19 de julho de 2025
Politica

Postagens, vídeos e entrevistas: veja o que Moraes usou para impor tornozeleira a Bolsonaro

O ministro Alexandre de Moraes utilizou como base para impor tornozeleira eletrônica e outras medidas contra Jair Bolsonaro um conjunto de postagens nas redes sociais, vídeos de agradecimento ao presidente americano Donald Trump e o repasse de R$ 2 milhões via Pix ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, que se encontra nos Estados Unidos.

Na decisão, Moraes afirma que os elementos reunidos demonstram uma atuação coordenada para pressionar, por meio do governo americano, o Supremo Tribunal Federal (STF) a interferir no julgamento da ação penal que acusa o ex-presidente de tentativa de golpe de Estado.

11-03-2025 SÃO PAULO - SP / POLITICA OE / JAIR BOLSONARO / SALAO DAS MOTOPECAS - Ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro visita o XIV Salão Nacional  e Internacional das Motopeças que acontece no pavilhão vermelho do Expo Center Norte na R. José Bernardo Pinto, 333 na zona norte de São Paulo. Acompanham no evento o filho do ex-presidente Flávio Bolsonaro e Governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Foto: Daniel Teixeira/Estadão
11-03-2025 SÃO PAULO – SP / POLITICA OE / JAIR BOLSONARO / SALAO DAS MOTOPECAS – Ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro visita o XIV Salão Nacional  e Internacional das Motopeças que acontece no pavilhão vermelho do Expo Center Norte na R. José Bernardo Pinto, 333 na zona norte de São Paulo. Acompanham no evento o filho do ex-presidente Flávio Bolsonaro e Governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Entre as evidências reunidas estão prints de publicações feitas por Bolsonaro nas redes sociais, em que ele endossa críticas de Trump ao Supremo. Em uma postagem de 7 de julho, o ex-presidente reproduziu uma declaração de Trump em que a Corte brasileira é acusada de perseguição. “Deixem Bolsonaro em paz”, diz o presidente americano no vídeo. Para Moraes, o gesto representa adesão explícita a uma campanha internacional de intimidação institucional.

O ministro também cita um vídeo divulgado por Bolsonaro em 11 de julho, novamente com falas de Trump contra o STF. A publicação ocorreu dias após o governo dos Estados Unidos anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros – sanção que, segundo a decisão, foi articulada por Eduardo Bolsonaro com apoio financeiro do pai. Moraes afirma que a ofensiva “foi comemorada” por ambos e usada como instrumento de coação contra a Corte.

Em outro trecho, Moraes destaca que Bolsonaro confirmou em depoimento o repasse de R$ 2 milhões ao filho, via Pix, no dia 13 de maio, quando Eduardo já estava nos Estados Unidos. Para o ministro, o valor teve como objetivo sustentar a operação de pressão internacional contra autoridades brasileiras. A Procuradoria-Geral da República classificou o repasse como uma das evidências de que pai e filho atuaram “com unidade de propósito” para desestabilizar o julgamento no Supremo.

A decisão também menciona uma reunião entre Bolsonaro e Ricardo Pita, conselheiro sênior do Departamento de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental, realizada em 6 de maio. O conteúdo do encontro não foi revelado, mas Moraes aponta a proximidade temporal entre a reunião e o início da ofensiva tarifária como indicativo da estratégia de articulação externa.

Moraes ainda anexou na decisão uma carta pública de Trump, divulgada nas redes sociais, em que o presidente americano acusa o Brasil de censura contra plataformas digitais dos EUA e anuncia a tarifa como resposta à atuação do Judiciário brasileiro. O documento menciona diretamente o STF e associa a sanção à defesa da liberdade de expressão.

A decisão inclui também postagens de Eduardo Bolsonaro agradecendo a Trump pela medida e defendendo a aplicação da Lei Magnitsky (instrumento legal dos EUA que permite impor sanções a autoridades estrangeiras acusadas de corrupção ou violações de direitos humanos). O ministro destaca que uma das mensagens foi divulgada em conjunto com o comentarista Paulo Figueiredo, classificado na decisão como “réu e foragido da Justiça brasileira”.

Em outro ponto classificado como grave, Moraes afirma que Jair Bolsonaro condicionou publicamente o fim das sanções impostas ao Brasil à aprovação de uma anistia em seu favor, durante entrevista coletiva. Para o ministro, a declaração evidencia uma tentativa de “extorsão institucional”, ao atrelar a retirada da taxação em troca da própria impunidade.

Na avaliação de Moraes, as condutas atribuídas a Bolsonaro colocam em risco a aplicação da lei penal e a integridade do processo. O ministro afirma que há “risco de dano grave ou de difícil reparação”, diante de uma campanha que busca “obstruir o andamento da ação penal” por meio de ameaças públicas e articulação com um governo estrangeiro.

O comportamento do ex-presidente é classificado como tentativa de “submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado”, em afronta à soberania nacional.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *