Michelle ignora anistia defendida por Eduardo e pede a Lula ‘diálogo’ para resolver sanções de Trump
BRASÍLIA – A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro leu neste sábado, 12, uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que o critica e pede “diálogo” para resolver a crise da sanção anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Na quarta-feira, 9, Trump anunciou tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto e citou como justificativa o que ele chama de “caça às bruxas” contra Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado. Enquanto o governo Lula e a esquerda passaram a defender o mote da soberania nacional diante do episódio, bolsonaristas vêm tentando atribuir a culpa ao petista.
Michelle começa a carta dizendo que “esse tipo de sanção, até hoje, só foi aplicada a países reconhecidos como ditaduras”. Trump, porém, tem punido até mesmo aliados e democracias com as sobretaxas, como países da União Europeia, seus vizinhos Canadá e México, além de Coreia do Sul, Japão e outros, incluindo ditaduras.
Em seguida, a ex-primeira-dama também faz afirmações incorretas, como a de que o Brasil vive uma ditadura. O País deixou para trás o regime ditatorial imposto pelos militares em 1985, quando elegeu o seu primeiro presidente da República civil desde o golpe de Estado em 1964. Desde então há eleições livres, sufrágio universal, Constituição garantindo direitos fundamentais, separação entre os Poderes, devido processo legal para julgar cidadãos e instituições de Estado.
Michelle elenca sete pontos de críticas a Lula, afirmando que ele se guia por “ideologias doentias” e “desejo de vingança”, que tem “transferido a responsabilidade dos seus atos” para outros e que o petista tem a “oportunidade de evitar essas sanções”.
“O Brasil está assistindo e esperando um gesto de lucidez que realmente possa trazer paz ao nosso País. É hora de baixar as armas da provocação; cessar os tambores de ofensas e hastear a bandeira do diálogo e da paz”, discursou ela.
O posicionamento de Michelle difere daquele de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do mandato na Câmara dos Deputados para viver nos Estados Unidos, onde diz se empenhar para conseguir sanções contra o Brasil. Eduardo tem defendido que a aprovação de uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para o 8 de Janeiro, incluindo o seu pai, seria capaz de impedir Trump de seguir adiante com as sanções.
Eduardo publicou uma nota na quarta-feira, intitulada “Uma hora a conta chega”, apelando para que as autoridades brasileiras “evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as liberdades” e atribuindo ao Congresso a responsabilidade de debelar a crise. Ele ignorou que a iniciativa da sobretaxa contra o Brasil partiu de Trump.
“Cabe ao Congresso liderar esse processo, começando com uma anistia ampla, geral e irrestrita, seguida de uma nova legislação que garanta a liberdade de expressão — especialmente online — e a responsabilização dos agentes públicos que abusaram do poder. Sem essas medidas urgentes, a situação tende a se agravar — especialmente para certos indivíduos e seus sustentadores. Restam três semanas para evitar um desastre. É hora dos responsáveis colocarem fim a essa aventura autoritária”, escreveu Eduardo na ocasião.
Michelle, por outro lado, não cita anistia nem a suspensão do julgamento contra o seu marido em sua declaração – o que consta inclusive na carta de Trump a Lula como justificativa para a sobretaxa. Ela pede, de forma mais genérica, que o petista “abandone as perseguições”, sem explicar do que se trata.