Eduardo Bolsonaro mira ampliar sanções ao STF, e aliados ‘filtram’ repercussões para evitar desgaste
BRASÍLIA – Com o sentimento de “missão cumprida” pelas punições contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e as exportações do Brasil, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) quer ampliar as sanções ao País, enquanto seus correligionários estão “filtrando” as repercussões dos episódios para evitar desgaste público.
Grupos do bolsonarismo lidaram de modo diferente com o noticiário da última quarta-feira, 30, quando o presidente americano Donald Trump impôs a Lei Magnitsky contra Moraes e publicou o decreto detalhando o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.

Por um lado, Eduardo e seu braço-direito nos Estados Unidos, o comunicador Paulo Figueiredo, comemoraram as ações como conquista pessoal. Como mostrou o Estadão, o comunicado publicado por Trump traz as digitais dos dois brasileiros no texto.
Por outro lado, parlamentares do PL têm preferido centrar ataques no ministro em vez de comentar as tarifas, e os governadores bolsonaristas ignoraram os temas. O Partido Liberal, por sua vez, reforça a defesa de Bolsonaro.
A dupla agora se volta para a Europa, ao mesmo tempo em que planeja estender a Magnitsky a outros ministros do STF, como Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, presidente da Corte. Após o decano do Tribunal manifestar apoio a Moraes pelo episódio numa rede social, por exemplo, Figueiredo sugeriu que o ministro pode também se tornar alvo de Trump.
“Nosso foco vai se ampliar para a Europa no segundo semestre. Agosto é morto na Europa, mas, em setembro, já temos reuniões em vários parlamentos. O objetivo de curto prazo são ações contra vistos europeus dos ministros”, disse Figueiredo ao Estadão.
O eurodeputado polonês Dominik Tarczyński reagiu à articulação de Eduardo e Figueiredo. Ele e outros 15 parlamentares enviaram uma carta ao Conselho Europeu pedindo sanções do bloco a Moraes, repetindo as justificativas usadas por Trump – de que o ministro persegue opositores e é responsável pela implantação de uma espécie de ditadura no Brasil.
O número é pequeno se comparado ao tamanho do Parlamento Europeu (720 assentos), mas suficiente para gerar repercussão e energizar a base bolsonarista. O eurodeputado português Francisco Assis, membro da Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos, rechaça a possibilidade de aprovação de qualquer medida retaliatória contra Moraes.
“Nenhuma chance de isso prosperar. A esmagadora maioria dos governos europeus jamais apoiariam uma coisa dessas. Eles respeitam a soberania brasileira. Aliás, neste momento está a se criar um sentimento antiamericano na Europa como jamais existiu. Então, há uma solidariedade com as posições brasileiras contra Donald Trump”, afirmou Assis ao Estadão.
Apesar da repercussão internacional da aplicação da Magnitsky contra um cidadão de um país democrático – algo inédito até então –, aliados de Eduardo não têm repercutido suas articulações como ele gostaria. Uma pessoa próxima ao deputado relatou que ele tem se queixado da falta de apoio. Nos últimos dias ele chegou a dizer que o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o bolsonarista de maior poder midiático, vinha sendo “pouco ativo” no apoio ao que ele vem fazendo nos Estados Unidos.
O pastor Silas Malafaia, um dos mais próximos aliados de Bolsonaro e principal organizador das manifestações em defesa do ex-presidente nos últimos anos pelo País, vem atacando os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Goiás, Ronaldo Caiado (União), e Paraná, Ratinho Júnior (PSD), pelo que ele considera ser um desinteresse em defender Bolsonaro das investigações centralizadas no STF.
“Minha paciência chegou no limite. Vocês já viram esses governadores alguma vez criticarem Alexandre de Moraes e o STF? Nunca, só bravata política. Falar do Lula é mole, quero ver abrir a boca e botar o dedo na ferida”, declarou Malafaia em um vídeo divulgado nesta semana.
Embora evitem bater bumbo pelo tarifaço de 50%, parlamentares bolsonaristas têm surfado a popularidade da Lei Magnitsky contra Moraes. Nesta quinta-feira, 31, eles pressionaram o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a expulsar o colega Antônio Carlos Rodrigues (SP) por elogiar Moraes e criticar Trump.
“A pressão da nossa bancada foi muito grande. Nossos parlamentares entendem que atacar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é uma ignorância sem tamanho”, disse Valdemar, em nota oficial. “Trump é o presidente do país mais forte do mundo.”
Já a comunicação oficial do Partido Liberal tem se esquivado do tema Eduardo. As publicações têm focado em criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pelo tarifaço, rebater o discurso do governo federal de soberania nacional e defender Bolsonaro do julgamento que enfrenta no STF por tentativa de golpe de Estado. A leitura é que o fim do processo se encerra, e que a postura da legenda deve ser defender o ex-presidente das acusações – mais do que repercutir as ações “polêmicas” de Eduardo.
A defesa de Bolsonaro deve ser a tônica de uma manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo domingo, 3. Sob o mote “Reaja, Brasil”, aliados do ex-presidente querem motivar os apoiadores a não abandonarem-no nessa reta final de julgamento. Há previsão de que os réus possam ser condenados em setembro, se não houver pedido de vista.