump

Na mesma noite, enquanto a esquerda atribuía o prejuízo a Bolsonaro e seu filho Eduardo, que se licenciou do mandato na Câmara dos Deputados para viver nos Estados Unidos, onde ele diz ter se esforçado para conseguir punições ao Supremo Tribunal Federal (STF) junto à Casa Branca, o PL fez uma reunião para alinhar o contra-ataque.

As redes sociais do partido disseminam desde quinta-feira a campanha “A culpa é do Lula”, com uma série de publicações, inclusive feitas por inteligência artificial. A mensagem coloca no colo do presidente a responsabilidade por ter procurado o acirramento com a Casa Branca.

Uma das peças mostra um agricultor, gerado por tecnologia, lamentando que sua produção poderia ter sido exportada para os Estados Unidos, “mas o cabra que está aí no poder foi lá e ficou de gracinha com os gringos, e quem se ferra é a gente”, diz ele. “Quem perde é o rico? Não, é a gente. Eu vendo menos, ganho menos, o meu neto perde o emprego. Agora estamos aqui colhendo prejuízo. A culpa é do Lula”, afirma outro personagem.

Apoiadores de Bolsonaro têm compartilhado uma série de publicações listando as ações de Lula que teriam, segundo eles, provocado Trump a partir para o ataque. Entre as medidas estão comentários da primeira-dama, Janja da Silva, sobre Elon Musk e de Lula sobre Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, além da ideia ventilada na cúpula do Brics de tornar os países do bloco menos dependentes do dólar no comércio internacional.

Enquanto culpam Lula pela iniciativa de Trump, os bolsonaristas tentam blindar Jair e Eduardo Bolsonaro de críticas. Um dos argumentos é de que o deputado teria tentado atuar para restringir a punição a Moraes, e não ao País inteiro. Há um receio de que a culpa recaia no clã, como aliados do governo Lula têm endossado.

“Eduardo tem buscado responsabilizar indivíduos. O objetivo dele nunca foi sancionar o Brasil”, afirma o senador Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro de Bolsonaro e secretário-geral do partido.

Marinho defende que Bolsonaro não deva entrar em campo para interceder junto à Casa Branca e evitar a sobretaxa. “Esse não é o nosso papel. A gente deve estimular Lula a exercer o seu papel de presidente. Bolsonaro ficaria feliz de fazer essa mediação, mas não acho que chegue a isso”, diz.

Outro membro da cúpula do PL diz não haver razão para Bolsonaro tentar interferir na decisão de Trump, e que aposta na piora de avaliação do governo Lula caso os impostos sejam mesmo implementados pelos americanos e prejudiquem a economia. Para ele, “o maior desafio da direita hoje é só de comunicação”, enquanto o governo federal é quem precisa resolver o problema na prática.

A avaliação na cúpula do PL é que esse assunto não chega até a eleição de 2026 e que o estrago para a imagem da direita está “monitorado e mensurado”, mas deve ser revertido num curto período de tempo. A saída seria reforçar a narrativa de que “Lula é quem cutucou o cara, Trump só reagiu”.

Mais de 24 horas após o anúncio da Casa Branca, Bolsonaro publicou uma nota em suas redes sociais na noite desta quinta-feira dizendo que recebeu com um “senso de responsabilidade” a carta de Trump a Lula anunciando a sobretaxa e que a perseguição da Justiça brasileira não é só contra ele, mas “milhões de brasileiros que lutam por liberdade”.

“O alerta foi dado, e não há mais espaço para omissões. Peço aos Poderes que ajam com urgência apresentando medidas para resgatar a normalidade institucional. Ainda é possível salvar o Brasil”, declarou, repetindo a insinuação de Eduardo de que somente uma anistia para o ex-presidente e os envolvidos no 8 de Janeiro pode impedir Trump de avançar com sua promessa — embora o americano não tenha mencionado a anistia.

O governo Lula tem apostado no discurso da defesa da soberania nacional para capitalizar politicamente e reunir apoio do País contra a ofensiva americana. “Respeita o Brasil”, publicou o perfil oficial do governo nas redes sociais. “Brasil soberano”, diz o título de outra peça, publicada por Lula.

O apontar de dedos tem sido geral. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, após este atribuir a Lula o ataque de Trump e afirmou que “ou bem uma pessoa é candidata à presidente, ou é candidata a vassalo”. Tarcísio respondeu que Haddad deveria “falar menos e trabalhar mais”.

Siga o ‘Estadão’ nas redes sociais

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *