‘Tudo entra na tua conta agora’; leia mensagens do prefeito de São Bernardo com operador
Além do prefeito de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Marcelo Lima (Podemos), afastado do cargo nesta quinta-feira, 14, outros políticos conhecidos na cidade estão na mira da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo por suspeita de corrupção. Eles trocaram mensagens com um personagem chave da investigação: Paulo Iran Paulino Costa. Pivô do inquérito, Costa é apontado como operador financeiro de propinas milionárias para o prefeito e seus aliados.
Constam no rol de investigados o secretário municipal de Coordenação Governamental Fábio Augusto do Prado; o ex-secretário de Administração Paulo Sérgio Guidetti, nome forte do PP em São Bernardo; o vereador Danilo Lima Ramos (Podemos); o suplente de vereador Ary José de Oliveira (PRTB); além de servidores públicos. Eles também foram afastados das funções na prefeitura e na Câmara Municipal por ordem judicial.
O Estadão busca contato com as defesas. O criminalista Fernando Araneo, que defende Paulo Iran Paulino Costa, informou que vai se se manifestar depois que tiver acesso ao processo.
‘Consegue fazer esse Pix para mim?’
O prefeito enviou mensagens como: “tudo entra na tua conta agora”, “vai guardando”, “anote tudo para posterior acerto”, “vai controlando lá no documento, no papel, a gente resolve depois”, “manda aquela lista do que tem para entrar para mim”, “a conta de água você já pagou?”, “consegue fazer esse Pix para mim?, “mande 5 para a Zana”. Zana, de acordo com a Polícia Federal, é Rosângela dos Santos Lima Fernandes, a primeira-dama.
Segundo a investigação, o operador era responsável por receber propinas pagas por empresários em troca de vultuosos contratos com a administração municipal e usava o dinheiro para pagar gastos pessoais de Marcelo Lima e de sua família. Desde a faculdade de Medicina da filha do prefeito até viagens, contas da casa e faturas do cartão de crédito.
“Mais do que um mero intermediário, ele organiza, controla e efetua o pagamento de diversas despesas pessoais do prefeito”, apontou a Polícia Federal na representação da Operação Estafeta, que levou ao afastamento de Lima.
Em uma das conversas, o prefeito questiona se o ex-secretário Paulo Sérgio Guidetti “não chegou nesse mês” e orienta o operador a “dar uma de bobo” e perguntar “se tem alguma coisa nova”. Essa seria uma alusão à cobrança de dinheiro, segundo a Polícia Federal. Horas depois, Costa informa que pegou o dinheiro: “Acabei de pegar. Ele disse pra conferir. Provavelmente veio os 150″. Marcelo Lima pede: “50 Márcio, o resto guarda”.










O secretário Fábio Augusto do Prado também trocou mensagens com o operador. Em um dos diálogos, em agosto de 2024, Costa afirma que pediu para trocar “os americanos”, o que seria uma senha para dólares. O secretário responde que “começou a dar uma apertadinha” e cobra: “Fora isso tem mais alguma programação para hoje?”
No mesmo período, o operador afirma ter recebido “uma sacola do tamanho do mundo, com 10k dentro”. Os dois conversam sobre outros pagamentos, entregas de dinheiro e divisão dos valores.
A Polícia Federal afirma que o secretário age como “facilitador e operador na circulação de valores ilícitos, com métodos de comunicação velados e estratégias de dissimulação para movimentar grandes volumes de dinheiro, frequentemente sob a direta determinação do prefeito”.
O vereador Danilo Lima Ramos troca mensagens semelhantes com o operador. Em junho de 2024, Costa pergunta: “Seu negócio que peguei, entrego para quem?”, “Eu tô com 50 aqui, que era o seu mesmo, né?”.
Dias depois, os dois conversam sobre uma nova entrega de dinheiro: “Seu eu precisar de alguma coisa pro Marcelo você consegue? Para adiantar uma coisas aqui. 200″, questiona Costa. “Em dez dias no máximo está devolvido”.
No mês seguinte, o operador faz um novo pedido: “Acho que ele vai precisar de dinheiro hein. 60. Ele falou para entregar na adega”. O vereador oferece “100″ – R$ 100 mil, segundo a PF.
O suplente de vereador Ary José de Oliveira é citado nos diálogos do operador com o prefeito e com o secretário, sempre associado a pagamentos. “Ary até agora 3×50″, “80 Ary”, “Ary ok, 10k em notas de 20, 20 em notas de 50″.
Segundo a Polícia Federal, as conversas sugerem que ele era “um beneficiário ou parte envolvida em fluxos de dinheiro que estavam sob o controle e determinação” do prefeito.
Policiais federais cumpriram nesta quinta-feira, 14, dois mandados de prisão preventiva e 20 mandados de busca e apreensão para aprofundar a investigação. Em três endereços, foram apreendidas grandes quantias de dinheiro. A contagem não foi finalizada pela PF, mas há mais de R$ 2 milhões.
COM A PALAVRA, A DEFESA DE PAULO IRAN PAULINO COSTA
O criminalista Fernando Araneo informou que assim que tiver acesso aos autos irá se manifestar em defesa de Paulo Iran Paulino Costa.
COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE SÃO BERNARDO
“A Prefeitura de São Bernardo informa que irá colaborar com todas as informações necessárias em relação ao caso. A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade.”
COM A PALAVRA, AS DEMAIS DEFESAS
O Estadão busca contato com as demais defesas. O espaço está aberto para manifestação (rayssa.motta@estadao.com; fausto.macedo@estadao.com).