11 de agosto de 2025
Politica

Brasil encara novo normal da relação com Donald Trump

A sobretaxa dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, programada para entrar em vigor nesta quarta-feira, 6, inaugura uma nova fase nas relações bilaterais. Embora uma lista de exceções tenha sido anunciada e canais de negociação permaneçam abertos, é preciso encarar os fatos com pragmatismo: as altas tarifas são o novo normal na parceria com os EUA, ao menos durante a atual gestão.

Apesar das tensões, um diálogo direto entre os presidentes Lula e Trump ainda não ocorreu, e as concessões obtidas até agora refletem mais os interesses internos americanos do que um gesto de boa vontade.

Apesar das tensões entre as duas nações, um diálogo direto entre os presidentes Lula e Trump ainda não ocorreu
Apesar das tensões entre as duas nações, um diálogo direto entre os presidentes Lula e Trump ainda não ocorreu

É fundamental analisar o caso brasileiro no contexto da política comercial mais ampla de Washington. As tarifas impostas ao Brasil são parte de um esforço do governo Trump para consolidar uma “muralha tarifária”, uma promessa de campanha para proteger a economia americana e ampliar receitas. Todos os parceiros comerciais foram alvo.

A expectativa é que a tarifa média sobre as importações totais dos EUA se situe entre 13% e 17% até o fim do ano, configurando o regime mais protecionista desde a Grande Depressão dos anos 1930.

Esse cenário global já seria desafiador, mas a situação brasileira possui a peculiaridade de misturar a agenda comercial com a política. As exceções garantidas até o momento, como as que beneficiam a Embraer e outros setores com cadeias de suprimentos integradas, derivam da pressão de empresas e legisladores americanos. Eles alertaram a Casa Branca para os riscos de aumento de preços e desabastecimento em setores onde a substituição de fornecedores é complexa. O Congresso e o Departamento do Tesouro têm sido os principais canais para essas pressões setoriais.

No entanto, as concessões ocorrem em paralelo a um movimento contrário dentro do governo americano. Um grupo influente continua a mapear sanções adicionais para pressionar o Brasil em temas que vão da política interna – prisão de Jair Bolsonaro – a questões de governança digital. Acrescenta-se a isso o risco de novas tarifas de caráter geopolítico, a exemplo das ameaças feitas à Índia por suas relações comerciais com a Rússia. A pressão pode transcender o comércio e afetar até a concessão de vistos para negócios e turismo.

Para o Brasil, o momento exige realismo. Sem abandonar o engajamento com os EUA, é imperativo acelerar a busca por novos mercados e fortalecer outras parcerias. Grandes concessões fazem pouco sentido quando o melhor cenário possível ainda envolve um nível elevado de sobretaxas.

 

 

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