Perillo diz que ideal seria PSDB ter candidato, mas não vê dificuldades em apoiar Tarcísio; assista
BRASÍLIA – O presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, defendeu, em entrevista ao programa Papo com Editor, do Estadão/Broadcast, que o Brasil não pode “cair na armadilha” de eleger para a Presidência em 2026 um candidato comprometido com “outras pessoas”, incluindo as que querem se igualar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Embora tenha enfatizado que o ideal seria o PSDB ter candidato, ele afirmou não ver dificuldades para endossar a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo.
“Não vejo esse tipo de dificuldade. Até porque o nosso antagonista, ao longo da história, desde a nossa fundação, foi o PT”, afirmou.
Tarcísio é um dos cotados a receber o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Trump. Porém, até o momento tem afirmado que pretende disputar a reeleição ao governo de São Paulo.

Marconi Perillo reforçou que o importante é que aquele que pretenda comandar o País deve ser autêntico na eleição e depois ao comandar o País, pensando no Brasil.
“Não podemos cair na armadilha de eleger alguém comprometido com pessoas, com interesses pessoais: ‘Vou guinar o partido à extrema-direita, vou fazer um governo como se fosse a reencarnação do Trump no Brasil’. Não dá. Precisamos ter alguém que seja ele na eleição e depois no governo”, declarou Perillo, que já foi governador de Goiás e comanda o PSDB desde 2023.
Perillo disse que tem simpatia pelos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), e do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e que o fator determinante será a capacidade de entregar promessas e dialogar.
“Dos que estão fora do PSDB, gosto muito do Eduardo Leite; gosto muito do Ratinho Jr., é um governador que faz entregas; e o Tarcísio é um governador qualificado que pode enfrentar essa missão”, afirmou.
Perillo defendeu também uma candidatura do ex-presidente Michel Temer (MDB): “Não é pré-candidato, ninguém fala no nome dele, mas o MDB tem história, e ele fez um governo de entregas. Colocaria-o na lista de prioridades.”
O tucano reforçou as críticas ao governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que também tem manifestado interesse na disputa e é adversário político de Perillo.
“Caiado levaria o Brasil para uma guinada de extremo radicalismo à direita e a uma política de muito ódio e de muita perseguição. Nem o coloco na lista, porque temos que ter governantes que possam dialogar”, declarou.
Candidato próprio se surgir bom nome
Na entrevista, Marconi Perillo ponderou que o partido pretende lançar um candidato próprio à Presidência em 2026 caso haja um “bom nome”. Segundo o tucano, esse nome ainda não existe.
“Já fomos coadjuvantes na eleição de 2022. Não gostei dessa coadjuvância. O ideal é que a gente tenha candidato a presidente. […] Se tivermos um nome até lá [2026] a presidente, teremos candidato”, declarou Perillo, que já foi governador de Goiás e que ocupa o comando do PSDB desde 2023.
Perillo disse, no entanto, que “precisaria ser um nome à altura” e que essa pessoa ainda não apareceu. Também lamentou a decisão do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, de trocar o tucanato pelo PSD.
“Não temos ainda. Tínhamos um candidato natural, que era o Eduardo Leite, que deixou o partido por razões que ele nos explicou. Lamento, porque achava que ele teria a legenda e o espaço para se candidatar”, falou.
Ciro Gomes está encaminhado no PSDB
Segundo Marconi Perillo, a filiação do ex-governador do Ceará Ciro Gomes ao partido, hoje no PDT, está encaminhada e que ele ficou de dar um retorno ainda neste mês. O assunto teria sido tratado em uma reunião intermediada pelo ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e que contou com a presença do deputado Aécio Neves (PSDB-MG).
“Foi uma conversa muito boa, muito tranquila. E eles ficaram de voltar a conversar com pessoas lá do Ceará, líderes do Ceará, para nos retornar agora, em meados de agosto. Acho que está bem encaminhado, está bem conversado”, declarou Perillo.

Perguntado se, em caso de filiação, há um acordo para Ciro ser o nome do PSDB à Presidência no ano que vem, Perillo afirmou não haver definição.
“Não tratamos disso em nenhum momento, mas estou tranquilo. Ele disse claramente que estava pensando em não voltar para a política, estava desanimado. Com essas conversas, ele voltou a se animar e disse que, se voltar, volta como soldado, pronto para tudo”, declarou.
Foco nos governos estaduais e no Congresso
O presidente do PSDB afirmou que o partido terá como foco em 2026 aumentar o número de governadores e de deputados e senadores, neste último caso para ampliar o tempo de TV e retomar um “protagonismo maior”. Atualmente, a sigla conta com apenas um governador, Eduardo Riedel (MS), além de 14 deputados e 3 senadores.
“Tomamos a decisão de focar em dobrar pelo menos a bancada, o que não é um esforço tão grande, e focar alguns governos estaduais, 4 ou 5, além de fazer um número razoável de senadores que nos garanta bancada no Senado. Essa é a estratégia. Se tivermos como lançar a candidatura a presidente, que é o ideal, vamos fazer também”, falou.
PSDB chegou ao fundo do poço, mas pior já passou
Marconi Perillo também afirmou na entrevista que o partido chegou ao fundo do poço em 2022, mas que o pior já passou e que a sigla foca um ressurgimento, mesmo com as recentes saídas de nomes como os dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de Pernambuco, Raquel Lyra, que se filiaram ao PSD.
“Em política, segundo alguns especialistas experientes, é o único lugar onde o fundo do poço tem mola. Então, acho que a gente já está experimentando esse momento”, declarou Perillo.
Perillo disse que o foco do partido será impulsionar candidaturas a governos estaduais, reforçar a bancada no Congresso e aumentar o tempo de televisão para que, a partir de 2026, a sigla volte a ter um “protagonismo maior”.
PSDB interrompeu conversas de fusão
O tucano disse que o PSDB interrompeu as negociações de fusão, depois da tentativa frustrada de junção com o Podemos.
“Não deu certo, porque todo mundo queria incorporar o PSDB, engolir o PSDB, com isso, o partido desapareceria. O PSDB é muito caro para nós tucanos e para parte da sociedade. Tomamos uma decisão de parar por um tempo com esse tipo de discussão. Não está à vista nenhum tipo de fusão ou incorporação”, falou.
O tucano disse, porém, não descartar federações com outros partidos, o que fortaleceria a atuação no Congresso: “Se der ótimo, senão, vamos trabalhar solo”.
Tucano defende conversa com Trump: ‘todo mundo tem culpa no cartório
Marconi Perillo também afirmou considerar insuficiente o valor de R$ 30 bilhões que será destinado ao plano de socorro às empresas afetadas pelo tarifaço dos Estados Unidos.“É pouco. Pelo tamanho das perdas, pelo tamanho do problema, do buraco, imagino que R$ 30 bilhões seja o número razoável, mas insuficiente”, disse.
O tucano disse que “todo mundo tem culpa no cartório” na crise com os Estados Unidos e que o Brasil deve focar o diálogo com o governo de Donald Trump. Ele afirmou, no entanto, que o tarifaço é “algo nefasto”.
“É um desastre, é a negação da política extrema, a negação do compromisso com o Brasil, é inimaginável que viesse a ocorrer no Brasil. O tarifaço foi o que há de mais nefasto.”
‘Há divisão no PSDB sobre Moraes’
Perillo afirmou que há uma divisão no PSDB sobre a atuação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O tucano disse, no entanto, não apoiar nem se opor aos pedidos de impeachment contra o magistrado.
“O PSDB é dividido. No Senado, por exemplo, dois ou três senadores subscreveram o pedido de impeachment de Moraes. Na Câmara, há divisão em relação a isso”, declarou.

Perillo afirmou ver “exageros” em algumas punições a presos do 8 de Janeiro e afirmou ser necessário que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não siga critérios políticos.“
O que tem que acontecer no Brasil é o rigoroso cumprimento da Constituição, mas dentro do aspecto da ampla defesa, e não com base na questão política. Não dá para condenar ou absolver alguém com base na política”, afirmou.