Eduardo xinga Bolsonaro, chama pai de ingrato e reclama de apoio a Tarcísio, mostra relatório da PF
Mensagens obtidas pela Polícia Federal no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mostram o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) xingando o pai e criticando gestos feitos por Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na visão de Eduardo, as declarações de Bolsonaro em apoio a Tarcísio poderiam atrapalhar o trabalho feito por ele e pelo comunicador Paulo Figueiredo perante o governo Donald Trump para sancionar autoridades brasileiras na tentativa de salvar o ex-presidente de uma eventual condenação por tentativa de golpe.
As mensagens constam do relatório final em que a PF indicia Bolsonaro e Eduardo por coação para impedir o julgamento da ação do golpe. Tarcísio é cotado para ser indicado como sucessor de Bolsonaro na eleição de 2026, mas o filho do ex-presidente também quer a benção do pai para se candidatar.
O governador de São Paulo foi procurado por meio da assessoria de imprensa, mas não havia se manifestado até a publicação deste texto.
Em uma das mensagens mais fortes, Eduardo escreve a Bolsonaro no dia 15 de julho: “Eu ia deixar de lado a histório [sic] do Tarcísio, mas graças aos elogios que você fez a mim no Poder 360 estou pensando em dar uma porrada nele, para ver se vc aprender. VTNC SEU INGRATO DO C……”.
Na entrevista citada, Bolsonaro diz que falou com o filho para interromper os ataques a Tarcísio, mas que apesar de Eduardo ter 40 anos “ele não é tão maduro, talhado para a política”.
“Me f…… aqui! Vc ainda te ajuda a se f…. aí! Se o IMATURO do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se f…. é vc e VAI DECRETAR O RESTO DA MINHA NESTA P…. AQUI. TENHA RESPONSABILIDADE!”, continua Eduardo Bolsonaro.

Horas depois, já na madrugada do dia 16, o deputado federal pede desculpas ao pai. “Desculpa. Peguei pesado. Estava p… na hora”, diz ele na mensagem enviada a Bolsonaro.
No dia 24 de junho, Bolsonaro manda uma notícia de uma pesquisa eleitoral para Eduardo Bolsonaro. O levantamento aponta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perderia para o próprio Bolsonaro, Tarcísio e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. “Você perde para o molusco. Vagão 39,1 x 41,6 Lula”, escreve o ex-presidente para o filho.
Eduardo responde com ironia minutos depois. “Nofa! Acho melhor eu ficar de fora mesmo! Tarcísio vai levar a frente suas bandeiras, inclusive demitindo secretárias ligadas ao PSOL e etc. E ele dialoga muito bem. Vai anistiar geral e o STF, que sempre foi aliado nosso, não será óbice. E imagino o TF [Tarcísio de Freitas] falando com Trump sobre China. Sabe que vai cair tudo na sua conta, né? Futuro dos seus netos é falar inglês mesmo.”
No dia seguinte, Eduardo diz que a narrativa de que já há acordo para Tarcísio suceder Bolsonaro está “muito forte”. “Precisamos segurar isso para nos mantermos vivos aqui”.
A Polícia Federal também cita uma conversa entre os dois no dia 11 de julho, quando o governador de São Paulo foi a Brasília almoçar com Bolsonaro e se reunir com o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar.
Bolsonaro avisa a Eduardo que está presencialmente com Tarcísio. “Avise-o. Se quiser acessar a Casa Branca ele não conseguirá. Só eu e o Paulo Figueiredo temos acesso”, responde o deputado federal.
Segundo o relatório da PF, as mensagens mostram a preocupação de Eduardo em se colocar como o único interlocutor do governo dos Estados Unidos “como forma de garantir o êxito das ações criminosas de coação às autoridades brasileiras”.
Na visão dos investigadores, a participação de outras autoridades brasileiras, “visando solucionar apenas as divergências econômicas, de interesse da sociedade brasileira, poderia frustrar as reais intenções dos investigados”.