Pesquisa eleitorais: desprezados por petistas e bolsonaristas, ‘isentões’ vão definir as eleições
Tente, em qualquer discussão política, fazer comparações entre Lula e Bolsonaro. Será acusado, imediatamente, na melhor hipótese, se o interlocutor for culto e educado, de falsa simetria. “Lula é um democrata, Bolsonaro um golpista”, dirá a pessoa simpática ao PT, talvez agressivamente. “Não há modos de colocar no mesmo lugar um bandido que desviou bilhões e foi descondenado (sic) com um defensor da família”, pode dizer um admirador do ex-presidente, com ira no olhar. Quem não está em nenhum desses lados da disputa, entretanto, vai definir quem entre eles vai vencer. E parece haver, infelizmente, uma disputa para ver quem repudia mais esse eleitor decisivo.
Do lado bolsonarismo, além de todo histrionismo, do orgulho, da vulgaridade, há esse elemento novo de um filho do ex-presidente se orgulhar de ter influenciado nas tarifas de Trump a prejudicar toda a sociedade. Uma ala radical a apostar no quanto pior, melhor, contando que ocorra anistia geral e irrestrita que, na verdade, serve para ajudar apenas uma pessoa: Jair Bolsonaro. Consequência: o eleitor de centro, espantado, corre para o outro lado. O resultado das últimas pesquisas de voto e de avaliação do governo estão aí para demonstrar a tese.
Mas Lula também apronta bastante com esse pessoal centrista. O que diabos foi fazer na Praça Vermelha, em maio, ao lado do autocrata Vladimir Putin e um bando de ditadores de países de terceiro mundo? Oficialmente era para comemorar os 80 anos do fim da Segunda Guerra, mas até o corpo embalsamado de Lenin, que fica no mesmo local, sabia que se tratava de uma demonstração de força para o ocidente num momento em que a Rússia trava uma batalha mortal com a Ucrânia. O que diabos foi fazer na Argentina, ao lado de uma condenada por corrupção, pedindo sua liberdade com plaquinha e tudo?
De volta à direita, há uma turma dentro do bolsonarismo que trabalha para não existir qualquer possibilidade de haver uma alternativa no campo da direita (e mesmo do centro) que não tenha o sobrenome do ex-capitão. Tanta lealdade não adiantou nada e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, foi uma vítima dessa agressividade. Outros postulantes, como os governadores Romeu Zema (MG) ou Ronaldo Caiado (GO), podem preparar o escudo antimísseis caso de fato viabilizem suas candidaturas. O que faz o eleitor de centro nesse cenário de guerra civil? Vai para o nulo ou pula para o outro lado.
Retornando ao terreno petista, há todo esse mal disfarçado desprezo com o equilíbrio das contas públicas. Sempre que há oportunidade, Lula ataca as políticas de austeridade – que podem significar apenas arrecadar mais do que gastar, sem sufocar a população com taxas e impostos. Existe uma vã esperança na esquerda de que um dia a política econômica de gastar como se não houvesse amanhã não gere, depois de um período de voo de galinha, explosão da dívida, inflação, desemprego e recessão. Insistem num equívoco que já deu errado dezenas de vezes aqui e pelo mundo afora, vai entender. Não resta alternativa a não ser correr desse pessoal.
A lista de ações e declarações que entristecem os centristas é gigantesca, de ambos os lados. E, para tornar o cenário mais dramático para esses eleitores, o próprio centro brasileiro naufragou em brigas internas e ataques externos, de maneira que não consegue nem mesmo apresentar um candidato viável. Mas algo é certo. Daqui para frente, quem irritar menos esse eleitor isentão vai levar as eleições de 2026.