22 de julho de 2025
Politica

A infidelidade e as fases do casamento

A revolução sexual nos fez acreditar que o desejo sexual é expressão da autenticidade do indivíduo, legitimando – e até incentivando – o sexo extraconjugal. Contudo, conforme o prazer se tornava um direito, a mulher conquistava o poder de dizer não ao duplo padrão. Agora ela também poderia exigir exclusividade sexual do homem. Assim, a infidelidade se tornava a quebra de um contrato entre iguais.

Tanto quanto o desejo sexual, o desejo por exclusividade também é natural do ser humano. Não é à toa que a fidelidade continua a ser um valor central. Evidências científicas mostram que há uma predisposição biológica à monogamia. Esta, além de favorecer a coesão social, assegura proteção emocional e física ao casal e à prole. Portanto, o desejo por vínculos exclusivos é igualmente autêntico.

Ainda assim, homens e mulheres traem – e pelas mais variadas razões: atração, carência, tédio, vingança, insegurança, desilusão, ou até por oportunismo. Há algumas décadas, a infidelidade tornou-se objeto de investigação científica. Enquanto no Brasil antropólogos estudavam as crises conjugais da geração que viveu a liberação das repressões, nos EUA um psiquiatra dedicou sua carreira a entender os impactos da infidelidade.

Frank Pittman identificou padrões de infidelidade conforme a fase do casamento. Nos dois primeiros anos, a traição é mais comum entre homens que não conseguem manter vínculos. Entre o segundo e o décimo ano, homens e mulheres infiéis vivem relações problemáticas, mas desejam manter o casamento, recorrendo ao adultério como fuga. Após dez anos, um terço dos casos extraconjugais surge entre pessoas que acreditam no casamento, mas se afastaram afetivamente. Esses são os únicos que costumam abandonar o casamento para ficar com os amantes.

Por trás desses padrões, há dois grupos: os que acreditam na monogamia e os que não acreditam. Mas ambos traem em momentos de crise, buscando alívio para o vazio, e não necessariamente por impulso. A infidelidade parece menos relacionada ao casamento ou ao parceiro e mais às angústias internas do próprio infiel — inclusive hormonais.

Hormônios como a testosterona e a oxitocina influenciam o comportamento afetivo e a capacidade de sustentar vínculos. Enquanto baixos níveis de testosterona reduzem o interesse sexual, a falta de contato físico prejudica a produção de oxitocina. Ao longo do tempo, o resultado é o afastamento emocional entre os parceiros. Isso sim abre espaço para que estranhos cruzem a barreira de intimidade do casal e a traição aconteça.

A escolha de um amante raramente é intencional. Não se trata de alguém melhor que o cônjuge, mas alguém disponível num momento de fragilidade da relação. O amante é, acima de tudo, alguém que está acessível — no tempo, no espaço e na função que cumpre: preencher o vazio de quem trai.

Seja qual for a fase do casamento, a traição parece decorrer mais da solidão e da insegurança afetiva em casa do que de uma atração incontrolável na rua. Mas vale lembrar que, em qualquer fase, homens e mulheres são capazes de controlar impulsos, respeitar pactos e cultivar vínculos duradouros.

 

 

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