Emendas: assessor de Júnior Mano pressionava servidores da Caixa para liberação de recursos, diz PF
A Polícia Federal suspeita que o ‘assessor direto’ do deputado Júnior Mano (PSB-CE), Adriano Almeida Bezerra, pressionava servidores da Caixa para liberação de recursos vinculados a contratos de obras públicas. O ‘cerco’ aos funcionários do banco, segundo a PF, era exercido a pedido do prefeito Carlos Alberto Queiroz, o Bebeto do Choró, apontado como braço direito de Júnior Mano em esquema de lavagem de dinheiro de emendas parlamentares – via licitações fraudadas – para financiamento ilícito de campanhas nas eleições de 2024 em pelo menos 51 municípios do Ceará.
Júnior Mano e Adriano foram alvo de buscas da PF no dia 9, por ordem do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a Operação Underhand. Os agentes vasculharam a residência e o gabinete do parlamentar e também do assessor. O ministro também decretou a quebra do sigilo de comunicações de Júnior Mano e de Adriano, além do bloqueio de ativos.

O deputado nega participação em processos licitatórios. No dia da operação, em nota, ele reiterou seu ‘compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública’. Adriano não foi localizado para se manifestar. O espaço está aberto.
O relatório da PF que embasou a Operação Underhand sustenta que ‘Adriano Almeida Bezerra, assessor direto de Júnior Mano, ocupa posição estratégica dentro do grupo investigado, desempenhando papel de intermediador técnico e político nas operações de liberação de recursos públicos’.
Dois documentos – Informação de Polícia Judiciária 05 e 09, de 2025 – anexados aos autos detalham mensagens via WatsApp do prefeito Bebeto do Choró, que está foragido há mais de seis meses.
A PF aponta comunicações frequentes entre Bebeto e o assessor de Júnior Mano. “Adriano é figura recorrente nos diálogos com Carlos Alberto Queiroz (Bebeto), em especial na mediação de tratativas com servidores da Caixa Econômica Federal.”
O relatório da Operação Underhand assinala que ‘em diversas ocasiões, Bebeto solicita que Adriano pressione servidores da Caixa para liberação de recursos vinculados a contratos públicos’.
Áudios datados dos dias 6, 11, 12, 13 e 27 de setembro de 2024 revelam, diz a PF, que ‘o assessor não apenas respondia prontamente como também atualizava Bebeto sobre os trâmites internos do banco’.
“A naturalidade da atuação (de Adriano) revela sua inserção no circuito criminoso e a existência de uma rede de influências ilícitas sobre instituições públicas”, pontua o relatório.
A PF cita nomes de servidores públicos ‘supostamente subordinados ou influenciados’ pelo assessor de Júnior Mano. “Indica que sua atuação não se restringia a demandas burocráticas, mas alcançava o controle direto de processos de liberação de recursos federais”, pontua o relatório.
MARCA REGISTRADA DA COMISSÃO
Segundo os investigadores, ‘as tratativas frequentemente culminavam em menções a percentuais de retorno, prática que se tornou marca registrada do grupo’.
O documento atribui a Adriano ligação estreita com empresas de fachada que teriam sido usadas para lavar dinheiro desviado de emendas de Júnior Mano via contratos firmados com governos municipais do sertão cearense no âmbito de licitações fraudadas.
“Além da função política, Adriano atuou no desembaraço financeiro de recursos relacionados à empresa MK, com importância central na investigação”, destaca a PF.
A MK Serviços em Construção e Transporte Escolar Ltda tem como sócio Maurício Gomes Coelho, um vigia, de 37 anos, que a PF acredita ser laranja de gestões municipais que fecharam contratos milionários com o grupo supostamente liderado por Júnior Mano e seu ‘apadrinhado’ político Bebeto do Choró – acusado de comandar uma audaciosa máquina de compra de votos, intimidações e até ameaças de morte a candidatos rivais nas eleições municipais de 2024.
O Estadão mostrou que durante as investigações, a PF identificou Maurício e descobriu que ele recebia salário mensal de R$ 2,4 mil e constituiu a MK com capital social de R$ 8,5 milhões.
A PF informou que ‘não encontrou elementos que justifiquem’ o fato de o vigia ter constituído a MK, contratada por administrações municipais a peso de ouro.
O valor global de contratos da MK com 47 gestões municipais soma R$ 318.927.729,42.
O relatório ao qual o Estadão teve acesso cita, ainda, outras duas empresas, uma locadora e uma construtora, pertencente a um político do município cearense de Monsenhor Tabosa, amigo pessoal de Júnior Mano.
Segundo a PF, em 26 de setembro de 2024, ao ser consultado sobre a viabilização de R$ 1,5 milhão com promessa de retorno de 12% ‘Adriano respondeu de forma afirmativa e objetiva, demonstrando ciência e conformidade com o esquema’.
COM A PALAVRA, A CAIXA
O Estadão pediu manifestação à Caixa. O espaço segue aberto.