25 de julho de 2025
Politica

Hélio Lobo Júnior (8.4.1947 – 6.7.2025)

A morte de Hélio Lobo Júnior leva uma boa parte do meu patrimônio afetivo. Conheci-o quando ambos éramos Promotores Públicos, no ano de 1973. Em companhia de Jorge Luiz de Almeida, fui ao enterro de um colega de concurso falecido em acidente. Lá estava Hèlinho, falante, extrovertido, muito simpático. Era estimado por todo o Ministério Público e se destacava com seu singular talento. Sua primeira comarca foi Ubatuba.

Eis que resolveu ingressar na Magistratura. Quando nomeado, foi para a Circunscrição de Caraguatatuba e continuou a residir em Ubatuba. Fui para lá, como Promotor titular, e me encontro com ele logo no primeiro dia. Disse que a Diva, sua esposa, fizera um jantar para me receber. Fui para a casa deles e fiquei conversando com o Hélio horas a fio. Quando percebemos um clarão, havia amanhecido. Ambos moços, ele me conduzia à garupa da moto que pilotava como profissional. E eu confiava nele.

Tornamo-nos grandes amigos. Convivência diuturna. Foi a Diva quem me apresentou Maria Luíza, com quem vim a me casar. Hélio e Diva foram meus padrinhos. Foram nos visitar em Barretos e nossas crianças conviveram. Eles tiveram Ana Paula e Renato (disseram que meu prenome havia reforçado o acerto da escolha). Nós tivemos João Baptista, José Renato, Ana Beatriz e Ana Rosa.

Sigo os mesmos passos e ingresso na Magistratura. Ele, na área dos Registros Públicos, logo me chama. Passo a auxiliar na 1ª Vara de Registros Públicos e ele é logo chamado a assessorar o Corregedor Geral. Enquanto isso, nossa amizade se fortalecia. Vivíamos a nos frequentar. Muitos encontros em sua casa e na minha. Cheguei a passar fim de semana em Itapetininga, na fazenda de seu irmão. Eles já haviam estado em Barretos em nossa casa e todas as demais mudanças não alteraram o nosso regime de visitas assíduas.

Nossas crianças cresceram juntas e amigas. Hélio quis que eu também integrasse a Equipe de Correições. Àquele tempo, os já integrantes faziam uma votação e bastava uma bola preta para impedir que um novo entrasse no grupo. Ele batalhou e insistiu. Mas foi necessário que o Desembargador Young da Costa Manso fosse eleito Vice-Presidente e indicasse meu nome para o Corregedor Sylvio do Amaral para que eu chegasse lá.

Se existe amizade fraterna, essa é paradigmática desse conceito. Não estávamos todos os dias juntos. Mas a cada oportunidade, era difícil ir embora. Havia assuntos e uma identificação de interesses. Ele adorando sua Itapetininga, que passei a amar por causa dele. Ele frequentando Jundiaí, por minha causa.

Erudito, perspicaz, atilado, sabia resolver questões jurídicas intrincadas, principalmente na área urbanística e registral. Aposentou-se precocemente, mas nunca deixou de estudar, de produzir artigos, de se interessar pelas constantes modificações normativas.

A presença de Hélio Lobo em uma roda era a certeza de animação, de risos, de camaradagem. Ficava logo amigo de todos. Cheguei a levá-lo à Villa que Dom Agnelo Rossi construiu em Helvetia, bairro suíço em Indaiatuba, onde hoje residem Sylvia e o desembargador Francisco Vicente Rossi. Hélio conquistou logo o Cardeal, que fez uma alusão muito simpática ao seu nome: Hélio, o sol. Era assim Hélio Lobo Júnior, um sol radiante, a generosidade na partilha de seu bom humor, de seu alto astral, de sua permanente alegria de estar de bem com a vida. Feliz na sua missão de fazer Justiça, elegante no trato de todas as pessoas. Sempre disponível, sempre paciente, nunca se mostrou amargurado, hostil, irritado.

Era frequente o seu chamado para que eu fosse à sua casa, agora na Bela Cintra, bem próxima à minha. Tomávamos vinho e os assuntos não acabavam. Sempre havia mais algo a comentar.

Quando soube que ele não estava bem, fui vê-lo. Não faz um mês. Estava magro. Mas falou sobre o tratamento, sabia da inexistência de cura. Nem por isso se abateu. Contou, orgulhoso, que o neto mais velho iria estudar nos Estados Unidos. Lembramos passagens gostosas desse mais de meio século de fraterno convívio. Quis me segurar mais um pouco. Receei cansá-lo. Prometi voltar. Não deu tempo.

Fica um baú repleto de boas memórias. E a esperança de um dia revê-lo para colocar a conversa em dia. Antes disso, Hèlinho, você deixa um vazio impreenchível. Que saudades de você!

 

 

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