10 de agosto de 2025
Politica

COP ‘só para ricos’ é tiro no discurso de Lula de inclusão de países pobres na governança mundial

De ativo de Lula para a valorização do papel do Brasil na construção de uma nova dinâmica para organismos internacionais, a Conferência das Nações Unidas Sobre Mudança Climática (COP-30) em Belém tornou-se um problema para o discurso do presidente pelo mundo. A já muito antes prevista crise de hospedagens para o evento afeta sobretudo países em desenvolvimento, nações mais pobres que o petista sempre pregou que tivessem mais espaço nas mesas da governança mundial. Montar um evento em que muitos deles não podem participar seria, portanto, um contrassenso.

A crise era dada desde que se começou a cogitar Belém como sede. A despeito dos fantásticos atrativos da cidade e da importância simbólica de levar a discussão do clima para uma cidade próxima à maior floresta tropical do planeta, era evidente que não haveria hospedagens disponíveis. Essa foi a pergunta mais feita a integrantes do governo federal e da gestão estadual. A resposta era sempre a de que melhorias de infraestrutura na cidade e, sobretudo, a dispobinilidade de navios de cruzeiro para abrigar os participantes resolveria o problema.

Lula ao lado de Helder Barbalho, governador do Pará, e de Jader Filho, ministro das Cidades, Jader Filho, durante Cerimônia de divulgação dos investimentos do governo federal para a COP-30
Lula ao lado de Helder Barbalho, governador do Pará, e de Jader Filho, ministro das Cidades, Jader Filho, durante Cerimônia de divulgação dos investimentos do governo federal para a COP-30

Há três meses do evento, o problema se agravou. Depois de uma carta de nações pedindo a mudança de local, nesta terça-feira, 5, o presidente da Áustria anunciou que não vai participar do evento. Alegou que “os custos não estão dentro do apertado orçamento da Presidência por razões logísticas”.

Se está difícil pra os austríacos, imagina para as dezenas de nações pobres pelo mundo, justamente as mais afetadas pelas mudanças climáticas e que lutam por financiamento para mitigar os efeitos do problema que norteia a realização da COP-30.

No Brasil, porém, a crise de hospedagem com preços astronômicos foi negligenciada. Talvez, por dois motivos. O primeiro e mais constrangedor é que as autoridades brasileiras não se deram conta de que congêneres de outros países não estão dispostos a esbanjar dinheiro público. Por aqui, são variadas as situações em que temos que noticiar abuso nos gastos para eventos muito menos importantes, seja com uso de aviões oficiais, hospedagem em hotéis de luxo e, em alguns casos, patrocínios de partes interessadas de fora do governo. Esperavam, portanto, que todo mundo estivesse disposto a gastar o dinheiro do contribuinte mundo afora sem reclamar.

Até aí, visto o choque de realidade, seria possível atuar, levando para outro local parte das atividades da COP-30. Mas há um segundo motivo que Lula certamente não tem interesse em enfrentar. A realização da conferência, mais do que simbolizar a importância da floresta, faz parte de um acordo político pra fortalezar Helder Barbalho, governador do Pará e figura fundamental para Lula na correlação de forças dentro do MDB. Tirar a COP de Belém seria liquidar a carreira política de Barbalho, ao demonstrar seu fracasso no teste mais importante de sua gestão. Além disso, tenderia a prejudicar ainda mais a popularidade de Lula na região Norte do país. Por 2026, Lula terá que enfrentar o constrangimento internacional, mitigando o problema na base de gambiarras.

 

 

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