26 de julho de 2025
Politica

Muito além do ‘austericídio’: Haddad e Gleisi se unem para isolar aliados de Bolsonaro no Congresso

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vai fazer dobradinha com a titular de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, nas articulações políticas com o Congresso para isolar aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a partir de agosto, quando terminam as férias parlamentares. Ferrenhos adversários no PT, os dois se uniram no governo para cumprir a meta fiscal, dispostos a enfrentar a rebelião que se anuncia com a possível prisão de Bolsonaro.

Revoltados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o Supremo Tribunal Federal (STF), deputados e senadores do PL e do Centrão prometem obstruir votações de interesse do Palácio do Planalto.

Haddad e Gleisi eram ferrenhos adversários no PT, mas se uniram no governo
Haddad e Gleisi eram ferrenhos adversários no PT, mas se uniram no governo

Interlocutores de Lula avaliam, por sua vez, que Bolsonaro age para alimentar uma estratégia de vitimização. Mas há também quem veja exagero nas decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes, que, além de determinar o uso de tornozeleira eletrônica por parte do ex-presidente, o proibiu até mesmo de dar entrevistas.

Nesse cabo de guerra, enquanto o governo e o PT colam em Bolsonaro e em seu filho Eduardo, hoje deputado licenciado, o desgaste do tarifaço de 50% imposto ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, a oposição joga a culpa no colo de Lula e de Moraes, relator da trama golpista no STF.

Haddad e Gleisi sabem que o Congresso retomará as atividades com a faca nos dentes após o presidente vetar o aumento do número de deputados federais de 513 para 531. Além disso, nem a Câmara nem o Senado engoliram a derrota no caso do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Chamado de “Taxad”, Haddad foi jogado no ringue justamente depois que propôs o aumento do IOF. O chefe da equipe econômica enfrentou a oposição do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e teve o inesperado apoio de Gleisi até que, quase indo a nocaute, virou o jogo ao encontrar uma mensagem de apelo popular: falou em cobrar impostos do “andar de cima”.

Haddad e Rui Costa sempre tiveram divergências
Haddad e Rui Costa sempre tiveram divergências

Mais do que uma propaganda de curto prazo, o discurso da reforma da renda será o mote da campanha de Lula à reeleição, em 2026. O desafio do governo, agora, é conseguir dinheiro para fechar as contas. As de 2025 estão resolvidas, mas as do ano que vem, não.

É aí que entram em cena o PL de Bolsonaro e partidos como o PP, o União Brasil e o PSD, todos com o mesmo propósito: atrapalhar ao máximo a vida de Lula no Congresso. Embora comande ministérios, o Centrão também ameaça derrubar a Medida Provisória que prevê a incidência de Imposto de Renda sobre novas emissões de títulos, como letras de crédito agrícola e imobiliário.

Apenas com essa MP, o governo pretende arrecadar R$ 31,4 bilhões até 2026. Sem esse dinheiro, a equipe econômica já avisou que terá de cortar emendas parlamentares, o que agravaria ainda mais a crise com o Congresso.

Diante desse cenário de dificuldades, e com a sirene do apocalipse que vem dos EUA tocando cada vez mais forte, Gleisi se aliou a Haddad.

A resolução política do PT, que, sob comando da então deputada, chamava o arcabouço de “austericídio fiscal”, virou pó. E o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que sempre deu as cartas no Centrão, é hoje chamado nos corredores do Planalto de “companheiro Lira”.

Lula e o PT apostam agora na desidratação de Bolsonaro e de seus possíveis herdeiros, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para avançar mais algumas casas nesse tabuleiro.

Mas é bom ter cautela: com Trump e Bolsonaro na parada, tudo pode acontecer, inclusive nada. O jogo é de alto risco e desfecho imprevisível

 

 

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