Trump diz que Lula pode falar com ele e presidente rebate: ‘Sempre estivermos abertos ao diálogo’
BRASÍLIA – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira, 1º, que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, pode falar com ele quando quiser. A declaração foi dada na Casa Branca, em resposta à jornalista Raquel Krähenbühl, da TV Globo e da GloboNews.
Lula reagiu horas depois. O presidente publicou no X que sempre esteve aberto ao diálogo e que no momento trabalha para dar uma resposta às tarifas de Trump.
“Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano”, escreveu o petista.
Trump foi questionado diretamente sobre se estava disposto a discutir as tarifas aplicadas ao País e reafirmou que Lula pode falar com ele, repetindo a mesma frase: “Ele pode falar comigo quando quiser”. Na sequência, ao ser perguntado sobre o que estaria em pauta para o Brasil, completou: “Vamos ver o que acontece. Eu amo o povo brasileiro”.
Ao ser indagado sobre o fato de as tarifas impostas ao Brasil não parecerem ter ligação com questões comerciais, Trump afirmou que “as pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada”.

O Palácio do Planalto e o Itamaraty não se pronunciaram oficialmente sobre a declaração de Trump.
Integrantes da chancelaria e do Palácio do Planalto, reservadamente, disseram que agora é necessário verificar se Trump dará sinal verde para a burocracia americana preparar de fato a conversa. E salientaram que o americano apenas respondeu a uma pergunta em momento informal na Casa Branca, e que um telefonema entre chefes de Estado requer preparação cuidadosa.
Lula havia dito que escalara ministros para tentar intermediar contatos, mas que a resposta até então havia sido negativa para uma conversa na Casa Branca. Em 11 de julho, Trump dissera que só conversaria com o petista “em outro momento”.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que deve falar mais uma vez com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima semana. O encontro deve ocorrer após contato da equipe do americano nesta quinta-feira, dia 31, segundo o governo brasileiro.
Será a segunda conversa entre eles. A primeira ocorreu, intermediada por Armínio Fraga, na Califórnia, em abril. Haddad havia buscado um telefonema recentemente, mas Bessent indicou que o assunto das tarifas era de domínio da Casa Branca. Agora há expectativa de nova conversa e desejo de outra reunião presencial.
Em meio às pressões para que Lula entre em contato com o norte-americano e discuta o tarifaço de 50% imposto aos produtos brasileiros comercializados com aquele país, integrantes do governo Lula vinham enfatizando que a organização de uma conversa entre os dois presidentes era complexa e não poderia ocorrer de “improviso”.
Como mostrou o Estadão, Lula cogita ligar para Trump, mas queria antes ter a certeza de que o americano iria atender a ligação e focar em comércio na conversa – ou seja, o petista não vai dar margem para negociar assuntos institucionais e de soberania.
Há receio no Palácio do Planalto de que ele seja submetido a algum tipo de constrangimento político ou humilhação, mesmo por telefone ou videochamada.
Em entrevista ao The New York Times, o brasileiro afirmou que o País “não negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”. O próprio Lula disse que deseja ser tratado com respeito e civilidade.
Ambos têm um histórico de declarações hostis mútuas no passado e jamais interagiram ou se encontraram pessoalmente. Integrantes do governo dizem que movimentos exploratórios, que podem ajudar a preparar o terreno para um contato no mais alto nível estão em curso.
O estreitamento de contatos entre equipes de governo faz parte desse processo. Na quarta-feira, dia 30, pela primeira vez o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) conversou com o secretário de Estado, Marco Rubio, em encontro discreto em Washington, fora do Departemento de Estado e da embaixada brasileira.
Os contatos mais frequentes têm sido feitos pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A equipe dele trabalha com expectativa de novos contatos, em nível técnico e político.
Na última quarta-feira, 30, o presidente americano assinou a ordem que define a tarifa adicional de 40% sobre o Brasil (além dos 10% inicialmente aplicados como tarifa recíproca), apontando especialmente razões políticas em seu comunicado, com ataques ao governo brasileiro e ao ministro Alexandre de Moraes, em razão do julgamento de Jair Bolsonaro e da regulação das big techs. Apesar disso, quase 700 produtos brasileiros foram isentos da tarifa.
Contatos entre os governos Lula e Trump:
- Videoconferência entre Geraldo Alckmin, Howard Lutnick (Secretário de Comércio) e Jamieson Greer (USTR)- 6/3
- Reuniões virtuais entre Mauro Vieira e Jamieson Greer (USTR) – 8/3 e 2/4
- Encontro presencial entre Fernando Haddad e Scott Bessent (Secretário do Tesouro) na Califórnia – 4/5
- Dez reuniões de negociação tarifária no grupo de trabalho entre técnicos de ministérios do Brasil e contrapartes americanas – 8/3 a 4/7
- Viagem dos embaixadores Mauricio Lyrio e Fernando Pimentel (equipe da Secretaria de Assuntos Econômicos e Financeiros) a Washington para reunião com representantes de Comércio – 26/3 a 28/3
- Duas reuniões virtuais entre Geraldo Alckmin e Howard Lutnick (Secretário de Comércio) – 19/7 e 28/7
- Encontro presencial entre Mauro Vieira e Marco Rubio (Secretário de Estado) em Washington – 30/7
Segundo o MDIC, o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais criado em julho por ordem de Lula já realizou 27 reuniões com 162 representantes públicos, 225 representantes privados e 123 entidades privadas (empresas, associações, federações). Três reuniões envolveram empresas norte-americanas, a última delas com William Kimmitt, advogado representante da Secretaria de Comércio dos EUA.