Crise de hospedagem em Belém afeta presença de CEOs na COP-30, diz líder de iniciativa empresarial
Ricardo Mussa, ex-executivo da Raízen e da Cosan Investimentos, e atualmente presidente da SB COP, braço empresarial da conferência do clima, afirmou que CEOs de grandes multinacionais deixarão de vir ao Brasil por causa da crise logística em Belém (PA).
Responsável por engajar o setor privado, Mussa afirmou que enxerga o governo atrás de soluções, mas diz que ficou difícil motivar grandes executivos a visitarem a Amazônia e participarem da COP-30. “Atrapalhou”, afirmou. “A gente teve, sim, perdas no setor privado, alguns CEOs falaram que não vêm.”
‘Não vou ficar dourando a pílula’
Mussa evitou declinar quais CEOs faltarão à conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, mas deixou claro ter indicativos de que haverá defecções e que os executivos locais de multinacionais não querem expor os chefes a risco. Segundo ele, as grandes empresas requerem planejamento e antecedência para viagens de seus líderes globais.
“Não vou ficar dourando a pílula. O problema está sendo resolvido, sim, mas de forma muito tardia, poderia ter sido feito antes”, disse Mussa, em conversa nessa terça-feira, 12, na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Acho gente vai perder um pouco de senioridade, sim, vai cair um pouco o número de CEOs que virão, efetivamente”.
O diagnóstico foi endossado por Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e da Jornada COP+: “Realmente atrapalhou. As ações tendem a trazer para a racionalidade a prática de preços. Acho que foi um pouco tardio”.

Mussa afirmou que nunca houve nas COPs uma abertura tão grande para participação do setor privado e disse que vai sugerir a continuidade do SB COP aos futuros organizadores do evento. Ele aposta na Austrália como país sede em 2026, apesar da disputa com a Turquia.
A sigla é uma referência à Sustainable Business (SB) COP, um grupo formado por empresas para discutir a questão do clima, similar ao B-20 que foi organizado durante as atividades do G-20 no Brasil, em 2024. O grupo calcula que 84% das emissões de gases estufa vêm do setor privado.
Segundo seus cálculos, as entidades sindicais já envolvidas representam 31 milhões de empresas ao redor do mundo. A SB COP definiu oito eixos temáticos e vai entregar três recomendações de cada um ao governo, num total de 24.
Empresários dos EUA participam de atividades
Apesar da decisão de Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris, Mussa afirmou que os empresários norte-americanos participam de atividades na SB COP – não só para entender as discussões como para fazer frente à presença dos chineses – e que usam o slogan “we are still in” (continuamos dentro).
O representante dos EUA é a Câmara Americana de Comércio. O presidente da SB COP diz que os americanos demonstram receio com a linguagem usada nas discussões para não serem “atacados” pelo governo Trump.
“Há um vento contra. O momento que o Brasil está fazendo a COP é um momento ruim. Eu preferia fazer uma COP dois anos atrás, mas hoje é mais difícil. Tem a guerra comercial… Mas o empresário vai estar participando na medida que possível.”