15 de julho de 2025
Politica

Mísseis, helicópteros e canhões: como as ações de Trump podem afetar o Exército do Brasil

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Um fantasma ronda as Forças Armadas: o receio de que a agressão de Donald Trump ao Brasil para impor ao País seu desejo de salvar Jair Bolsonaro afete as compras de mísseis e helicópteros e a reposição de material fundamental para a Defesa. Pode ser só um temor, mas a situação tarifária pode piorar. O próprio presidente Trump anunciou a abertura de investigação contra o Brasil com base na “Seção 301” da Lei Abrangente de Comércio e Competitividade Americana.

Soldado americano durante treinamento com míssil Javelin, em 2016, na Alemanha
Soldado americano durante treinamento com míssil Javelin, em 2016, na Alemanha

Aplicadas contra a soberania da Justiça do Brasil para punir Bolsonaro e os demais réus do processo do golpe, a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras já foram uma espécie de sanção, condicionada ao fim imediato do processo contra o ex-presidente. A essa decisão, Trump ameaça com novas sanções.

Se o governo brasileiro negocia para evitar o pior no comércio, a incerteza criada pela ação americana é péssima para o futuro da cooperação militar entre os países em uma área em que aliados precisam, antes de tudo, serem confiáveis e idôneos. É verdade que, nos anos 1980, o Brasil foi ameaçado com o uso da mesma Seção 301 em razão da reserva de mercado para a informática e pelo desrespeito às patentes de remédios.

Mas era então em nome do livre comércio e dos interesses de empresas americanas que os EUA atuavam. Agora, querem submeter o País aos interesses pessoais de Bolsonaro e de Trump, que já foi sócio do blogueiro Paulo Figueiredo, uma das peças fundamentais na operação psicológica montada pelos golpistas para atacar o Alto-Comando do Exército em 2022 com o objetivo de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Cinco helicópteros H-60L Black Hawk em voo.
Cinco helicópteros H-60L Black Hawk em voo.

Em nome de um extremismo cego, há quem pretenda ver o circo pegar fogo, esquecendo que incendiada será a Nação. O cálculo americano nos anos 1980 era de que o uso da Seção 301 era mais efetivo para os interesses unilaterais americanos quando utilizada contra parceiros de envergadura intermediária em termos econômicos e comerciais.

Essa era a conclusão do embaixador Regis Arslanian, que foi negociador-chefe de Comércio do Brasil na Organização Mundial do Comércio. Para ele, o espírito da Seção 301 estava “calcado na premissa de que o recurso a seus mecanismos” só seria justificado na medida em que assegurasse “a obtenção de resultados tangíveis e positivos para o comércio e os investimentos norte-americanos”.

Isso é ainda mais verdadeiro em um governo como o de Trump, em que a separação entre o público e o privado é tão frágil quanto as joias recebidas por Bolsonaro. Assim, muitos se perguntam: se a prisão de Bolsonaro – destino mais provável do ex-presidente – se concretizar, o que Trump poderá fazer?

Disparo do míssil Spike LR2 feito pelo Exército, durante teste realizado no Rio Grande do Sul
Disparo do míssil Spike LR2 feito pelo Exército, durante teste realizado no Rio Grande do Sul

O principal receio dos militares é que americano resolva vetar o envio dos 12 helicópteros Black Hawk comprados por US$ 960 milhões pelo Brasil, em um contrato assinado em 2024 pelo governo de Joe Biden. O mesmo poderia acontecer com os 222 mísseis FGM-148F Javelin e as 33 lançadores encomendados aos EUA ao custo de US$ 74 milhões. E ainda inviabilizar a pretensão de compra de mísseis antiaéreos Stinger.

Em fevereiro, o comandante do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro de Paiva, havia publicado uma decisão no Boletim do Exército 9/2025 no qual autorizava a assinatura da Carta de Oferta e Aceitação para a aquisição de mísseis Javelin e o adiantamento de US$ 329,2 mil, conforme previsto no cronograma de desembolso da Carta de Oferta e Aceitação. Trata-se de recursos financeiros que fazem parte do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas, que integra o Plano Estratégico do Exército 2024–2027

O anúncio dessa compra havia sido feita em dezembro durante a inauguração da primeira companha anticarros do Exército, em Osasco, na Grande São Paulo. Parecia ser o fim de uma novela que se estendia desde 2020, quando País tentou adquirir pela primeira vez a arma anticarro que equipou a Ucrânia nos primeiros meses de guerra contra a Rússia. Diante da demora americana para aprovar a venda, o País comprou cem mísseis israelenses Spike LR2 e dez lançadores.

Os generais Montenegro (esq.), Tomás Paiva (centro) e Viana Filho (dir.) durante a inauguração da 1ª Companhia Anticarro Mecanizada, no Aquartelamento Duque de Caxias, em Osasco (SP)
A Companhia Anticarro possuirá a capacidade de mobilização estratégica
Os generais Montenegro (esq.), Tomás Paiva (centro) e Viana Filho (dir.) durante a inauguração da 1ª Companhia Anticarro Mecanizada, no Aquartelamento Duque de Caxias, em Osasco (SP)
A Companhia Anticarro possuirá a capacidade de mobilização estratégica

O Spike LR 2 é um míssil que usa o chamado sistema fire, observe and update (disparar, observar e atualizar) com auxílio de Inteligência Artificial. Por meio dele, seu operador pode optar pelo controle manual do início ao fim do voo ou travar o alvo por meio da IA. Neste caso, ainda é possível fazer ajustes no voo até o impacto. O problema é que em razão da guerra de Gaza e dos atritos entre os governos de Netanyahu e Lula, as compras de equipamentos de Israel, como as 36 viaturas obuseiros Atmos 2000, travaram.

O Exército escolheu o produto da empresa israelense em licitação concluída em 2024. O valor do contrato chegava a R$ 750 milhões. Mas a assinatura do contrato foi vetada pelo governo Lula. A novela sobre as viaturas blindadas de combate obuseiros de calibre 155 mm autopropulsados sobre rodas (VBCOAP-SR) se estende até hoje.

Ou seja, sem poder contar com Israel para obter equipamentos e com a possibilidade de os fornecedores americanos serem cortados, restaria à defesa procurar a indústria europeia ou a chinesa. Às voltas com o rearmamento da Alemanha, França, Reino Unido e Polônia, a indústria de defesa europeia teria poucas condições para atender o Brasil. Assim, uma possível sanção americana teria como efeito jogar o País nos braços da China, mesmo contra a vontade dos militares e do governo brasileiro.

Teste feito pelo Exército brasileiro com o míssil anticarro MSS 1.2 AC: lote foi enviado para Roraima
Teste feito pelo Exército brasileiro com o míssil anticarro MSS 1.2 AC: lote foi enviado para Roraima

O outro caminho seria buscar alternativas na base Industrial de Defesa do Brasil. O Boletim do Exército 28/2025, publicado no dia 11 de julho trouxe a portaria, a 1.562, assinada pelo general Richard Nunes, chefe do Estado-Maior do Exército, que pode ser vista como uma das respostas da Força a essa situação, ao menos para a capacidade anticarro no teatro sul-americano: a adoção oficial pelo Exército do Míssil Superfície-Superfície 1.2 Anticarro, o Max 1.2 AC), fabricado pela brasileira Siatt.

O 18.º Regimento de Cavalaria Mecanizado (Boa Vista) havia recebido em 2024 um lote de uma centena, direcionados para Roraima a fim de dissuadir a Venezuela. Com a doção oficial do equipamento, será possível à Força receber os integrantes futuros da família do Max 1.2 AC, inclusive a futura versão 4 do míssil anticarro fire and forget (atire e esqueça). A previsão é que ela passe a equipar, a partir de 2027, as novas companhias anticarros do Exército.

É pouco, no entanto, o que a indústria nacional pode fornecer para cobrir os estragos que o ataque de Trump e de Bolsonaro ao Brasil podem causar. A Colômbia enfrentou problema idêntico, em fevereiro, quando Trump suspendeu por 90 dias a ajuda militar à Colômbia, fato que devia ter servido de alerta para o governo Lula.

Militares americanos recebem de colegas brasileiros instrução de combate na selva em Belém antes de seguirem para o Amapá para a Operação CORE 23
Militares americanos recebem de colegas brasileiros instrução de combate na selva em Belém antes de seguirem para o Amapá para a Operação CORE 23

E essa é a ameaça que continua a pairar sobre a Colômbia. Após decidir comprar 18 caças Gripen, que devem ser montados no Brasil, o ministro da defesa da Colômbia, Pedro Sánchez, teve de afirmar não haver risco de que os EUA procurem inviabilizar o negócio em razão de 30% dos componentes do avião sueco serem de origem americana.

Além das armas, o ataque de Trump ao País poderia ter reflexo na cooperação militar entre os países, como por exemplo os exercício conjuntos, como a Operação CORE 25, prevista para ocorrer no fim do ano. Ou ainda a cooperação aeroespacial e naval, inclusive no combate ao crime transatlântico, como ocorreu durante a Operação Dontraz, da Polícia Federal, com a participação das marinhas do Brasil e dos EUA

A verdade é que, como disse então o coronel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, “é muito difícil substituir a indústria do ocidente, pois ”causaria um terremoto técnico e doutrinário. muita coisa teria que mudar, a um preço enorme”. É esse o terremoto que atingiria o Brasil.

Fora do poder, Bolsonaro e seus filhos usam uma potência estrangeira para chantagear o País e suas Forças. Colocam em risco o bem-estar comum e a segurança de todos. É difícil imaginar do que não seriam capazes, caso estivessem governando, em Brasília.

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