Mensagens de assessor de Braga Netto mostram atritos com irmão de Michelle Bolsonaro
BRASÍLIA – O coronel Flávio Peregrino, assessor do general Walter Braga Netto, redigiu mensagens em seu telefone celular expondo atritos dentro do PL entre o general e um irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O conteúdo do celular de Peregrino foi extraído pela Polícia Federal após ter realizado busca e apreensão contra ele, em dezembro do ano passado. O Estadão revelou na segunda-feira, 11, que o coronel fez anotações sobre as articulações golpistas e escreveu que Jair Bolsonaro “sempre” teve a intenção de permanecer no governo mesmo após a derrota.

Para o coronel, esse irmão da ex-primeira-dama, Eduardo Torres, que foi candidato a deputado distrital pelo PL, “usava o nome de Jair Bolsonaro e de Michelle” para vender influência dentro do partido e intermediar encontros com o ex-presidente. Peregrino escreveu que Braga Netto havia ficado irritado com a situação e classificou de “tráfico de influência” as ações do irmão de Michelle.
Procurado, Eduardo Torres não retornou aos contatos feitos pela reportagem. A defesa do coronel Flávio Peregrino afirmou que as mensagens “são discussões internas, a nível de assessoramento, de assuntos funcionais e profissionais corriqueiros que sempre foram tratados, com quem de direito e interessado, de forma transparente, com base em dados e fatos e com a observância da educação e da ética, que caracterizam as pessoas envolvidas e citadas na reportagem”. Disse ainda que ele não apontou nenhuma suspeição ou irregularidade na atuação do irmaõ de Michelle Bolsonaro (leia a íntegra da manifestação ao final da reportagem). A defesa de Braga Netto não quis comentar.
Nas anotações, o coronel Flávio Peregrino citou a suspeita de que Eduardo Torres usava o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro para a obtenção de recursos financeiros, sem explicar de que forma isso ocorria.
Com o apoio de Michelle, Eduardo Torres tem ganhado espaço no partido e já prepara uma nova candidatura para 2026.
Em uma das anotações sobre o irmão de Michelle, Peregrino escreveu que Braga Netto, citado pela sigla W, e Nabhan Garcia estavam irritados com a situação.
“O Eduardo Torres (irmão da Michelle) não tem nem cargo no PL, mas faz um lobby e usa o nome do B e da MB para ter influência e angariar apoio ($$). Por isso, o W e Nabhan estavam putos com esse tráfico de influência nas agendas e nas viagens em SP. Ele é ‘zé bombinha’ (fotógrafo e cinegrafista) mas vende que tem poder de influência”, anotou Peregrino, em mensagem enviada a si próprio pelo WhatsApp no dia 14 de junho de 2024.

Em seguida, Peregrino citou que seu nome foi envolvido na confusão para desviarem o foco do problema e demonstrou preocupação pelo assunto ter chegado ao conhecimento de Michelle. As anotações também indicam que o assunto foi levado ao conhecimento do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, mas não há registro da resposta dele sobre o tema.
O coronel não deu mais detalhes sobre as ações realizadas por Eduardo Torres.
Demissão do PL
As mensagens também mostram que Peregrino tentou angariar apoio político para manter seu contrato e do general Braga Netto com o PL.
Após a derrota na disputa eleitoral, Braga Netto foi nomeado secretário de Relações Institucionais do partido. Em fevereiro de 2024, quando foi alvo da operação da Polícia Federal que apurava a tentativa de golpe, ele teve seu salário suspenso.
Em uma das mensagens, Peregrino apresentou uma lista de pessoas que eles deveriam procurar para obter apoio com o objetivo de continuar no partido. Uma delas era a ex-primeira dama Michelle, considerada influente na legenda. “Situação no PL. (…) Alguém ligou para VCN [Valdemar Costa Neto] dizendo que era para dispensar toda a equipe”, diz um dos trechos da anotação. “Buscar apoio: sen FB [senador Flávio Bolsonaro] (tudo que foi feito na campanha), sen Rogério M [Marinho], Gilson Machado, D. Michelle”. As articulações, porém, não surtiram efeito e eles acabaram sendo afastados da legenda.
Leia a íntegra da manifestação da defesa do coronel Flávio Peregrino:
“A Defesa Técnica de Flávio Peregrino reitera a indignação com mais um vazamento seletivo de informações pessoais e constantes de inquérito sigiloso, com o intuito de tirar o foco do momento que se vivenciam denúncias de toda a ordem sobre episódios da vida nacional nestes últimos anos.
As mensagens “obtidas” pela reportagem são discussões internas, a nível de assessoramento, de assuntos funcionais e profissionais corriqueiros que sempre foram tratados, com quem de direito e interessado, de forma transparente, com base em dados e fatos e com a observância da educação e da ética, que caracterizam as pessoas envolvidas e citadas na reportagem.
Cabe esclarecer que nenhuma das observações mencionadas de “pedido de apoio” ou “tráfico de influência” se referem a alguma suspeição e, muito menos, que houve algum tipo de irregularidade ou a realização de atividades escusas. Basicamente, tratou-se de pontos de vista distintos para tentar chegar a soluções de crescimento e fortalecimento das atividades partidárias e de apoio às lideranças.
Nitidamente a matéria é tendenciosa, e poderia estar em um blog de fofocas, tudo para criar ruídos e desavenças em grupos que sempre foram e serão leais ao Presidente Bolsonaro e ao projeto conservador no Brasil
Luís Henrique Prata, advogado do coronel Flávio Peregrino”