Não dá para aceitar o próximo tiro
O que aconteceu ontem no Campo Limpo me destrói por dentro.
Como policial. Como ser humano.
Como alguém que acredita na missão, mas não aceita ver essa missão sendo dilacerada por erros que se repetem.
Dois colegas da Polícia Civil foram alvejados por uma equipe da PM em plena operação oficial.
Um deles em estado gravíssimo.
Isso não é tragédia acidental.
É o reflexo de um sistema que opera no improviso, grave violação dos protocolos operacionais, técnicas e táticas de atuação policial, evidenciando falhas severas — de coordenação, comando e controle da operação.
Trata-se de mais um episódio que escancara a repetição de erros estruturais crônicos. Não é a primeira vez — e, lamentavelmente, não será a última, enquanto não forem enfrentadas as causas profundas que alimentam esse tipo de ocorrência: ausência de integração doutrinária entre as forças e desvalorização profissional.
A deficiência nos protocolos integrados e a falta de treinamento eficaz são fatores que expõem tanto os policiais quanto a população a riscos inaceitáveis. Que o policial que efetuou os disparos seja rigorosamente investigado e, se comprovada a responsabilidade, punido com severidade nos termos da lei. Da mesma forma, aqueles que ocupam cargos de chefia devem assumir a responsabilidade institucional inerente à função que exercem.
Politizar o sangue dos nossos é repugnante.
É desrespeitar as famílias que choram.
É desonrar o distintivo ou farda que tantos vestem com coragem.
É trair os policiais que colocam a vida em risco todos os dias pela sociedade.
Não é a primeira vez. E, se nada mudar, não será a última.
Não dá para aceitar que o próximo tiro errado já esteja a caminho.