Do tarifaço aos vistos cassados: Entenda a escalada da crise entre Brasil e EUA
O governo de Donald Trump revogou, na noite desta sexta-feira, os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de seus familiares. A medida foi tomada poucas horas depois de o ministro Alexandre de Moraes impor tornozeleira eletrônica e outras restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão de Moraes faz parte da nova investigação que apura uma suposta tentativa de coagir o Supremo, por meio de sanções americanas, para reverter o julgamento no qual Bolsonaro é réu por tentativa de golpe de Estado.
O episódio marca o ápice de uma crise que escalou rapidamente nos últimos dias, iniciada com o tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a todos os produtos brasileiros importados e agravada por trocas públicas de acusações entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, articulações políticas do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e uma sucessão de gestos diplomáticos com forte carga simbólica. A seguir, veja os principais marcos dessa escalada:

7 de julho – Trump fala em ‘caça às bruxas’ contra Bolsonaro e Lula responde
Em post na Truth Social, sua rede social, o presidente Donald Trump afirmou que o Brasil está fazendo uma “coisa terrível” no tratamento dado a Bolsonaro. “Deixem Bolsonaro em paz”, escreveu, classificando os processos contra o ex-presidente como “perseguição” e “caça às bruxas”.
A publicação foi interpretada como resultado da articulação conduzida nos bastidores por Eduardo Bolsonaro. Desde o início de junho, o deputado afirma ter promovido reuniões com congressistas republicanos e assessores próximos a Donald Trump para buscar sanções americanas contra ministros do Supremo – em especial Moraes, relator da ação penal que acusa seu pai de tentativa de golpe de Estado.
Por meio de nota, o presidente Lula rebateu a ofensiva e afirmou que o Brasil é um “país soberano” que não aceita “interferência ou tutela de quem quer que seja”.
9 de julho – Trump anuncia tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros
Trump anunciou tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, com início previsto para 1º de agosto. Entre as justificativas apresentadas, estão o tratamento dado pelo País a Bolsonaro e as decisões do STF contra empresas americanas de tecnologia. “Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!”, escreveu o ex-presidente.
No mesmo dia, Eduardo Bolsonaro agradeceu o apoio de Trump e publicou nota em que apelou para que as autoridades brasileiras “evitem escalar o conflito e adotem uma saída institucional que restaure as liberdades”, em referência à aprovação, pelo Congresso, de uma anistia para Bolsonaro.

10 de julho – Bolsonaro diz ter ‘admiração’ pelo governo americano
Um dia após o anúncio do tarifaço, Bolsonaro afirmou em sua rede social que tem “respeito e admiração pelo governo dos Estados Unidos” e atribuiu a decisão à política externa da gestão Lula. “Isso jamais teria acontecido sob o meu governo”, escreveu no X (antigo Twitter).
Já Eduardo Bolsonaro elevou o tom contra Moraes. Em vídeo publicado em seu perfil no Instagram, o parlamentar desafiou o ministro a incluir o presidente dos EUA no inquérito das fake news e afirmou que Trump vai “para cima” de Moraes.
14 de julho – PGR pede condenação de Bolsonaro
A Procuradoria-Geral da República pediu a condenação de Bolsonaro, de ex-ministros e de militares que, segundo a acusação, integraram o “núcleo crucial” do plano de golpe de Estado. Com a soma das penas, Bolsonaro pode ser condenado a até 43 anos de prisão.
17 de julho – Trump envia carta de apoio a Bolsonaro
Donald Trump publicou na Truth Social uma carta endereçada a Bolsonaro. No texto, afirmou que o tarifaço é uma “manifestação de desaprovação” à ação penal que acusa o ex-presidente brasileiro de tentativa de golpe de Estado.
17 de julho – Lula chama Trump de ‘imperador do mundo’ e Casa Branca reage
Em entrevista à CNN Internacional, Lula voltou a criticar Donald Trump e rebateu a alegação de que o STF estaria perseguindo Bolsonaro. “Nós não podemos ter o presidente Trump esquecendo que ele foi eleito para governar os Estados Unidos, e não para ser o imperador do mundo”, afirmou.
Em resposta, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que “Trump não está tentando ser o imperador do mundo”.
18 de julho – Bolsonaro é alvo de medidas cautelares
Moraes determinou uma série de medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de contato com autoridades estrangeiras e com seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro.
Na decisão, Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República e instaurou nova investigação, afirmando que os elementos reunidos demonstram uma atuação coordenada entre Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro para coagir o Supremo a interferir no julgamento da ação penal que acusa o ex-presidente de tentativa de golpe de Estado. Ambos passaram a ser investigados no novo inquérito.
Segundo o ministro, ficaram caracterizados os crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal envolvendo organização criminosa e atentado à soberania por parte de Bolsonaro.

19 de julho – EUA cassam vistos de ministros do STF e de seus familiares
A revogação dos vistos diplomáticos de ministros do Supremo e de seus familiares foi anunciada pelo secretário de Estado do governo Trump, Marco Rubio. A medida foi tomada poucas horas depois de o ministro Alexandre de Moraes impor tornozeleira eletrônica e outras restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O presidente Trump deixou claro que seu governo responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura de expressão protegida nos Estados Unidos. A caça às bruxas política do Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil, atingindo os americanos”, escreveu Rubio na rede social X.