14 de agosto de 2025
Politica

Empresa investigada por lavar dinheiro de compra de sentenças no STJ deve R$ 767 mil à União

Uma empresa do lobista Andreson Gonçalves que, segundo a Polícia Federal (PF), foi usada para lavar milhões de reais de um esquema criminoso de compra de decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deve R$ 767 mil à União. Documentos da investigação em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) obtidos pela Coluna do Estadão mostram que a Florais Transportes movimentou R$ 146 milhões entre 2014 e 2024. Procurada, a defesa de Andreson Gonçalves não comentou.

Registros da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional apontam que a companhia deve R$ 783 mil à União em tributos previdenciários e R$ 84 mil em multas trabalhistas, totalizando R$ 767 mil. Esses valores constam da Dívida Ativa da União, ou seja, não cabem mais contestações da empresa.

Sediada em Cuiabá, a Florais Transportes tem como único dono Andreson Gonçalves, alvo da PF. Não há sócios. A empresa informou à Receita Federal executar uma ampla gama de tarefas: a principal é transporte rodoviário de carga, mas os serviços incluem locação de aeronaves sem tripulação, serviços de escritório, transporte marítimo e comércio de combustíveis.

Empresa tem papel central no esquema, diz PF

Para a Polícia Federal, a companhia de Andreson tem um papel central no esquema para lavar dinheiro e, assim, ocultar compras de sentenças judiciais no STJ e em outros tribunais. Há repasses milionários identificados para outros integrantes dessa suposta organização, inclusive assessores de ministros do STJ na época, segundo as investigações.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) anexado ao processo mostrou que, de 2014 a 2024, a Florais movimentou R$ 146 milhões: R$ 72,9 milhões de crédito e R$ 73,2 milhões de débito, o que foi considerado atípico pelo órgão. Além da PF, a Procuradoria-Geral da República citou essas movimentações.

Apontado como lobista do esquema, Andreson ficou preso por oito meses e foi solto no último dia 17 pelo ministro Cristiano Zanin, relator do caso no STF. A defesa de Andreson alegou problemas graves de saúde do investigado. Ele usa tornozeleira eletrônica.

Ao mandar prender Andreson, Zanin escreveu que o lobista tinha função “decisiva no verdadeiro comércio de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça”.

O empresário Andreson Gonçalves, preso nesta terça, 26
O empresário Andreson Gonçalves, preso nesta terça, 26

Investigação começou com assassinato de advogado

O processo que tramita no STF teve um começo inusitado: a investigação do assassinato a tiros de um advogado em Cuiabá, Roberto Zampieri, no fim de 2023. O celular do defensor não foi levado pelos assassinos.

No aparelho, o Ministério Público de Mato Grosso detectou diálogos com desembargadores e enviou o material ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Antes disso, um juiz estadual tentou obter as informações do aparelho, sem sucesso.

O CNJ identificou suspeitas de que Zampieri era próximo de um lobista de Brasília que dizia influenciar decisões de ministros do STJ. Nas trocas de mensagens, Andreson compartilhava minutas de decisões antecipadas dos ministros e dizia fazer pagamentos a assessores dos magistrados em contrapartida.

PF apura vínculos de outro empresário com ministros do STJ

Como mostrou o Estadão, outra frente de investigações do caso apura vínculos de mais um empresário investigado, Haroldo Augusto Filho, com ao menos dois ministros do STJ: João Otávio de Noronha, ex-presidente da Corte, e Marco Buzzi. Os magistrados não são formalmente investigados até o momento.

Uma das descobertas foi que o ministro João Otávio de Noronha, ex-presidente do tribunal, usou uma aeronave privada disponibilizada pelo empresário para viajar de Brasília a Cuiabá, em abril de 2024. A viagem foi para participar de um evento jurídico organizado pela seccional de Mato Grosso da OAB e patrocinado pela Fource, empresa de Haroldo Augusto.

A PF também identificou diálogos entre Haroldo e a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro Marco Buzzi. O ministro também participou de eventos jurídicos em Cuiabá patrocinados pela Fource. No dia de um desses eventos, Haroldo conversou com um interlocutor sobre a organização de jantar para um ministro. Apesar de não citar o nome de Buzzi, o empresário afirmou na conversa ser amigo da filha do magistrado.

 

 

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