9 de agosto de 2025
Politica

Incontornável, radicalização e pênalti cavado; colunistas do Estadão analisam prisão de Bolsonaro

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ordenou nesta segunda-feira a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL). A decisão foi tomada após os filhos do ex-presidente e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) publicarem vídeos e fotos nas redes sociais com a participação remota de Bolsonaro nas manifestações contra o ministro e o STF no domingo.

Moraes considerou que o ex-presidente produziu material para ser disseminado pelos apoiadores nas redes sociais ao participar dos atos por ligação telefônica e chamada de vídeo. Com isso, burlou a proibição de utilizar redes sociais, que havia sido imposta anteriormente.

Veja a análise dos colunistas do Estadão sobre a decisão e suas consequências:

O ex-presidente Jair Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada após participar remotamente de manifestações contra o STF no domingo
O ex-presidente Jair Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada após participar remotamente de manifestações contra o STF no domingo
Eliane Cantanhêde: ‘Bolsonaro confronta, Moraes radicaliza e as armas de Trump miram o Brasil’

Para Eliane Cantanhêde, Bolsonaro sabia o que estava fazendo ao esticar a corda e participar das manifestações, provocando uma reação de Alexandre de Moraes. A colunista projeta que se o ex-presidente for condenado por tentativa de golpe em julgamento previsto para setembro, a prisão definitiva terá sido “naturalizada” até pelos bolsonaristas.

Cantanhêde lembra, no entanto, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é um obstáculo no meio do caminho.

“As armas e as sanções de Trump continuam viradas para o Brasil: as investigações com base na Seção 301, até do Pix e da Rua 25 de Março, e o veto a negócios com a Rússia. Todos os lados estão radicalizando e a pergunta imediata é: como fica o início do tarifaço nesta quarta-feira? Que surpresa Trump nos reserva?

Carolina Brígido: ‘Depois de muitas tentativas, Bolsonaro convence Alexandre de Moraes a decretar prisão’

A colunista avalia que Bolsonaro deu vários motivos para ser preso ao longo dos últimos meses e que agora conseguiu convencer Moraes a decretar sua prisão. Para ela, “a situação ficou incontornável” e o ministro poderia ficar desmoralizado se não levasse a cabo a promessa de prender o ex-presidente em caso de novo descumprimento da medida cautelar.

Ponderou-se dentro do tribunal sobre a conveniência de se decretar a prisão de Bolsonaro agora, a cerca de um mês do julgamento final. Seria como morder a isca jogada pelo ex-presidente”, escreveu Carolina Brígido.

“Por outro lado, se ignorasse mais uma vez o descumprimento das medidas, Moraes ficaria desmoralizado. Afinal, ele anunciou que haveria prisão em caso de novo episódio”, concluiu a colunista.

Ricardo Corrêa: ‘Bolsonaro cavou o pênalti no último minuto e levou cartão vermelho de Moraes’

Para Ricardo Corrêa, Bolsonaro buscou nas últimas semanas testar os limites da Justiça na tentativa de se colocar como perseguido político. Na visão do colunista, as consequências poderiam ter sido ainda mais duras do que a prisão domiciliar para o ex-presidente.

“Com o cálculo de que era preciso colocar o juiz cada vez mais na posição de um autoritário que o persegue, Bolsonaro agiu como um jogador de futebol que cava o pênalti nos minutos finais para tentar salvar o time que, no caso, sempre foi ele próprio ou, ao menos, jogar a torcida contra o árbitro. Como resultado, ganhou o cartão vermelho que era óbvio”, escreveu ele.

Fabiano Lana: ‘Bolsonaro e Moraes nasceram um para o outro’

Lana avalia que Alexandre de Moraes prender Jair Bolsonaro ou vice-versa é um “desfecho inevitável” do embate entre os dois. O ex-presidente e o magistrado são, para ele, figuras que não recuam e dobram a aposta.

“Hoje, Bolsonaro e Moraes são as duas mais relevantes figuras da esfera pública brasileira. Resta ao presidente Lula um não tão honroso terceiro lugar. Mas o encontro de um político impulsivo, que sempre via as instituições apenas como um entrave aos seus objetivos, com um juiz ao qual foram concedidos poderes quase ilimitados para cerceá-lo, dificilmente não teria uma finalização teatral“, afirmou o jornalista em sua coluna.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *