Enquanto Bolsonaro chantageia, Lula lhe surrupia a bandeira do patriotismo
Muitas vezes o que as pessoas precisam para apoiar um candidato é uma desculpa. Melhor dizendo, um argumento. Mesmo com bons índices na economia – como crescimento do PIB em torno de 3%, uma das menores taxas de desemprego já registradas e até mesmo um decréscimo no número de homicídios – nada disso parecia empolgar a maioria da população em relação ao governo Lula. Era uma gestão sem marca, sem razão de ser e sem motivos para continuar. Setor produtivo, mercado financeiro, e até mesmo alguns analistas já apontavam como caminho natural a chegada inevitável do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para ser o novo inquilino do Palácio do Planalto, já em 2027.
Subestimaram a capacidade destrutiva do clã Bolsonaro. E, pior, em combinação com a nitroglicerina do trumpismo. Ao que tudo indica, o filho “03″, o deputado Eduardo Bolsonaro, articulava algum tipo de castigo para o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Obteve do presidente Trump taxas de 50% para todo produto brasileiro exportado para os Estados Unidos. Ou seja, puniram a sociedade brasileira inteira, em especial São Paulo, que exporta aviões e suco de laranja para os Estados Unidos.
O imbróglio foi um presente dos deuses para a Lula. Agora, de maneira inesperada, o PT afanou do bolsonarismo a bandeira do patriotismo – essa noção abstrata que anima tantas mentes e corações. Por incrível que pareça, após tantos e tantos anos, os petistas e governistas podem sair às ruas com uma bandeira e gritar “eu amo meu Brasil”, sem que os bolsonaristas possam reagir. O apoio histórico da esquerda à China, à Rússia, à Venezuela agora são questões de segundo plano no debate público. Petistas, podem retirar de suas gavetas as mofadas camisas amarelinhas da seleção brasileira de futebol.
Até porque, o ex-patriota Bolsonaro resolveu abraçar um líder de potência estrangeira para tentar salvar, exclusivamente, a sua pele, para evitar a cadeia por tentativa de golpe de Estado. Mesmo com as reações de espanto de tantos setores, inclusive que são antipetistas, ainda dobra aposta. Apenas uma anistia que o beneficia faria Trump mudar de ideia, anuncia o ex-presidente. O nome disso é chantagem.
Lá dos Estados Unidos, o filho Eduardo delira. Se comporta como um potencial candidato à Presidência com apoio de Trump (mas melhor não menosprezar tudo isso, porque no Brasil alguns delírios já se tonaram realidade). De quebra, atua para enfraquecer a candidatura de Tarcísio de Freitas. De solução viável, hoje Tarcísio é “limpo” demais ou “candidato do sistema” para o pessoal da direita radical; de “extrema-direita” para os esquerdistas; e ainda, bajulador de Trump e Bolsonaro para os demais. No final das contas, quem perdeu o discurso foi ele. A ver se recupera.