5 de agosto de 2025
Politica

Bolsonaro cavou o pênalti no último minuto e levou cartão vermelho de Moraes

Desde que o julgamento de Jair Bolsonaro por comandar uma trama golpista chegou à reta final, o ex-presidente buscou, de diversas maneiras, testar os limites da Justiça. Com o cálculo de que era preciso colocar o juiz cada vez mais na posição de um autoritário que o persegue, Bolsonaro agiu como um jogador de futebol que cava o pênalti nos minutos para tentar salvar o time que, no caso, sempre foi ele próprio ou, ao menos, jogar a torcida contra o juiz. Como resultado, ganhou o cartão vermelho que era óbvio.

A prisão domiciliar é medida grave, mas poderia ter sido pior. Bolsonaro descumpriu de forma clara uma medida cautelar ao utilizar as redes sociais do filho, Flávio Bolsonaro, para continuar sua busca por inflamar seus aliados contra o Judiciário. Ainda que a decisão anterior de Moraes fosse pouco clara sobre o que ele poderia ou não fazer (dar entrevistas, afinal, poderia?), no ponto em questão, não havia dúvida de que isso estava proibido. Tanto que Flávio Bolsonaro apagou a mensagem na sequência. E decisão judicial se cumpre. Pode-se recorrer, mas não simplesmente ignorá-la.

Jair Bolsonaro já estava com medidas cautelares determinadas e, ao descumprir uma delas, ficará em prisão domiciliar
Jair Bolsonaro já estava com medidas cautelares determinadas e, ao descumprir uma delas, ficará em prisão domiciliar

Caberia até mesmo a prisão não domiciliar. Moraes, porém, optou por deixá-lo em casa, o que já é bastante grave. Agora, os demais ministros serão chamados a referendá-la. E é difícil imaginar que não vão apoiar a decisão, talvez com o voto contrário de Luiz Fux na Primeira Turma.

Haverá ainda mais grita sobre o assunto. Era o objetivo do Bolsonaro. Ao testar os limites de Moraes, ele ganha pontos na estratégia de ampliar a atenção internacional e o desejo de uma intervenção do governo americano, como já está acontecendo. Em contrapartida, Bolsonaro teve sua locomoção e contatos ainda mais afetados, antes da hora.

Não faltará polêmica. Faltando tão pouco para o processo chegar ao fim, talvez não fosse necessário tomar qualquer medida a não ser monitorar Bolsonaro para evitar a fuga. Aí está o grande desafio de enfrentar golpistas que partem para cima do Judiciário: cada decisão que se toma será usada contra o STF. Não tomá-las, porém, seria uma demonstração de que a Corte, por razões políticas ou pressão externa, estaria deixando de cumprir a lei. E isso ampliaria o entusiasmo da família em continuar coagindo o Judiciário brasileiro. Mais importante que isso, porém, é concluir logo o julgamento, quando o prazo para as defesas terminar de correr.

 

 

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