Como na pandemia, Bolsonaro impõe custos evitáveis ao Brasil e Congresso é risco
Sem conseguir escapar do tarifaço de Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta quarta-feira, 14, um plano para minimizar o impacto das taxas na economia brasileira. Parte das medidas espelha a experiência adquirida durante a pandemia de covid, quando o governo também precisou abrir os cofres para amparar empresas e empregados e manter a roda girando. Acesso a crédito subsidiado e adiamento do pagamento de tributos, por exemplo, foram ações adotadas em 2020 que se repetem agora.
Além do socorro estatal, pandemia e tarifaço têm outro ponto em comum: nos dois casos, a sociedade brasileira gasta para cobrir danos de Jair Bolsonaro e sua família. Foi a atuação do ainda deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos que levou Trump a sobretaxar o Brasil com a maior tarifa aplicada por eles a um país, sob o argumento de que o ex-presidente é “perseguido politicamente”.

O Ministério da Fazenda diz que conta do pacote antitarifaço para os cofres públicos, por enquanto, é de cerca de R$ 9,5 bilhões, que serão devidamente excluídos da meta de resultado primário do ano. O custo para a sociedade, na verdade, será maior. Ao conceder linhas de crédito com juros abaixo de mercado, dinheiro do Tesouro Nacional será usado, o que terá impacto também na dívida pública.
Se no tarifaço dá para atribuir esse prejuízo todo aos Bolsonaros, na pandemia, o comportamento errático do então presidente contribuiu para aumentar a quase trilionária cifra dos gastos públicos para fazer frente aos efeitos econômicos do covid – sem entrar no impacto dele sobre o número de mortos. Quem não se lembra de Bolsonaro andando sem máscara, desincentivando lockdowns no momento em que ainda não havia vacina, estimulando tratamentos anticientíficos e, especialmente, não comprando o imunizante tempestivamente.
Outro perigo agora é acontecer o que também ocorreu na pandemia no Congresso: deputados e senadores aumentarem o escopo e a duração das iniciativas de socorro. O primeiro pacote anunciado pelo então ministro da Economia, Paulo Guedes, em 2020, previa desembolsos de cerca de R$ 150 bilhões. Entre 2020 e 2021, os desembolsos chegaram a mais de R$ 650 bilhões. O Perse, programa criado durante a crise sanitária para socorrer o setor de eventos e que foi sendo prorrogado até este ano.
É claro que o coronavírus teve um impacto muito mais profundo para os brasileiros e bem mais abrangente sobre a economia. Mas não se sabe por quanto tempo o tarifaço vai durar, nem se as primeiras medidas serão suficientes – o próprio Lula já disse que é só o começo.
No Congresso, há o risco, por exemplo, de ampliar o Reintegra e expandi-lo para outras empresas não afetadas pela sobretaxa. Os dois meses de diferimento de tributos também parecem ser um prazo “bode na sala”, pronto para ser estendido nas negociações entre Executivo e Legislativo. Resta saber ainda a quantidade de “jabutis” que os parlamentares incluirão na medida provisória durante a tramitação. E quantas “contas Bolsonaro” o Brasil ainda conseguirá pagar.