Resistência a Nunes e Kassab impulsiona vice de Tarcísio como alternativa para sucessão em São Paulo
Um novo nome entrou no radar da possível sucessão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo: o do vice-governador Felício Ramuth (PSD). Antes tratado como um nome fora do jogo, Ramuth passou a ser citado por dirigentes partidários e políticos paulistas como uma alternativa para unificar a base do governador — especialmente diante das resistências à possível candidatura do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou do presidente do PSD, Gilberto Kassab.
Procurado, Ramuth não quis dar entrevista sobre o tema. Segundo assessores, caso ele assuma o governo em abril, vai conduzir uma transição discreta, valorizando a composição do secretariado e a continuidade dos projetos da atual gestão. Sobre uma eventual candidatura ao Palácio dos Bandeirantes, ele tem dito a aliados que, apesar do cenário indefinido e das especulações, seu projeto é estar ao lado de Tarcísio e dos partidos da base para garantir que São Paulo siga na “direção certa”, independentemente de quem será o candidato do grupo.
Tarcísio tem repetido que disputará a reeleição, mas sua candidatura presidencial ganha força à medida em que a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se aproxima – na sexta-feira, ele foi alvo de busca e apreensão e passou a utilizar tornozeleira eletrônica.
Nos últimos dias, o ex-presidente entrou em campo para que Eduardo Bolsonaro (PL) interrompesse ataques a Tarcísio e disse que Michelle Bolsonaro (PL) será candidata a senadora pelo Distrito Federal. Os gestos foram vistos como uma sinalização que, no frigir dos ovos, o governador paulista será o nome escolhido por ele.
O nome de Ramuth ganha espaço num momento em que a candidatura de Ricardo Nunes — até aqui tratado como o herdeiro natural de Tarcísio — enfrenta resistências. A principal delas é o temor de uma gestão comandada pelo seu vice, o coronel aposentado Ricardo Mello Araújo (PL). Mello Araújo foi alçado ao posto por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e não tem vínculos com outras lideranças partidárias. O receio de aliados de Nunes é que, uma vez no cargo, Mello Araújo imploda a coligação que garantiu a reeleição de Nunes.
Além disso, há quem defenda que o MDB já foi suficientemente contemplado com a reeleição de Nunes em São Paulo. Aliados de Tarcísio lembram que a vitória do prefeito foi conquistada a duras custas, a partir de um esforço coletivo dos partidos da coligação e do envolvimento pessoal do governador, que se indispôs com o bolsonarismo para levar o projeto do aliado adiante. A avaliação de parte das legendas da base de Tarcísio é que a “fatura” do MDB já está paga e que não há motivo para partidos como PL ou União Brasil abrirem mão de uma candidatura própria em benefício do prefeito. Embora negue publicamente intenção de disputar o governo, Nunes afirmou nesta semana que, se fosse convocado por Tarcísio, não teria como negar.
Já a candidatura de Kassab, correligionário de Ramuth, sofre rejeição dos próprios caciques da centro-direita, que o acusam de adotar uma estratégia agressiva de filiações. No último pleito municipal, o PSD se tornou o partido com o maior número de prefeituras pelo País. E não é só isso: Kassab também enfrenta desconfiança dentro do bolsonarismo por sua posição ambígua no cenário nacional e local: embora seja secretário de Governo de Tarcísio, seu partido está à frente de três ministérios na gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Até o próprio governador reconhece, em conversas reservadas, que seria uma operação delicada ter Kassab na chapa em 2026.
Mesmo jogando parado, Ramuth tem ganhado força como alternativa viável à sucessão de Tarcísio, impulsionado pelas circunstâncias do xadrez partidário. Entre os que defendem Ramuth como o melhor nome para a sucessão, há pelo menos quatro argumentos centrais.
O primeiro é que ele já estaria no cargo de governador, com a máquina estadual à disposição para buscar a reeleição. O segundo é que cumpriria apenas um mandato, abrindo espaço para outras lideranças em 2030. O terceiro é sua experiência administrativa: foi duas vezes prefeito de São José dos Campos, uma das mais importantes cidades do Estado. E o último é que, embora não seja bolsonarista, tem bom trânsito com o grupo e um histórico de oposição ao PT desde os tempos de prefeito. Nos últimos meses, o vice-governador esteve em duas agendas ao lado de Bolsonaro, e em uma delas ganhou a medalha de “imbrochável, imorrível e incomível”.
Contam a seu favor o fato de ser visto como alguém leal a Tarcísio — qualidade mencionada pelo próprio governador — e o bom relacionamento com o setor privado — fruto, em parte, do fato de também ser empresário.
Outros partidos de olho na vaga
O maior desafio de Ramuth é o baixo grau de conhecimento entre os eleitores e a concorrência acirrada pela sucessão paulista, que tem no páreo, além de Nunes e Kassab, o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), e o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), André do Prado.
Antonio de Rueda, presidente do União Brasil, disse ao Estadão que a federação União Brasil e Progressistas terá candidato ao governo de São Paulo se Tarcísio disputar a Presidência. “Poderá ser Derrite ou outro nome”, afirma Rueda.
Kassab tem priorizado seu próprio projeto e, na visão de integrantes de outros partidos, isso poderia levar o vice a trocar de legenda — hipótese que aliados de Ramuth negam. Procurado, Kassab disse que a formação da chapa em São Paulo será liderada por Tarcísio. “O governador é quem vai definir a chapa. O que ele determinar terá meu apoio e do PSD”, afirmou o dirigente partidário.
André do Prado, por sua vez, é hoje um dos principais aliados de Tarcísio no Estado. Além de ser filiado ao PL, é pupilo do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e demonstrou força política ao conquistar o feito inédito de se reeleger presidente da Assembleia. Graças à sua articulação, Tarcísio aprovou todos os projetos que enviou à Casa, incluindo os mais polêmicos, como a privatização da Sabesp e a PEC que flexibiliza os gastos com educação.
Por outro lado, adversários afirmam que André do Prado carece de “densidade eleitoral” para encabeçar a chapa ao governo e tem mais perfil para compor como vice. Antes de se eleger deputado estadual, ele foi prefeito de Guararema (SP), cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, bem menor que São José dos Campos, que tem cerca de 700 mil habitantes.
No Palácio dos Bandeirantes, Ramuth é descrito como o “vice ideal”: discreto, não disputa espaço com Tarcísio, não produz crises e cumpre as missões que recebe do governador. Uma delas é a presidência do Conselho Diretor do Programa de Desestatização, responsável por autorizar estudos e ajustes em projetos de Parcerias Público Privadas (PPPs), concessões e privatizações.
O vice também assumiu um dos maiores calcanhares de Aquiles do governo paulista: a Cracolândia. Em maio, o governo comemorou o esvaziamento da rua dos Protestantes, onde os usuários costumavam ficar concentrados.
Antes de migrar para o PSD, Ramuth foi filiado ao PSDB. Fazia parte do grupo aliado ao hoje vice-presidente da República Geraldo Alckmin (PSB) e crítico da gestão João Doria. Ele chegou a ser lançado pré-candidato ao governo pelo PSD após Alckmin desistir de concorrer ao Palácio dos Bandeirantes para ser vice de Lula, mas acabou sendo escolhido como vice de Tarcísio – naquele momento da disputa eleitoral, o establishment paulista apostava suas fichas na vitória de Rodrigo Garcia.
Ramuth se posiciona como um político de centro-direita. Votou em Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018, mas fez críticas à condução da pandemia e à aliança do então presidente com o centrão. Recentemente, adotou posicionamentos alinhados ao bolsonarismo, criticando publicamente as penas aplicadas aos envolvidos no 8 de janeiro e participando de manifestações do grupo em São Paulo.
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