Esquerda, direita e centro de mãos dadas pela corrupção
A primeira década do século XXI demonstrou uma tendência de agentes políticos adotarem o caminho mais fácil para a manutenção de Poder: o da corrupção.
O Mensalão, caso desvendado na primeira década do século, chocou o país ao revelar um esquema no qual o Governo de ocasião negociava mesadas para angariar votos de políticos em projetos de seu interesse.
Já na segunda década do presente século, a denominada Operação Lava Jato desvendou o maior esquema de corrupção da história do país, deixando claro que o clientelismo e a propina eram a regra para a manutenção do poder do rei e dos amigos do rei.
É bem verdade que essas duas grandes operações foram marcos na história do Brasil, deixando claro, depois de muitos anos, que o país não toleraria a impunidade de ricos criminosos, devendo a Lei imperar sobre qualquer um, independente de status ou de respeitabilidade social.
Todavia, com o passar dos anos, o discurso do combate à corrupção tornou-se moldura para que agentes inescrupulosos alçassem voos mais altos, na busca pelas cadeiras mais poderosas do país.
O tempo passou e a verdade é que a polarização político ideológica do país, apontando um lado como a representação do mal, enquanto o outro seria o bem, apresentou ao país a mais grotesca barbaridade, com guerras culturais constantes, ódio de ambos os lados sendo emanado por simplesmente se depararem com um pensamento diferente.
Mas a verdade que não querem que você saiba é que os dois maiores partidos do país, hoje antagonistas na polarização, estiveram no centro do primeiro grande esquema de corrupção parlamentar do país, o Mensalão, tendo representantes de destaque de ambos cumprindo penas privativas de liberdade no mesmo complexo penitenciário.
Tais personagens voltaram à cena pública, gozando de aplausos e de respeitabilidade, sendo esquecido pela sociedade o fato de que, em outros tempos, demonstraram profundo desprezo pela coisa pública.
Tanto os membros do viés ideológico de esquerda, que em sua essência deveriam combater a corrupção como forma de gerar mais recurso para os programas sociais, quanto a direita, que deveria combater a corrupção para permitir um livre mercado isonômico, esqueceram das suas raízes para proteger seus protagonistas de ocasião.
Algo que resume bem o cenário para ambos é a frase encontrada na agenda de um colaborador da operação lava jato, a qual dizia ser o combate à corrupção o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao Poder.
A maior prova é que quem se dizia contra a corrupção foi a público para proferir os dizeres de ter sido o responsável por acabar com a maior operação de combate à corrupção do país.
Do outro lado, quem trazia para si a responsabilidade pelo fortalecimento do combate à corrupção no país insiste em tentar recontar a história, com um roteiro digno de oscar para tentar fazer a população acreditar que tudo não passou de um conluio de diversos personagens para retirar um agente político da disputa eleitoral.
E no “centrão”, bem, as famosas emendas do orçamento secreto, sem transparência, são intocáveis e inegociáveis, sendo talvez esse o motivo principal de uma vaga na Câmara dos Deputados ser o sonho de consumo de tantos.
O mais interessante de todo esse cenário controverso é que os supostos antagonistas ideológicos são mais próximos do que aparentam, utilizando as mesmas práticas em suas defesas quando se deparam com processos judiciais contra si ou contra seus aliados. Entre os métodos citados estão a velha máxima de serem vítimas de perseguição política, o ataque aos investigadores e não a explicação quanto aos fatos que lhes são imputados, a busca por gerar descrédito ao sistema de Justiça e a inversão completa da culpa, responsabilizando sempre um terceiro, sem jamais assumir a responsabilidade por seus atos.
Enquanto isso, a sociedade sofre com esquemas de corrupção como a fraude no INSS, crimes de rua, pobreza, falta de saúde pública de qualidade, um sistema de ensino deficitário e, até mesmo, com “tarifaços”, decorrentes unicamente pela ação de agentes que visam os seus próprios interesses pessoais.
O Brasil não precisa da polarização, mas de pessoas comprometidas com a ética, a honestidade e a integridade em suas ações, independente da ideologia política a qual pertençam, pois só assim o povo deixará de ser escravo de uma classe política interessada unicamente em perpetuar-se no Poder a todo custo, ainda que coloque um país inteiro em risco.
O que o país precisa no momento não é de um salvador da pátria, mas de instituições fortalecidas, nas quais o combate à corrupção seja o primeiro e principal objetivo, atrelando a isso a eficiência, as boas práticas na gestão, uma administração pública dialógica, com participação efetiva da população, com governantes que atuam visando o bem comum, pelo povo e para o povo.
Mas, no atual período de crise, a única coisa que se pode esperar é um Parlamento que vota a favor do aumento da classe política, enquanto a redução da prerrogativa de foro é esquecida, a execução provisória da pena se torna uma utopia e medidas efetivas de combate à corrupção ficam apenas no imaginário do país do futuro que nunca chega.
Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica