Alexandre de Moraes: herói ou vilão, a depender do ângulo observado
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, seria a comprovação empírica de uma tese do filósofo francês Jean-Paul Sartre de que as pessoas não existem por si, mas são constituídas a partir do olhar do outro. O juiz pode ser um salvador ou destruidor da democracia, a depender da postura política de quem o avalia. Pode ser ditador de toga ou alguém fundamental para a sobrevivência da nação como país livre. Pode ser um criminoso ou alguém que se arrisca para cumprir seu dever.
Não tem nem mais para o Lula. Para um chamado bolsonarista raiz, Alexandre de Moraes é algo bastante pior do que um déspota de toga. Seria um sádico que condena pessoas inocentes, manipuladas e ingênuas a décadas de prisão. Alguém que persegue um político que foi vítima de uma eleição abertamente fraudada, no caso, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Uma pessoa abjeta e arbitrária, movida por desejos de perseguição, capaz de atropelar a lei para realizar seus desejos inconfessáveis.

Para cumprir seus objetivos malignos, Moraes rasga a Constituição. Sem razões republicanas, cala Bolsonaro, manda calar quem apoia o ex-capitão, ou mesmo exige a colocação de tornozeleira eletrônica em um senador da oposição. É alguém que despreza um dos pilares de uma sociedade aberta: a liberdade de expressão.
Com a conivência de seus pares, se utiliza de um inquérito ilegal para ser, ao mesmo tempo, policial, promotor e juiz. Por ser alguém hostil e sem limites, a prioridade do Brasil deveria ser aprovar seu impeachment por meio do congresso. Foi preciso alguém com a coragem do presidente americano Donald Trump para puni-lo.
Na esquerda, Moraes, quando foi nomeado pelo ex-presidente Michel Temer como ministro do STF, em fevereiro de 2017, era mais um notório golpista. Também corrupto, e quiçá supremacista. Os prints do Partido dos Trabalhadores com a então opinião da sigla sobre o ministro são eternos e estão por aí nas redes para quem quiser conferir.

Hoje, entretanto, quando, implacavelmente, enquadra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua turma, a visão sobre Moraes se transverte. É agora o homem que aguentou todas as pressões e o maior responsável para a manutenção de nossa democracia frente aos traidores da pátria. Precisa enfrentar uma quadrilha delinquente e perigosa que, se não for punida – e calada –, as nossas instituições não sobreviverão. Combate diuturnamente golpistas notórios.
Nisso, encara até grandes corporações americanas, as famigeradas Big Techs. Quando Moraes derruba perfis nas redes, apenas mostra que o ódio e a mentira não se enquadram na liberdade de expressão. Foi punido por Trump devido às suas virtudes, isso é inaceitável.
Qual Alexandre de Moraes seria o verdadeiro quando são contrapostas essas visões antagônicas sobre ele? A resposta seria, talvez: ambas. As pessoas, em geral, são contraditórias e premidas pelas circunstâncias. Uma visão possível é que Alexandre de Moraes, ao ter de lidar com uma situação complexa e com pessoas dispostas a quebrar as regras, acabou por fazer o mesmo. Mas isso é só uma hipótese. Chegamos a um ponto em que falar sobre Alexandre de Moraes não revela quase nada sobre o personagem, que segue opaco, mas sobre nós mesmos e qual visão que temos sobre a conjuntura brasileira.