Tarifaço de Trump é reação ao avanço dos Brics, diz Edinho Silva, novo presidente do PT
O presidente eleito do PT, Edinho Silva, afirmou ao Estadão que o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil foi uma reação direta ao avanço dos Brics como alternativa à influência dos EUA nas relações econômicas internacionais. O republicano anunciou a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros dois dias após o fim da cúpula dos Brics, realizada no Rio na semana passada.
Segundo ele, a carta enviada por Trump ao presidente Lula (PT) teve caráter político-partidário e funcionou como uma maquiagem política. O republicano pediu, por exemplo, a suspensão imediata da ação penal em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado. Trump também acusou o STF de “censurar” redes sociais americanas que operam no Brasil.

“Teve todo esse verniz político que o Trump tenta dar, mas ninguém me convence do contrário: toda a reação do governo Trump se deu por causa dos Brics, depois da reunião realizada no Brasil, quando mostramos a solidez de um bloco de países que busca construir um caminho próprio para o desenvolvimento”, disse.
Edinho classificou as ações de Trump como uma tentativa de construir uma “Terceira Guerra Mundial” por meio de medidas econômicas. Ele afirmou que o governo brasileiro se posicionou bem ao defender a soberania nacional, sem adotar nenhuma medida abrupta. “Agora, se nenhuma sinalização diplomática for tomada do ponto de vista da negociação, claro que o Brasil também terá que reagir”, afirmou.
O presidente Lula já declarou que uma das medidas possíveis é acionar a Lei da Reciprocidade, que permite ao Executivo reagir às taxações impostas por Trump aplicando tarifas sobre produtos norte-americanos. Economistas ponderam, no entanto, que essa medida poderia pressionar a inflação, obrigando o Banco Central a elevar ainda mais a taxa básica de juros, a Selic.
Questionado sobre um possível cenário de alta da inflação e dos juros em ano pré-eleitoral, o futuro presidente do PT disse confiar na forma como o governo Lula tem conduzido a questão. Segundo ele, a prioridade do presidente é a negociação. “O governo do presidente Lula vai priorizar o diálogo, a saída diplomática. A reciprocidade só ocorrerá se a diplomacia for negada.”
Edinho foi eleito presidente do PT nas eleições internas da sigla, realizadas no último dia 6. Ele era o candidato apoiado por Lula e assumirá o comando do partido após o encontro nacional da legenda, marcado para o início de agosto. Aos 60 anos, é filiado ao PT desde 1985. Foi prefeito de Araraquara, deputado estadual e ministro no governo Dilma Rousseff. É formado em Ciências Sociais pela Unesp.