Bastidores: PF monitorou redes de Eduardo até decidir pedir nova operação contra Bolsonaro
A investigação da Polícia Federal que resultou na operação desta sexta-feira, 18, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro começou com o monitoramento das redes sociais de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e avançou de forma rápida até a deflagração das medidas ostensivas.
Os investigadores passaram a monitorar e preservar o conteúdo das redes sociais de Eduardo desde o início de junho, após a abertura de um inquérito sobre as ações dele nos Estados Unidos para obstruir o julgamento sobre a tentativa de golpe. Em conjunto com esse trabalho, também buscaram declarações públicas de Jair Bolsonaro sobre o envio de recursos ao seu filho para identificar a participação do ex-presidente nos fatos.

Essas diligências foram executadas por agentes de um setor de apoio à Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da PF em Brasília, após a solicitação feita pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet. Ao pedir abertura da investigação, ele determinou à PF o “monitoramento e preservação de conteúdo postado nas redes sociais”.
Em paralelo a esse trabalho, a PF realizou outras medidas de investigação. Uma das principais foi a tomada do depoimento de Jair Bolsonaro para obter informações sobre os repasses financeiros para financiar a permanência de Eduardo nos Estados Unidos.
O ex-presidente admitiu aos investigadores ter enviado R$ 2 milhões ao seu filho, o que confirmou a hipótese inicial de que Jair Bolsonaro estaria financiando as ações de Eduardo nos Estados Unidos para impor sanções ao Brasil por causa do julgamento da ação da tentativa de golpe. No seu depoimento, Bolsonaro também deu uma informação considerada relevante para as investigações: a de que teve uma reunião, em maio deste ano, com um integrante do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o conselheiro sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental, Ricardo Pita.
A PF também ouviu o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), responsável pela representação criminal que resultou na abertura da investigação, e tentou intimar o próprio Eduardo Bolsonaro, mas não obteve resposta no e-mail institucional dele e não conseguiu contato com o telefone do deputado.
O monitoramento das redes identificou que as articulações de Eduardo Bolsonaro, com o apoio de Jair Bolsonaro, foram intensificadas à medida que o julgamento da tentativa de golpe avançava no STF.
Para a PF, o ápice dessas articulações foi o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% à importação de produtos brasileiros. Esse anúncio foi seguido de manifestações públicas de Eduardo Bolsonaro, dizendo que a medida tomada por Trump era resultado de seus diálogos com o governo dos EUA.
Dois dias depois do anúncio das tarifas, a Polícia Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal uma petição sigilosa relatando os fatos apurados até o momento e pedindo a deflagração de medidas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, por suspeitas dos crimes de obstrução de Justiça, coação ao curso do processo e atentado à soberania nacional. A operação foi deflagrada uma semana depois, nesta sexta-feira.