Advogado da Rumble enviou petição a Bolsonaro no mesmo dia em que atuou contra Moraes; PF vê desvio
O advogado norte-americano Martin de Luca, que representa a Trump Media e a plataforma Rumble em ações movidas contra o ministro Alexandre de Moraes nos Estados Unidos, manteve contato direto com Jair Bolsonaro (PL) por meio de mensagens de WhatsApp. Para a Polícia Federal (PF), a relação entre eles indica uma atuação coordenada contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e caracteriza desvio de finalidade nas ações judiciais abertas contra Moraes em solo americano.
No mesmo dia em que protocolou um documento na Justiça da Flórida contra o ministro, de Luca encaminhou cópias da peça ao ex-presidente. Esse material foi posteriormente apreendido pela PF na casa de Bolsonaro, em Brasília. Além de articular entrevistas do ex-presidente a veículos norte-americanos, o advogado chegou a editar uma nota escrita por Bolsonaro na qual ele elogiava o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

As mensagens trocadas entre Bolsonaro e de Luca foram reveladas em relatório da PF divulgado nesta quarta-feira, 20, no âmbito do inquérito que apura a atuação do ex-presidente e de seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em articulações contra o Brasil nos EUA.
“O contexto probatório identificado demonstra um cenário de ações previamente ajustadas entre o investigado JAIR BOLSONARO e o representante judicial da empresa RUMBLE, MARTIN DE LUCA. Nesse sentido, a circunstância fática de encaminhamento ao ex-presidente de petição subscrita pelo representante da empresa RUMBLE na mesma data de apresentação à justiça americana (14.07.2025), constitui indício relevante que evidencia desvio quanto a real finalidade das pretensões deduzidas pela empresa em face de litigância contra ministro do Supremo Tribunal Federal”, afirmou à PF.
No documento, os federais traçam uma linha do tempo das movimentações de de Luca, sócio do escritório Boies Schiller Flexner. Em fevereiro de 2025, ele ganhou notoriedade no Brasil ao representar a Trump Media, empresa ligada a Trump, e a Rumble em ações na Justiça americana contra Moraes, sob a alegação de censura e violação de tratados internacionais.
Foi nesse período que o advogado também criou seu perfil na plataforma X (antigo Twitter). Uma de suas primeiras postagens teve como alvo Moraes. Ele compartilhou um conteúdo do perfil @MarioNawfal que sugeria que o ministro teria transferido ativos financeiros dos EUA, possivelmente para protegê-los de processos judiciais naquele país. Nas redes, de Luca também compartilhou publicações de Eduardo contra o ministro.
Em 13 de julho, Bolsonaro e o advogado trocaram mensagens pelo WhatsApp, mas uma delas, enviada por de Luca, foi apagada e não pôde ser recuperada pela PF. No dia seguinte, o advogado encaminhou dois documentos ao ex-presidente, incluindo a íntegra de uma petição suplementar apresentada pela Rumble em ação contra Moraes, exatamente no mesmo dia em que a peça foi protocolada na Justiça americana.
Para a PF, o contexto das trocas de mensagens entre Bolsonaro e de Luca indica ações coordenadas, voltadas à divulgação de narrativas alinhadas, com o objetivo de intensificar ataques ao Supremo, especialmente ao ministro Alexandre de Moraes. A intenção seria atingir a jurisdição brasileira, deslegitimando o Poder Judiciário e comprometendo decisões que contrariem interesses comuns ao ex-presidente e à plataforma Rumble.