PL quer força-tarefa para manter engajamento digital de Bolsonaro, proibido de usar as redes sociais
BRASÍLIA — Três dias após ser alvo de medidas cautelares pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro deve contar com os seus aliados para não perder engajamento digital enquanto estiver proibido de usar as redes sociais. Os deputados federais do PL discutiram estratégias numa reunião nesta segunda-feira, 21, para alinhar um discurso em prol do ex-presidente e mantê-lo em evidência.
Ainda que as medidas impostas incluíssem a proibição do uso de redes sociais, o ministro Alexandre de Moraes decidiu nesta segunda-feira que a participação em transmissões ao vivo em qualquer plataforma, inclusive em contas de terceiros, pode render prisão a Bolsonaro por descumprimento de determinação judicial.

A decisão representa um revés para a estratégia de Bolsonaro de manter a militância energizada em torno de sua defesa. Logo após a instalação da tornozeleira eletrônica, por exemplo, Bolsonaro falou a jornalistas em cinco oportunidades ao longo da sexta-feira, entre coletivas de imprensa e entrevistas exclusivas a veículos de comunicação.
Agora, Bolsonaro foi orientado por seus advogados a ficar longe dos holofotes, a fim de não descumprir as determinações judiciais. Ele foi obrigado a cancelar duas entrevistas que daria na tarde de segunda, por temor de ser preso por descumprimento judicial.
Os deputados federais do PL pretendem redobrar as publicações em defesa do ex-presidente e turbinar o conteúdo bolsonarista redes sociais. Na reunião feita na sede da liderança na Câmara, houve cobrança para que os parlamentares que movimentam pouco os seus perfis façam mais publicações.
Para garantir que haja conteúdo disponível àqueles pouco afeitos às redes e criar um alinhamento da bancada em momento de defesa de seu líder, um grupo de deputados vai abastecer os demais com publicações.
O encontro tinha como pautas, inicialmente, discutir mobilizações nacionais por Bolsonaro, elencar as prioridades legislativas para o segundo semestre e alinhar a comunicação em defesa do ex-presidente, mas a determinação de Moraes de proibi-lo de dar entrevistas tomou conta do ânimo geral. A censura a Bolsonaro foi tema da coletiva de imprensa feita no Salão Verde da Câmara após a reunião da bancada.
“Bolsonaro gostaria de falar a toda a imprensa nacional. Entretanto, por mais uma ordem de censura do ministro Alexandre de Moraes, preventivamente os seus advogados recomendaram não falar mais com a imprensa. Essa é a democracia relativa que estamos vivendo”, abriu a coletiva de imprensa o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do partido.
Longe de Eduardo
Bolsonaro havia dito na sexta-feira que, entre as medidas cautelares impostas pelo STF, a pior era a proibição de falar com Eduardo — as demais incluem recolhimento noturno e impedimento de deixar Brasília. Nos últimos dias, o contato com o deputado federal que hoje vive nos Estados Unidos vinha sendo importante para manter a comunicação alinhada à articulação que vem sendo feita pelo filho.
A semana passada, na esteira da crise do tarifaço do presidente americano, Donald Trump, foi de vaivéns para Bolsonaro, e uma conversa com Eduardo levou a uma mudança de postura do ex-presidente.
Desde que Trump anunciou que vai taxar os produtos brasileiros em 50%, citando julgamentos contra Bolsonaro e as plataformas digitais no STF, lideranças do bolsonarismo vinham batendo cabeça e destoando entre si na postura para lidar com o episódio. Eduardo chegou a criticar publicamente a iniciativa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de tentar resolver a questão passando por cima da anistia ao 8 de Janeiro como uma condição necessária para a retirada das tarifas.
Isso porque Eduardo se licenciou em março do mandato na Câmara dos Deputados para permanecer nos Estados Unidos, onde ele diz desde o início trabalhar para pressionar a Casa Branca a impôr sanções contra o STF. Com o ataque tarifário de Trump anunciado na semana passada, porém, Eduardo vem defendendo que apenas uma anistia “ampla, geral e irrestrita” no Congresso Nacional seria a solução para lidar com as tarifas de Trump — por isso, uma resolução diplomática como a articulada por Tarcísio vai contra o plano de Eduardo.
O embate entre os dois havia escalado a ponto de Eduardo dizer que a movimentação de Tarcísio seria um “desrespeito com ele” e uma “subserviência servil às elites“. Além de ter se reunido com um representante da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília na sexta-feira passada, o governador se reuniu com empresários nesta semana para tentar costurar uma solução para a indústria paulista — que pode ser pesadamente afetada pelo tarifaço.
O “fogo no parque” dos bolsonaristas motivou uma força-tarefa entre o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os senadores Rogério Marinho (PL-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI), que se reuniram no começo da tarde da terça-feira, 18, para discutir como apagar o incêndio. Eles então acionaram Jair e Flávio Bolsonaro, senador pelo PL do Rio, para intermediar uma pacificação entre Eduardo e Tarcísio.
Na entrevista que deu ao site Poder360, às 16h, Bolsonaro já refletia o apelo feito pelos seus aliados. Ele disse que seu filho “não é favorável à medida aqui no Brasil” e que “ninguém está vibrando com a taxação”. Também afirmou que estava tudo pacificado entre Eduardo e Tarcísio, e que o filho “não é tão maduro, talhado para a política”.
“Hoje foi botada uma pedra em cima. Conversei com Eduardo e conversei com o Tarcísio. E está tudo pacificado. Tarcísio continua sendo meu irmão mais novo e vamos em frente. Não podemos dividir. O Tarcísio é um tremendo de um gestor. Nada de crítica para ele. Se tiver, é por telefone pessoal”, declarou Bolsonaro ao Poder360.
O comentário sobre a maturidade incomodou Eduardo, e ele fez uma ligação com o pai, na presença de outras pessoas, para reclamar que aquilo menosprezava a sua atuação nos Estados Unidos. A conversa fez Bolsonaro mudar o tom de novo em relação aos papéis do deputado federal e do governador paulista na crise. Na entrevista que deu à CNN Brasil na mesma noite, o ex-presidente passou a defender Eduardo e criticar Tarcísio, sobre quem tinha dito pouco antes que não tinha críticas.
“Eduardo tem 40 anos de idade, uma pessoa que tem responsabilidade. Esta aí abrindo mão, é o deputado mais votado da história do Brasil, ele tem consciência que se ele voltar pra cá ele vai ser preso. Tem que ser reconhecido o trabalho dele. Não adianta um governador de estado, com todo o respeito que tenho a ele, tentar resolver dentro do seu estado, que não vai resolver o assunto. Resolve é lá (nos EUA). O Eduardo está à disposição de qualquer governador para tratar desse assunto”, afirmou, num trecho que ele mesmo publicou nas redes sociais.