1 de agosto de 2025
Politica

Eleitorado do centro que já decidiu duas eleições agora tem a chance de afirmar alternativa própria

Livrar-se de um líder carismático nunca é tarefa fácil. O carisma, como observou Max Weber, é uma qualidade extraordinária que faz com que um indivíduo seja percebido por seus seguidores como alguém dotado de poderes excepcionais. Essa percepção gera uma forma de dominação legitimada pela devoção pessoal a essas supostas qualidades. Em contextos de instabilidade, o carisma pode se transformar em uma força política poderosa — mas também em uma armadilha.

A autoridade carismática, embora mobilizadora, é frágil quando desvinculada de competências institucionais. Líderes que abusam dessa força simbólica — seja por desrespeito às regras do jogo democrático, seja por comportamento errático ou irresponsável — tendem a perder legitimidade. E, com ela, o encanto que os mantinha no centro da cena política.

Eleitorado de centro elegeu Lula em 2022, como havia feito com Bolsonaro em 2018, mas hoje as duas figuras enfrentam desgaste
Eleitorado de centro elegeu Lula em 2022, como havia feito com Bolsonaro em 2018, mas hoje as duas figuras enfrentam desgaste

Alguns eventos excepcionais podem catalisar esse desgaste. São momentos em que mesmo os seguidores mais fiéis são confrontados com dilemas profundos: manter a lealdade ao líder carismático ou proteger seus próprios interesses, valores e segurança. Descobertas de envolvimento direto em tentativas golpistas ou atitudes que ameaçam interesses nacionais — como provocar parceiros comerciais estratégicos a impor aumentos exorbitantes de tarifas — funcionam como choques de realidade. Em tais circunstâncias, o “feitiço” da identidade carismática pode enfraquecer ou mesmo se desfazer.

Os admiradores, então, ativam um modo de autoproteção: reavaliam suas crenças, buscam estabilidade e reduzem os custos de romper com antigas lealdades. A identidade grupal, antes rígida, se torna maleável. A polarização, sustentada por um viés contra os “inimigos” políticos, começa a perder força. Surgem brechas para o surgimento de novas alternativas.

É nesse ponto que estamos hoje. Um número expressivo de eleitores não se vê representado nem pelo lulismo nem pelo bolsonarismo. Foram esses eleitores — moderados, pragmáticos, de centro — que decidiram as eleições de 2018 e 2022. Em 2018, rejeitaram o PT e elegeram Bolsonaro. Em 2022, rejeitaram Bolsonaro e elegeram Lula. Talvez tenha chegado a hora de esses mesmos eleitores — e os partidos que os representam — se libertarem do cativeiro da polarização carismática.

Essa abertura para alternativas ficou evidente também na recente reação de governadores de centro-direita ao chamado “tarifaço” anunciado pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado, Eduardo Leite e Ratinho Junior, todos nomes cotados como alternativas ao lulismo, adotaram estratégias distintas do bolsonarismo diante do problema. Em vez de aderirem aos argumentos incendiários da família Bolsonaro — que chegaram a defender uma anistia como moeda de troca para o alívio das tarifas —, preferiram o caminho da articulação institucional, inclusive com o governo federal, para evitar prejuízos econômicos. Sinal claro de que há uma disputa real pela liderança da direita no pós-bolsonarismo. Ao se colocarem como defensores de interesses concretos, e não de fantasmas ideológicos, esses governadores apontam que é possível construir uma nova coalizão de centro-direita, comprometida com a democracia.

Passou da hora de a centro-direita democrática deixar de ser refém de Bolsonaro. A viabilidade de um projeto alternativo ao lulismo não passa mais pela sua figura, cuja liderança está corroída por golpismos e radicalismo institucional. A oportunidade está posta: construir uma candidatura competitiva, moderada e comprometida com a institucionalidade, capaz de canalizar os anseios de uma maioria silenciosa que rejeita os extremos. Essa tarefa exige coragem, desprendimento e responsabilidade histórica. Em 2026, o Brasil tem o potencial de finalmente sair da armadilha da polarização carismática — mas só se houver quem lidere esse caminho com lucidez e firmeza.

 

 

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