PF achou fortuna e elo com prefeito de São Bernardo em bunker de operador de propinas
Uma coincidência colocou o prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Marcelo Lima (Podemos), na mira da Polícia Federal por suspeita de corrupção. Ele foi afastado do cargo nesta quinta-feira, 14, na Operação Estafeta.
Policiais federais tinham um mandado de prisão preventiva para cumprir em outro inquérito, sem relação com o prefeito. O alvo era João Paulo Prestes Silveira, investigado por golpes na internet. E o endereço obtido em bancos de dados oficiais era a Avenida Dom Jaime de Barros Câmara, no noroeste da cidade. Funcionários confirmaram que o imóvel pertencia a Paulo.
Os federais montaram campana e abordaram o carro do morador no estacionamento do condomínio. Descobriram que o Paulo não era o mesmo que procuravam. O dono do imóvel era na verdade Paulo Iran Paulino Costa. No apartamento, em um escritório trancado, os agentes encontraram uma fortuna – R$ 14 milhões em espécie, entre reais e dólares. A PF classificou o imóvel como um “verdadeiro bunker” de dinheiro.

Os policiais federais também encontraram no endereço comprovantes de pagamento de despesas pessoais do prefeito e da família dele, como faturas do cartão de crédito e contas telefônicas. Havia ainda crachás de veículos para acesso à sede da prefeitura.
Paulo Iran Paulino Costa vem sendo apontado como operador financeiro de propinas ao prefeito. Para os investigadores, Marcelo é o verdadeiro dono dos milhões que estavam no apartamento.
Paulo é descrito na investigação como “um agente central na arrecadação e distribuição de valores provenientes de diversas empresas que possuem contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo”. Oficialmente, ele trabalha como servidor comissionado no gabinete do deputado estadual Rodrigo Moraes (PL). O Estadão pediu manifestação da defesa do operador. O espaço está aberto.

No celular dele havia conversas com o prefeito desde julho de 2022. Marcelo mandava mensagens como: “vai guardando”, “anote tudo para o posterior acerto”, “encaminhe a lista do que tem para entrar para mim”. A contabilidade era registrada em planilhas manuscritas.
A Polícia Federal afirma que a relação entre eles era de “subordinação financeira, com Marcelo solicitando pagamentos e Paulo Iran os executando”, sempre com “vigilância estrita sobre os valores“.
Até despesas com viagens, faculdade da filha do prefeito e personal na academia era Paulo quem pagava, de acordo com a investigação. A PF encontrou anotações: “3.430,00 boleto”, “39.445,00 apto”, “5.000,00 personal” e “5.880,00 Zana”. Zana, segundo a Polícia Federal, é Rosângela dos Santos Lima Fernandes, a primeira-dama.
Dois celulares foram apreendidos com Paulo. Os diálogos que ele mantinha eram cifrados. Os investigadores afirmam que “americanos” era a senha para dólares, “figurinha” para pagamentos em dinheiro e “quilos” para altas quantias.

O dinheiro seria desviado de contratos da prefeitura, em áreas como obras, saúde e limpeza urbana, com a participação de secretários municipais e vereadores, segundo a investigação.
O desembargador Roberto Porto, do Tribunal de Justiça de São Paulo, decretou a prisão de Paulo. A Polícia Federal chegou a pedir a prisão do prefeito, mas o Ministério Público foi contra e a Justiça de São Paulo negou. Além do afastamento, Marcelo Lima terá que usar tornozeleira eletrônica e é obrigado a ficar em casa à noite e nos finais de semana.