Trump não está nem aí para Bolsonaro, seu interesse é enfraquecer Moraes por guerra das redes
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), numa entrevista à Coluna do Estadão, admitiu: “Foi quase um milagre” atrair a atenção do presidente dos Estados Unidos.
“Aqui a gente concorre com Israel, com guerra, com Panamá, Groelândia, Otan, União Europeia, China. Então, muito modéstia à parte, o que a gente fez foi quase um milagre. Sem um escritório de lobby, sem dinheiro, sem apoio partidário, e a gente conseguiu colocar na mesa o único fator que está possibilitando a gente sonhar com Bolsonaro não condenado e na corrida presidencial”, disse.
Na semana passada, o chefe do Executivo norte-americano surpreendeu o mundo inteiro ao divulgar a carta anunciando a taxação de 50% aos produtos brasileiros. Não pela ameaça de tarifaço, afinal, na última semana pelo menos 51 países foram informados de sobretaxas impostas por Trump. Entretanto, somente no recado ao governo brasileiro fez uma associação com questões políticas e intrometeu-se na pauta do Judiciário.

O núcleo mais radical do bolsonarismo ficou eufórico. Mas não parece ter se dado conta de que Trump tem interesses próprios nesta briga.
O presidente dos EUA aproveita o caso do julgamento do 8 de Janeiro, e o medo do ex-presidente Jair Bolsonaro de ir para a prisão, para tentar descredibilizar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, com quem está num embate por questões comerciais das plataformas sociais.
Na segunda-feira, 14, a Rumble e a Trump Media voltaram a acionar a Justiça dos Estados Unidos contra o ministro. Ambas as empresas movem, desde fevereiro, uma ação civil contra o magistrado brasileiro em um tribunal de Justiça Federal da Flórida. O ministro determinou a exclusão de perfis brasileiros nas redes. A Rumble e Trump Media acusam Moraes de uma suposta violação à soberania dos Estados Unidos.
Como mostrou a Coluna do Estadão, embora cite o ex-presidente Jair Bolsonaro, a medida está longe de ser um aceno a aliados do ex-presidente. Uma mostra disso é que o tarifaço impacta setores da direita fortemente ligados ao bolsonarismo, a exemplo do agronegócio. A avaliação é compartilhada por especialistas ouvidos pela Coluna.
“O que está em jogo aí é muito mais o embate entre o grupo Trump com o Moraes por causa de decisões em relação a redes sociais do que de fato em relação ao bolsonarismo”, afirmou Rodolfo Teixeira, doutor em sociologia política pela Universidade de Brasília. E completou: “Quando o Trump foi eleito pela primeira vez, ele teve a chance de conversar mais tempo com o Bolsonaro, à época presidente, e não o fez”.
Outro abalo negativo ao bolsonarismo é que tarifaço de Trumo deu ao PT um discurso. E, caso não tenha calculado esse risco antes, agora Eduardo está ciente e reforça a disputa de narrativas.
“A gente está correndo um risco tremendo, porque a gente sabe que (o presidente) Lula vai querer utilizar todo o malefício que fez para economia e colocar na conta do Trump. É um risco gigantesco que a gente está sofrendo. Eles estão querendo dizer agora “defendam o Brasil”, vistam a camisa amarela. Então o PT está enxergando uma oportunidade de tentar buscar uma união nacional contra o inimigo estrangeiro comum. Eu acho que no final das contas não vai colar. Não tem como eles falarem ontem que o agro é fascista e hoje estarem defendendo o agro. A pessoa precisa ser de muito pouca memória para poder acreditar nisso”, avaliou Eduardo.