15 de agosto de 2025
Politica

Trump, Bolsonaro e o ‘Cambalache’ que o tango previu

“Que el mundo fue y será una porquería, ya lo sé/En el 510 y en el 2000 también./Que siempre ha habido chorros, maquiavelos y estafa’os/Contentos y amarga’os, valores y doblé/Pero que el siglo 20 es un despliegue/De maldad insolente, ya no hay quien lo niegue/Vivimos revolca’os en un merengue/Y, en el mismo lodo, todos manosea’os”(*)

Traduzindo: “Que o mundo foi e será uma porcaria, eu já sei. Em 510 e em 2000 também. Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados. Contentes e frustrados, valores, confusão. Mas que o século 20 é uma praga de maldade e lixo. Já não há quem negue .Vivemos atolados na lameira E no mesmo lodo todos manuseados…”

O ano era 1934, quando o compositor argentino Enrique Santos Discépolo, que costumava ser ácido em suas críticas, retratou a desordem das primeiras décadas do século XX. A Primeira Guerra Mundial terminara em 1917 com milhões de vítimas, a bolsa dos Estados Unidos quebrara em 1929, fazendo de milionários, favelados em poucas horas. E outro grande conflito já estava em gestação, a Segunda Guerra Mundial, não menos sangrenta e cruel que a primeira. E que só acabou quando os Estados Unidos largaram duas bombas atômicas no Japão, em Hiroshima e Nagasaki, que se rendeu.

Manifestação bolsonarista na avenida Paulista, com demonstrações de apoio a Donald Trump, que pressiona para barrar julgamento de Bolsonaro
Manifestação bolsonarista na avenida Paulista, com demonstrações de apoio a Donald Trump, que pressiona para barrar julgamento de Bolsonaro

Imortalizada pelas vozes de Carlos Gardel e também de Julio Sosa aqui no Brasil, “Cambalache” foi gravada por Raul Seixas, em uma versão em português, e por Caetano Veloso, no original, em espanhol.

Camabalache quer dizer, em tradução livre, um cacareco. Um lugar onde esses cacarecos podem ser vendidos e comprados. Por fim, pode também ser usada para se referir a alguém que negocia esses produtos. É comum, na gíria portenha, que alguém diga: “Fulano es un cambalachero”.

A Segunda Guerra destroçou o mundo, mas desses cacos saíram as organizações que pelo menos tentaram reger nosso mundo até a segunda década dos anos 2000. A principal delas, a Organização das Nações Unidas (ONU). Mas eis que o planeta e muitas de suas nações estão voltando a degringolar. A começar por aquela que mandou e desmandou, os Estados Unidos, até sua hegemonia começar a ser posta em xeque pela China.

(…) Hoy resulta que es lo mismo ser derecho que traidor/Ignorante, sabio, chorro, generoso, estafador/Todo es igual, nada es mejor/Lo mismo un burro que un gran profesor (…)

Traduzindo: (…)Hoje em dia dá no mesmo ser direito, que traidor. Ignorante, sábio, besta, pretensioso, afanador. Tudo é igual, nada é melhor. É o mesmo um burro, que um bom professor. (…)

Assim como na música que imaginava a desordem que acometeria o século XX; em 2025, com a gringolândia de Donald Trump e suas alucinadas tarifas que vão e voltam; com a bozolândia do ex-presidente Jair Bolsonaro e suas tentativas de escapar de uma condenação que o mande para a cadeia, depois de ter tentado dar um golpe de Estado, não sei se estamos muito distantes desse Cambalache, do início do século passado.

Aliás, se existe alguém que pode ostentar esse título é o próprio Bolsonaro. Consegue imaginar alguém mais “cambalachero” que o próprio ex-presidente que neste domingo, nos atos públicos pensou que podia passar para trás a Polícia Federal (PF) e, ainda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

(…)Si uno vive en la impostura y otro afana en su ambición/ Da lo mismo que sea cura, colchonero, rey de bastos/ Caradura o polizón.”

Traduzindo: “(…) Se um vive na impostura/ Outro afana em sua ambição/ Dá no mesmo que seja padre Carvoeiro, rei de paus, cara dura ou senador.”

Espero que consigamos sair deste buraco. Mas caberá aos donos do poder de hoje, sob pressão da sociedade, buscar um novo equilíbrio mulilateral que privilegie o meio ambiente, o respeito entre as Nações, uma nova ordem mundial, o fim de massacres como o de Gaza e um planeta com mais igualdade e oportunidades semelhantes para toda a população.

 

 

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