30 de julho de 2025
Politica

Beraba: o bater de asas no jornalismo e na Abraji

Jornalistas apreciam buscar causas e consequências, anseiam por respostas que expliquem os fatos do mundo. E quem tentar entender quem foram as personalidades que moldaram o jornalismo no Brasil nas últimas cinco décadas certamente vai se deparar com o nome de Marcelo Beraba. O jornalista, falecido nesta segunda-feira, 28, aos 74 anos no Rio de Janeiro, é responsável, de forma direta e indireta, pela formação de milhares de profissionais de imprensa.

Para usar a metáfora do efeito borboleta, o dia em que ele decidiu que o país precisava de uma organização voltada para treinamento de jornalistas e para oferecer uma rede de apoio e acompanhamento, Beraba mudou a vida de incontáveis profissionais. Ele garantiu, com a ajuda de muitos outros, que se seguiram a esse impulso inicial, a criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em 2002. O contexto era atroz: o assassinato do repórter Tim Lopes pelo narcotráfico.

Marcelo Beraba, em 2010, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura
Marcelo Beraba, em 2010, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura

Beraba usou a indignação responsável e direcionada para estruturar, a muitas mãos, uma iniciativa que se preocupa em criar condições para que jornalistas exerçam seu papel. A atuação mais evidente da Abraji é a aposta em cursos e outras maneiras de formação, especialmente o congresso anual, que em 2025 completou duas décadas. Além da área de aperfeiçoamento, os sistemas de proteção, seja contra ataques físicos, verbais, digitais ou judiciais, permitiram que centenas de profissionais se sentissem acolhidos.

Enfim, embora jornalistas gostem de números e dados, há muito já perdemos as contas de quantas foram as pessoas beneficiadas pelas ações da Abraji. Todos os presidentes que me precederam (Angelina Nunes, Fernando Rodrigues, Marcelo Moreira, José Roberto de Toledo, Thiago Herdy, Daniel Bramatti, Marcelo Träsel e Natália Mazotte) beberam da fonte desbravada por Beraba e seguiram prestando esse importante serviço à sociedade.

Mas é verdade que, muito antes de lançar a pedra fundamental da Abraji, Beraba já tinha sido fundante no Jornalismo. Como repórter, usou técnica e perspicácia para revelar casos marcantes da história brasileira, como o episódio do Riocentro. Como editor, esteve por trás e ombro a ombro com profissionais que trouxeram à tona histórias bem contadas e cruciais no país. Passou por vários dos principais veículos, chefiando, tomando decisões importantes, mas sem deixar de colocar a mão na massa e ajudar nas apurações. Ao longo dos anos, ministrou muitos cursos em programas de treinamentos, auxiliando gerações de jornalistas em início de carreira. Todas essas marcas são indeléveis. Assim, Beraba seguirá vivo em cada jornalista que teve a sua vida tocada pelas atitudes que ele tomou. Que a metamorfose continue!

*Katia Brembatti, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e editora no Estadão Verifica

 

 

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