27 de julho de 2025
Politica

Assim como Trump deu uma boia para Lula, Alexandre de Moraes deu para Bolsonaro; e recuou

Alexandre de Moraes está sendo para Jair Bolsonaro o que Donald Trump foi para Lula, pelo menos no primeiro momento da guerra do tarifaço de 50%: uma boia de salvação, ou a chance de ouro para sair do fundo do poço, ganhar apoio, visibilidade, propaganda e o discurso da união.

Quanto mais o relator da trama do golpe endurece contra o réu, mais o réu se passa por vítima, faz o papel de bom menino e até chora, de olho no Congresso e nas próximas pesquisas de opinião. Nas últimas, ele foi o que mais caiu, enquanto Lula foi o que mais ganhou pontos após as investidas de Trump e já até articula reação em todos os continentes.

Essa articulação, principalmente com Europa, Ásia e Brics, tende, aliás, a ganhar ainda mais consistência a partir de agora, com os EUA de olho grande nos minerais críticos do Brasil – assim como na Ucrânia e na Groenlândia. O mundo tem de reagir, enquanto é tempo. E o que a família Bolsonaro dirá? Vai apoiar Trump também dessa vez, contra o Brasil?

O ministro Alexandre de Moraes durante sessão da Primeira Turma no STF
O ministro Alexandre de Moraes durante sessão da Primeira Turma no STF

Ao determinar medidas cautelares para Bolsonaro, como tornozeleira, horários de saída de casa e veto ao uso da internet e a conversas com o filho, Alexandre de Moraes se baseou na PF e na PGR, que detectaram risco de fuga e obstrução de justiça. Afinal, o ex-presidente já se escondera antes numa embaixada e, já réu, ampliou seus contatos nos EUA e mandou R$ 2 milhões para o filho, que se diz “exilado” no país.

O maior questionamento à decisão de Moraes foi quanto à oportunidade: no dia seguinte à carta abusada de Trump para Lula, exigindo o fim do processo contra Bolsonaro em troca do recuo no tarifaço. Até aí, tudo bem. Usar decisões judiciais contra Bolsonaro para retaliar Trump não fez, ou não faria, sentido, mas as cautelares foram bem assimiladas nos meios políticos e jurídicos.

O que complicou para Moraes e facilitou para Bolsonaro foi o movimento seguinte, quando o ministro ameaçou o ex-presidente de prisão por “descumprir as cautelares”. Foi um presentão para a defesa, para quem que não houve descumprimento e deu um xeque-mate: que controle de Bolsonaro tem sobre o destino de suas entrevistas a rádios, jornais, TVs e sites? Como ele poderia impedir que fossem parar nas redes? A saída de Moraes seria proibir as próprias entrevistas. Uma não saída, porque caracterizaria censura – palavrinha fácil nos ataques bolsonaristas ao STF – e abriria uma frente de batalha com a mídia.

A ameaça de prisão teve efeito bumerangue até na Primeira Turma do STF, que julga o golpe: o ministro Luiz Fux abriu dissidência e quebrou a unanimidade, questionando, inclusive, o ponto central das cautelares. Segundo ele, PF e PGR não deram “novas provas” de tentativa real de fuga. Mais do que isso, Moraes engrossou as críticas a ele e ao Supremo e reforçou o discurso de “perseguição política”, reanimando a militância e a bancada bolsonaristas.

Alexande de Moraes acusou o golpe, demorou muito a responder aos questionamentos da defesa de Bolsonaro e deu explicações tão confusas que nem os especialistas compreenderam. Ao descartar a prisão e resumir os descumprimentos das cautelares a uma “irregularidade isolada”, ele deixou claro: foi obrigado a recuar, mas não queria. Para um ego como o dele, deve ter doído, mas era necessário.

 

 

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