Aliança de Tarcísio de Freitas com MBL incomoda bolsonaristas
A aliança do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o Movimento Brasil Livre (MBL) tem causado desconforto entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Crítico de Bolsonaro, o grupo ocupa a vice-liderança do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e, na prática, tem atuado como parceiro estratégico do chefe do Executivo paulista.
Procurado para se manifestar sobre a relação com o MBL e o incômodo na base bolsonarista, o governo não se manifestou.
A relação do governador com o movimento mudou da água para o vinho nos últimos três anos. Antes de chegar ao governo paulista, o então ministro da Infraestrutura de Bolsonaro foi alvo de críticas do grupo. Tarcísio, lembram alguns aliados do ex-presidente, chegou a receber das mãos da atual vereadora paulistana Amanda Vettorazzo (União Brasil) um diploma simbólico de “pior ministro para São Paulo”. Hoje, o cenário se inverteu: já à frente do Executivo estadual, o governador divulgou em suas redes sociais um vídeo da vereadora elogiando a revitalização do centro da capital.

Logo quando assumiu o Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio indicou o deputado estadual Guto Zacarias (União Brasil) — um dos nomes do MBL — para exercer a vice-liderança do governo na Alesp, o que foi interpretado como um gesto ao movimento. O posto é estratégico, pois garante participação direta nas discussões dos projetos do Executivo na Casa e dá direito a cargos e gabinete extra na Assembleia. O aceno ajudou a pacificar a relação com o movimento, cujas lideranças passaram a ter acesso ao governador e seus auxiliares no Palácio.
A proximidade entre Tarcísio e o MBL sempre foi motivo de incômodo entre bolsonaristas. Nas últimas semanas, porém, a tensão aumentou, depois que Guto Zacarias postou um vídeo criticando Jair Bolsonaro pelas indicações de ministros ao Supremo Tribunal Federal (STF) e por ter vetado um projeto que “suspendia os superpoderes do tribunal”. O vídeo, no qual o deputado também critica Lula e Alexandre de Moraes, foi publicado no auge da crise do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.
O VÍDEO PROIBIDO: Por que eu ataco tanto o Bolsonaro, o Lula e o Alexandre de Moraes?
Assista esse vídeo com o cérebro, não com coração.
RT + Like! pic.twitter.com/lIgsyoM9Lx
— Guto Zacarias (@GutoZacariasMBL) July 23, 2025
“Por que Tarcísio mantém como vice-líder uma pessoa do MBL, um grupo que defende a minha prisão, a prisão de meu pai, a prisão de jornalistas exilados, gente que ficou anos sem ver os filhos, como o Allan dos Santos?”, questionou Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente que está nos Estados Unidos. O deputado estadual Gil Diniz (PL) também disparou contra o colega nas redes sociais.
Por que o @tarcisiogdf mantém como vice líder uma pessoa do MBL, um grupo que defende a minha prisão, a prisão de meu pai, a prisão de jornalistas exilados, gente que ficou anos sem ver os filhos como o @allanconta5 ?
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) July 24, 2025
Durante a eleição municipal de 2024, o MBL atuou como um aliado informal de Tarcísio ao liderar uma ofensiva contra Pablo Marçal nas redes sociais. O ex-coach virou motivo de dor de cabeça para a campanha de Ricardo Nunes — candidato apoiado pelo governador — depois de decolar nas pesquisas e ameaçar tirar o prefeito do segundo turno.
Em meio à disputa, líderes do movimento e o governador se reuniram para discutir estratégias de enfrentamento a Marçal. Enquanto bolsonaristas evitavam confrontá-lo publicamente, o MBL adotou o tom mais duro no campo da direita.
Relação pode mudar apenas em 2026
Apesar das críticas na base de Bolsonaro, não há nenhuma movimentação na Alesp para retirar Zacarias da função. A indicação das lideranças é uma prerrogativa exclusiva do governador e, segundo deputados da base ouvidos pelo Estadão, Tarcísio não deu sinais de que pretende substituir o integrante do MBL.
A avaliação nos bastidores é que a relação entre o movimento e Tarcísio é positiva para os dois lados. O MBL mantém proximidade com o Executivo paulista e consegue dar andamento a seus projetos com mais facilidade do que se adotasse uma postura independente. Já Tarcísio evita entrar na mira do grupo, que teria potencial para desgastá-lo e ainda conta com um aliado com grande capilaridade nas redes sociais.
Um ex-integrante do grupo projeta um rompimento em 2026. O MBL já conseguiu assinaturas suficientes para criar seu próprio partido, o Missão, e almeja lançar candidatos a governador de São Paulo e a presidente da República. A estratégia entraria em rota de colisão com Tarcísio, que pretende disputar a reeleição ao Bandeirantes, ao mesmo tempo em que é cotado para ser o candidato de Bolsonaro ao Planalto.
Renan Santos, fundador e coordenador nacional do MBL, afirma que a aproximação com Tarcísio foi maior apenas na eleição do ano passado, quando ambos tinham um alvo em comum: Pablo Marçal. Segundo ele, Tarcísio faz um governo “convencional” e hoje já não faz sentido o movimento ocupar a vice-liderança do governo.
“O Missão vai concorrer à Presidência e seremos duros com o Tarcísio e com o PT”, afirma, já adiantando que o rompimento com o governador deve ocorrer, mas não de forma imediata. “A gente vai ter uma conversa sobre isso em algum momento, não é algo preocupante.” Renan diz ainda que o MBL terá candidato ao governo de São Paulo, mas o nome está indefinido — o deputado federal Kim Kataguiri é uma das opções.