30 de julho de 2025
Politica

Agente de contrainteligência da trama do golpe admite que buscou dados sobre parente de Barroso

Apontado como um dos responsáveis por espionar desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o subtenente do Exército Giancarlo Gomes confirmou, em depoimento nesta quinta-feira, 24, em interrogatório na ação do golpe – ele é réu do ‘núcleo de desinformação’ – que, enquanto atuava na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), buscou informações sobre suposta ligação de um parente do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, e a Positivo – empresa que fabricou parte das urnas eletrônicas para as eleições de 2022.

Giancarlo também afirmou que, ‘a mando’ do policial federal Marcelo Bormevet – superior dele na Abin -, fez pesquisas de placas de carros relacionadas a Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente. A missão, segundo o subtenente, também foi executada a mando do delegado da PF Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Abin.

Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército e ex-servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)
Giancarlo Gomes Rodrigues, subtenente do Exército e ex-servidor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin)

A acusação da Procuradoria-Geral da República atribui a Ramagem, Bormevet e Giancarlo a formação de um núcleo específico na trama do golpe em favor de Bolsonaro. “O núcleo atuava como central de contrainteligência da organização criminosa que, por meio dos recursos e ferramentas de pesquisa da Abin, produziu desinformação contra seus opositores.”

No interrogatório desta quinta, 24, Giancarlo informou que, apesar de saber utilizar o programa de espionagem First Mile, teria perdido acesso ao sistema quando foi trabalhar na diretoria vinculada a Marcelo Bormevet. Ele explicou que, mesmo usando o programa mais de 800 vezes, não tinha conhecimento sobre a finalidade das pesquisas. “99% das vezes só chegavam com um número de telefone e pediam o resultado”, afirmou.

O subtenente narrou que recebia muitos pedidos – na maioria das vezes por mensagens privadas no WhatsApp e de forma informal – para fazer ‘perfis’ de adversários do governo Bolsonaro. “Fiz muitas pesquisas da direita, muitos perfis da esquerda e muitas pesquisas neutras.”

Afirmou que reunia uma série de informações públicas de pessoas, que incluíam redes sociais, histórico de processos e posicionamento político. Depois elaborava um relatório que era encaminhado para seu chefe, Marcelo Bormevet.

Giancarlo negou ter feito pesquisa sobre um inquérito que citava Jair Renan, mas confirmou consultas sobre os carros do filho de Bolsonaro e da mãe dele, embora não soubesse dizer qual era a finalidade das buscas, pois a ‘ordem veio de seu chefe’.

“A finalidade da pesquisa nunca chegava a mim. Eu não conhecia o contexto porque a minha função era coletar dados em fontes abertas e fazer uma compilação dessas informações.”

Audiência AP 2694 (Núcleo 4)
Audiência AP 2694 (Núcleo 4)

Ele alegou desconhecimento das intenções, citando a “cultura da compartimentalização da informação”, em que os agentes são desencorajados a buscar o contexto das atividades.

O subtenente confirmou que fez uma pesquisa sobre um fiscal do Ibama, a mando de Ramagem. Segundo a denúncia da PGR, ‘Bormevet determinou que Giancarlo pesquisasse o nome do fiscal do Ibama, Hugo Ferreira Netto Loss, e apresentou a motivação de que o alvo, por ter exercido as suas funções regulares de fiscalização, ‘atingiu agora o presidente da República diretamente’.”

Segundo Giancarlo, outros agentes da Abin também estavam envolvidos no uso do First Mile para monitorar o telefone do fiscal. Ele reclamou. “Essas pessoas não estão na ação do golpe.”

A PGR alega que Bormevet orientou Giancarlo a encaminhar informações falsas sobre ministros do Supremo Tribunal Federal para o chamado ‘grupo dos malucos’ – suposto canal de apoiadores do ex-presidente – com essa finalidade. Giancarlo confirmou ter feito o encaminhamento da mensagem, mas negou pesquisas sobre ministros. Ele disse que apenas teria “repassado a informação”.

 

 

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