Lula ou Bolsonaro? Levantamento mostra quem levou a melhor nas redes no debate sobre o tarifaço
Na guerra de narrativas sobre o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, o presidente presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou a melhor. Um monitoramento de redes sociais realizado pela AP Exata revela que o petista acumulou mais menções positivas do que negativas — até mesmo entre os eleitores moderados, grupo que rejeitou em grande parte a atuação da família Bolsonaro no episódio. Paralelamente, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que assumiu papel central na crise, superou o desempenho do próprio Lula em alguns segmentos e conquistou apoio até entre setores da direita.
Os dados da consultoria — que analisou 560 mil publicações do X e Instagram nos dias 30 e 31 de julho — mostram que Lula recebeu 44,9% de menções positivas nas redes, contra 34,6% negativas e 20,5% neutras. Apesar do saldo favorável, a soma das menções neutras e negativas ultrapassa as positivas, indicando que o apoio à atuação do presidente ainda é limitado.
Na última quarta-feira, 30, Trump assinou o decreto que impõe tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, que vinha gerando apreensão no governo e no setor empresarial, traz uma extensa lista de exceções — 694 no total — que excluem da alíquota itens como aço, suco de laranja e aviões da Embraer
Trump usou argumentos sobretudo políticos para justificar as tarifas, com críticas ao Judiciário brasileiro e ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), investigado por tentativa de golpe de Estado. Em resposta, Lula tem adotado um discurso centrado na defesa da soberania nacional. Em entrevista ao New York Times nesta semana, o petista afirmou que o tarifaço está sendo tratado com seriedade, mas que “seriedade não exige subserviência”.
A postura do presidente teve adesão massiva entre perfis de esquerda, com 82,3% das menções favoráveis, segundo a AP Exata. Entre os moderados — grupo que foi decisivo na última eleição presidencial —, 46,8% das reações foram positivas. Já no campo da direita, embora predominem as críticas (74,2%), 20,2% das menções foram neutras e 5,6% favoráveis.
“Parte da direita entendeu que a radicalização não é interessante e gostou da participação do vice-presidente Geraldo Alckmin nas negociações. Há uma direita liberal que não gosta de intervenção na economia, que não vê com bons olhos a taxação e é anti-Trump. Também existe a direita que não é bolsonarista. Esses entendem que este é um momento de união do País para enfrentar um problema na política externa, e por isso acabaram vendo a atuação do governo de forma neutra ou positiva, embora sejam uma faixa minoritária”, afirma Sergio Denicoli, CEO da AP Exata, cientista de dados e colunista do Estadão.
Alckmin é destaque na crise
O levantamento da AP Exata mostra que o vice-presidente Geraldo Alckmin, escolhido por Lula para coordenar a resposta do Brasil aos Estados Unidos, contribuiu para a imagem positiva do governo nas redes sociais.
O vice conquistou 46% de menções positivas — superando o desempenho do próprio presidente. Na direita, 22% das menções a ele foram favoráveis, quase quatro vezes mais que as positivas a Lula. Entre os moderados, Alckmin também lidera, com 47,9% de avaliações positivas. Na esquerda, embora o apoio tenha sido menor — 66,9% — o vice-presidente mantém um patamar elevado.
“Alckmin funciona como interlocutor capaz de atrair a atenção da direita. Quando o governo era criticado por inação, ele entrou em cena, deu mais corpo e popularidade às medidas adotadas. Lula, ao sacar Alckmin da cartola, suavizou a imagem de radicalismo do governo. Foi uma decisão acertada”, avalia Denicoli.
Tarifaço foi custoso para a família Bolsonaro
No outro lado, o tarifaço pesou negativamente para a família Bolsonaro. Quase metade das menções — 47,8% — foram críticas, segundo a AP Exata. O clã esteve no centro da crise porque o ex-presidente foi citado nominalmente na carta enviada pelo governo Trump para justificar as tarifas. Além disso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, está nos Estados Unidos pressionando a gestão Trump por sanções contra o governo brasileiro e o Judiciário.
A repercussão foi especialmente negativa entre eleitores moderados: 55,2% criticaram em alguma medida o envolvimento da família no episódio. Nem mesmo na direita houve consenso — apesar de 77% das menções dos direitistas serem positivas, 14,8% foram neutras e 8,1% negativas.
“Um dos pilares das narrativas que estão sendo colocadas para a decisão do voto nas eleições do ano que vem é a questão econômica. As pessoas estão muito preocupadas com o futuro da economia. Por isso, quando você tem uma força política — no caso, o bolsonarismo — atuando para resolver uma briga com o STF e usando como moeda algo que afeta diretamente a economia, isso desperta rejeição. É um tema muito sensível agora. Tomar uma atitude que prejudique a economia desagrada muita gente”, explica Denicoli.
O monitoramento também avaliou a repercussão da aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes. A norma, que impõe sanções financeiras a estrangeiros acusados de corrupção ou de violações graves de direitos humanos, teve reação dividida nas redes: 46% das citações vão no sentido de reprovar a medida, 35,7% aprovam e 18,3% são neutras. Apesar disso, a imagem de Moraes manteve-se mais positiva do que negativa, com 56,1% das menções positivas contra 26,1% negativas.
“Não é um apoio declarado à pessoa do Alexandre de Moraes, mas sim um público que considera que o que está acontecendo não é bom para o País. Eles veem a situação como uma intervenção indevida nos poderes e uma crise desnecessária”, explica o CEO da AP Exata.
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