Antissemitismo e violência policial: o que o governo Trump diz sobre direitos humanos além de Moraes
RIO – O governo dos Estados Unidos, do presidente Donald Trump, citou uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que comparou os ataques na Faixa de Gaza ao Holocausto, como exemplo ao relatar o aumento do antissemitismo no Brasil. O relatório anual do Departamento de Estado sobre a situação dos direitos humanos e das liberdades políticas destacou ainda um caso de violência policial que ocorreu em Porto Alegre (RS), em maio do ano passado, para justificar a piora da situação dos direitos humanos no País.
É neste mesmo documento que os EUA acusam o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de censurar apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O governo americano destaca que a Confederação Israelita Brasileira (Conib) e a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) relataram um forte aumento no número de casos de antissemitismo após o ataque do Hamas a Israel em outubro de 2023. De janeiro a maio, foram registrados 886 casos de antissemitismo, quase seis vezes mais do que no mesmo período de 2023, segundo o relatório.
Após citar os números da Conib e da Fisesp, o relatório destaca a declaração do presidente Lula sobre ataques de Israel contra grupos terroristas na Faixa de Gaza.
“Após a resposta militar de Israel em Gaza aos ataques terroristas do Hamas em outubro de 2023, em 18 de fevereiro, o presidente Lula da Silva declarou que ‘o que está acontecendo na Faixa de Gaza… é um genocídio’. No discurso, ele comparou o que estava ocorrendo na Palestina com ‘quando Hitler decidiu matar os judeus’. Em 19 de fevereiro, a CONIB declarou que ‘repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas’ afirmando que o governo havia adotado uma ‘postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio’”, diz o documento.

Em fevereiro do ano passado, Lula criticou, durante entrevista coletiva em Adis Abeba, capital da Etiópia, a operação israelense contra o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Lula fez um paralelo entre a morte de palestinos com o extermínio de judeus feito pelo líder da Alemanha Nazista, Adolf Hitler. Durante o regime nazista, que ocorreu entre 1933 e 1945, 6 milhões de judeus foram mortos.
“O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse Lula. O presidente brasileiro também criticou Israel ao afirmar que Tel-Aviv não obedece a nenhuma decisão da ONU e afirmou que defende a criação de um Estado palestino. Para Lula, o conflito “não é uma guerra entre soldados e soldados, é uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças”, afirmou. “Não é uma guerra, é um genocídio”, completou o presidente brasileiro.
Em resposta à fala de Lula, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que “comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha”. “As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender.”
Violência policial
O relatório cita uma série de relatos de “homicídios arbitrários ou ilegais cometidos pela polícia durante o ano” para ilustrar a deterioração dos direitos humanos no País. O governo americano cita casos que ocorreram em São Paulo, na Baixada Santista, no Rio Grande do Sul e Roraima.
“Alguns homicídios foram atribuídos a uma operação policial contra organizações criminosas transnacionais no Estado de São Paulo, no primeiro semestre do ano, e a uma operação policial realizada de julho de 2023 a abril na Baixada Santista, região costeira que inclui a cidade portuária de Santos”, diz.
Outro caso destacado foi a tortura cometida por policiais no Rio Grande do Sul, contra um homem com o objetivo de descobrir a localização de drogas e armas em Porto Alegre.
“Policiais militares de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, foram acusados de torturar Vladimir Abreu de Oliveira por aproximadamente 40 minutos antes de tentar esconder seu corpo jogando-o de uma ponte em maio. Uma investigação revelou que Abreu de Oliveira sofreu múltiplos ferimentos graves em vida, o que levou à sua morte. Cinco policiais foram indiciados, com acusações que variam de tortura com resultado fatal a omissão de assistência, e dois estavam em prisão preventiva. A Polícia Civil estava conduzindo uma investigação separada”, diz o texto.