7 de agosto de 2025
Politica

Ex-assessor de Moraes no TSE, Tagliaferro se alinha ao bolsonarismo e fala em ir aos EUA

BRASÍLIA – O perito Eduardo Tagliaferro passou de assessor de confiança do ministro do Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para indiciado por vazamento de mensagens da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação e, mais recentemente, a garoto propaganda do bolsonarismo sobre as supostas arbitrariedades praticadas pelo magistrado.

O Estadão analisou os perfis de Tagliaferro no X e no Instagram e identificou o alinhamento do discurso do ex-assessor de Moraes ao bolsonarismo e uma crescente profissionalização das suas publicações nas redes sociais, com pedidos de Pix, logomarca e vídeos gerados por inteligência artificial que disseminam ataques ao PT e ao Supremo Tribunal Federal (STF). A reportagem tentou contato com ele pelas redes sociais, mas não obteve retorno.

Publicação de Eduardo Tagliaferro nas redes sociais se comparando a Eduardo Bolsonaro na mobilização por sanções a Alexandre de Moraes.
Publicação de Eduardo Tagliaferro nas redes sociais se comparando a Eduardo Bolsonaro na mobilização por sanções a Alexandre de Moraes.

Tagliaferro conta com 138 mil seguidores no Instagram, onde estão a maioria dos seus conteúdos autorais, e outros 49 mil seguidores no X. Na rede social controlada por Elon Musk, o perito combina a publicação de vídeos produzidos com retuítes de cardeais do bolsonarismo e posts críticos ao STF e a setores da esquerda.

A conta de Tagliaferro no Instagram mostra o seu rastro de radicalização e adesão ao bolsonarismo. Até maio deste ano, os seus posts se resumiam a conteúdos profissionais, motivacionais e de segurança cibernética. No dia 17 daquele mês, o perito fez o primeiro post explicitamente político e com críticas ao Judiciário, no qual aponta “perseguição política”, “censura” e “desequilíbrio dos Poderes”.

Entre maio e julho deste ano, as publicações foram majoritariamente críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no rastro do escândalo do INSS, com casos esporádicos de estocadas mais diretas em Moraes e no STF, mas tudo mudou a partir do momento que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu início às sanções contra os integrantes da Suprema Corte.

Nesse mesmo período, começaram a surgir os primeiros vídeos com a logomarca “Eduardo Tagliaferro”, nas cores verde e amarela, e pedidos de Pix seguidos pelo apelo: “Ajude nossa luta”. Na última terça-feira, 4, o Banco Central cumpriu decisão sigilosa de Moraes que ordenou o bloqueio de contas bancárias, ativos financeiros, cartões e chaves Pix do ex-assessor.

O perito computacional Eduardo Tagliaferro ao lado do ministro Alexandre de Moraes
O perito computacional Eduardo Tagliaferro ao lado do ministro Alexandre de Moraes

Além disso, Tagliaferro tem dado entrevistas para canais bolsonaristas e reaproveitado os “cortes” para alimentar os seus perfis. Esses materiais têm focado, sobretudo, em ameaças de expor novas conversas sobre supostos atos ilícitos e arbitrários de Moraes na presidência do TSE. Esses anúncios têm gerado furor na extrema direita. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por exemplo, postou vídeo dizendo estar ansioso pelas revelações.

Em agosto do ano passado, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma série de mensagens trocadas entre Tagliaferro e o ex-juiz auxiliar de Moraes no TSE, Ailton Vieira, que indicavam pedidos do ministro fora do rito para investigar bolsonaristas e munir decisões.

Em entrevista ao Timeline, programa comandado pelo comunicador bolsonarista Allan dos Santos, o ex-assessor afirmou ter saído do Brasil e ido viver na Itália, onde poderia atuar para denunciar o ministro. No episódio do último dia 30 de julho, no qual foram repercutidas as sanções de Trump a Moraes, Tagliaferro “estar batalhando” para ir aos Estados Unidos.

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa na Itália na semana passada após ser condenada pelo STF por ter contratado serviços hackers para invadir o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tagliaferro, por sua vez, não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que analisa o caso.

“Se Deus quiser o Tagliaferro estará aqui conosco em breve”, disse Allan dos Santos prometendo um episódio especial no qual o perito concederia entrevista ao vivo para mostrar documentos comprometedores do ministro.

“Se dentro do nosso País a gente não consegue resolver, nós vamos para fora, sim. Vamos buscar apoio internacional, porque dentro do Brasil não tem o que fazer”, respondeu Tagliaferro

O ex-assessor afirmou que o seu objetivo é intensificar as pressões que partem dos Estados Unidos para dar a “apunhalada no pescoço” de Moraes. Em suas vagas explicações sobre o que levou a nutrir ódio pelo ministro, Tagliaferro disse que “só entravam coisas de direita no gabinete e nada de esquerda”.

“Destruiu a minha vida e a de várias pessoas, isso é pouco, logo eu estarei mostrando para o Brasil quem é Alexandre de Moraes e os bastidores do seu gabinete”, escreveu Tagliaferro nas redes sociais.

Embora alinhado ao bolsonarismo, Tagliaferro ponderou que, em sua avaliação, não houve fraude no processo eleitoral de 2022, mas, sim, “direcionamento”. “Aos meus olhos, foi feito uma perseguição e uma destruição da imagem da direita no cenário político”, afirmou.

As decisões expedidas por Moraes a partir de relatórios da assessoria liderada por Tagliaferro partiam de provocações da Procuradoria-Geral Eleitoral, das campanhas dos candidatos ou das 162 instituições parceiras do TSE que apontavam ocorrências de desinformação nas redes sociais.

De homem de confiança a exonerado por violência doméstica

Tagliaffero foi nomeado por Moraes em agosto de 2022 para exercer o cargo de assessor-chefe da Assessoria de Enfrentamento à Desinformação, órgão que era submetido à presidência do TSE. O perito tem um longo histórico de trabalhos na iniciativa privada, mas foi só em 2017 que ele começou a prestar serviços de perícia computacional, grafotécnica e documentoscopia para o Poder Judiciário.

Ao chegar ao TSE pelas mãos de Moraes em 2022, Tagliaferro também foi designado para integrar o núcleo de inteligência da Corte, órgão que era composto por membros da Justiça Eleitoral e por representantes do Conselho Nacional dos Comandantes Gerais.

O núcleo de inteligência foi criado por Moraes com o objetivo de alinhar procedimentos com as polícias militares dos Estados e discutir questões relacionadas à segurança preventiva durante as eleições. A presença de Tagliaferro no órgão demonstra o seu prestígio com o ministro.

O perito foi exonerado do TSE em maio de 2023, após ser preso em flagrante em Caieiras, na Grande São Paulo, por violência doméstica.

A mulher de Tagliaferro contou à polícia que o então assessor da Corte Eleitoral chegou em casa “alterado” e a ameaçou. Teve início uma discussão, em meio a qual o perito foi até seu quarto, pegou uma arma de fogo e disparou uma vez. Após o tiro, a mulher correu até a garagem com as filhas. O caso foi registrado como violência doméstica, disparo de arma de fogo e ameaça.

 

 

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