27 de julho de 2025
Politica

Lula surfa na culpa de Bolsonaro por tarifa de Trump, mas será cobrado por colocar lenha na fogueira

Surfando no presente político que ganhou com a imposição de tarifas de 50% ao País após campanha da família do ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deveria ter percebido que essa muleta não durará muito tempo. Sentado na cadeira de chefe de Estado e de governo, há uma semana do início da tarifa, cabe a ele resolver a pendenga que o antecessor ajudou a criar. E isso só será possível se ele abandonar o discurso político e partir para uma negociação da parte que é possível tratar com os americanos.

É evidente que a tarefa é difícil. Sobretudo pelo fato de que parte dos pontos colocados até aqui pela gestão Trump é inegociável. Não cabe qualquer interferência no Judiciário para salvar Jair Bolsonaro. Isso não está em discussão. Até aí, o discurso de soberania vai bem. Mas há o que tratar, como as tarifas que o Brasil cobra de produtos americanos que, em média, são mais altas do que as que o parceiro comercial historicamente nos cobrou. Eis um debate legítimo que, se não servir para derrubar as tarifas previstas para entrar em vigor no dia 1º, serviria para evitar que a situação se agrave ou mesmo para ganhar mais tempo para conversar. Outros países, como o Japão, as Filipinas e a Indonésia, conseguiram acordos nos últimos dias.

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva deveria estar criando condições para um diálogo com os americanos em vez de colocar lenha na fogueira
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva deveria estar criando condições para um diálogo com os americanos em vez de colocar lenha na fogueira

Até aqui, porém, Lula tem optado pelo caminho do confronto. Em discursos e entrevistas, em vez de demonstrar espaço para conversar, desanca Trump e o governo americano sempre que possível, para alimentar o discurso da soberania que lhe garantiu os primeiros bons números em pesquisas depois de muito tempo. Dizer, como afirmou em entrevista à CNN americana, que Trump seria preso se fizesse no Brasil o que fez no Capitólio e que o presidente dos EUA quer ser imperador do mundo, não abrirá qualquer caminho para o diálogo. E de nada adiantará colocar o vice Geraldo Alckmin para negociar ou criar um comitê de empresários para fazê-lo se as provocações continuarem.

O governo parece contar com modestos efeitos positivos iniciais da tarifa, com uma maior disponibilidade de produtos no mercado interno e a queda da inflação, o que seria precioso para a disputa eleitoral de 2026. Mas, como se sabe, os efeitos negativos que virão em seguida tendem a ser devastadores, sobretudo com a perda de postos de trabalho e capacidade de investimento das empresas exportadoras brasileiras, incluindo importantes setores do agronegócio.

É engano do presidente achar que qualquer efeito negativo poderá ser indefinidamente colocado nas costas de Bolsonaro. É claro que ele e a família serão lembrados como responsáveis diretos, ainda mais com parlamentares do PL estendendo bandeira de Trump no Congresso e com Eduardo e seus aliados bradando aos quatro ventos que têm participação direta nas sanções americanas. Mas, com o tempo, o eleitor vai questionar quem está sentado na cadeira sobre o que está fazendo para resolver o problema. Principalmente se as sanções piorarem.

 

 

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